No final do século XVI e início do século XVII, Deus deu aos cristãos da América, e de todo o mundo, um belo exemplo de santidade por meio da Santa cuja festa é hoje comemorada pela Igreja Católica. Sua terra natal era Lima, capital do Peru. Chamava-se Isabel, mas ainda no berço recebeu o apelido de Rosa, pela beleza e amabilidade de seu rosto. Por ordem da Santíssima Virgem, tomou o sobrenome de Santa Maria, e sua conduta era irrepreensível desde a infância.
Depois de ler sobre a vida de Santa Catarina de Sena, quis seguir o exemplo dela, razão pela qual entrou na Ordem Terceira de São Domingos. Aos cinco anos de idade, consagrou sua virgindade a Deus e foi uma serva tão perfeita do Senhor que, durante toda a sua vida, jamais o ofendeu com um único pecado mortal, e nem mesmo intencionalmente com um venial. Rosa dividia o tempo entre a oração e o trabalho: dedicava doze horas aos exercícios de piedade, duas ou três ao sono e o restante aos afazeres diários.
Quando chegou à idade adulta, vários homens pediram a bela moça em casamento, mas ela sempre respondeu, sem hesitar, que já estava prometida a um esposo celestial. Para que seus pais não a incitassem mais ao matrimônio, ela mesma cortou os cabelos, como sinal de sua consagração a Deus.
Rosa tratava seu inocente corpo com extrema severidade. Desde pequena, abstinha-se de frutas, que em seu país são tão deliciosas. Seus jejuns e abstinências eram sobre-humanos, pois, com apenas seis anos de idade, alimentava-se quase exclusivamente de água e pão. Aos quinze, fez um voto de nunca comer carne, exceto quando obrigada por obediência. Nem mesmo quando estava doente ingeria alimentos de melhor qualidade. Por vezes, durante cinco ou oito dias, não comia nada, vivendo apenas do pão dos anjos. Durante toda a Quaresma, comia apenas cinco sementes de cidra por dia. Ainda que isto possa parecer inacreditável ao leitor, trata-se de um fato relatado por uma autoridade inquestionável.
Para dormir, Rosa usava uma tábua tosca ou alguns pedaços de madeira com nós. Seu travesseiro era um saco cheio de juncos ou pedras. Todas as noites, açoitava seu corpo com duas pequenas correntes de ferro, em memória da dolorosa flagelação do nosso Salvador e em oferecimento pela conversão dos pecadores. Quando, porém, seu confessor a proibiu de fazer isso, ela, a exemplo de Santa Catarina de Sena, amarrou três vezes ao redor do corpo uma corrente fina, que em poucas semanas cortou tão profundamente a carne que quase não se podia vê-la. Temendo ser obrigada a revelá-lo, pediu ajuda a Deus e a corrente soltou-se por si mesma.
Mal as feridas tinham sarado, a santa de Lima voltou a usar a corrente, até que seu confessor, ao saber disso, também a proibiu de fazê-lo. Depois, passou a usar um manto penitencial feito de crina de cavalo, que chegava abaixo dos joelhos e lhe causava grande sofrimento. Por baixo do véu, em memória da coroa de espinhos de Nosso Salvador, trazia uma coroa com alfinetes no interior, que lhe feria dolorosamente a cabeça.
Amava a solidão acima de tudo, pois só assim podia dedicar-se mais às suas orações. Tendo em vista este objetivo, pediu autorização aos seus pais para construir uma pequena cela para si num canto do jardim. A cela tinha apenas cinco metros de comprimento e quatro de largura, mas Rosa vivia mais feliz nela do que muitas outras pessoas vivem em palácios reais. Quantas graças recebeu do Céu neste lugar! Quantas visões teve de Santa Catarina de Sena, do seu anjo da guarda, da Santíssima Virgem e até do próprio Cristo!
A santa também foi muitas vezes favorecida com visões em outros lugares. A mais notável foi a que teve no Domingo de Ramos, na capela do Santo Rosário, diante de uma imagem da Santíssima Virgem. Rosa, olhando para a imagem, percebeu que a Virgem Mãe, assim como o divino Menino, olhavam para ela com muita amabilidade e, por fim, ouviu nitidamente dos lábios do Divino Menino as palavras: “Rosa, tu serás minha esposa.” Embora cheia de santo temor, respondeu com as palavras que a Santíssima Virgem dissera ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra.” Depois disto, a Santíssima Virgem disse: “Que possas dar muito valor à graça que o meu Filho te concedeu, querida Rosa!”
Deixo ao piedoso leitor a tarefa de imaginar a alegria inexprimível que tal visão proporcionou a Rosa. Serviu-lhe como um poderosíssimo incentivo para a prática de todas as virtudes, dentre as quais não foi certamente a menor a paciência heroica que esta santa virgem demonstrou, tanto nos sofrimentos corporais como nas angústias interiores e espirituais.
O Todo-Poderoso permitiu-lhe que, durante quinze anos, fosse diariamente atormentada, ao menos durante uma hora, pelas mais hediondas imaginações, de tal natureza que, por vezes, julgava estar no meio do inferno. Nestas crises, Rosa não conseguia pensar em Deus, nem nas graças que Ele lhe tinha concedido; nem a oração, nem a leitura devota lhe davam qualquer conforto. Assim, Deus quis provar e purificar sua virtude, como tinha feito com muitos outros santos.
Sua paciência também foi duramente provada por doenças dolorosas, pois às vezes ela tinha uma combinação de duas ou três doenças ao mesmo tempo, o que a fazia sofrer profundamente.
Durante os últimos três anos da vida, Rosa perdeu a mobilidade de quase todos os membros do corpo, mas sua resignação à vontade de Deus era perfeita demais para lhe permitir proferir qualquer tipo de reclamação. A única coisa que desejava e pedia em oração era sofrer ainda mais por amor a Cristo. Ao mesmo tempo, quando estava bem, animava os outros doentes, a quem servia com indescritível bondade. Quando era necessário prepará-los para uma morte feliz, esforçava-se por lhes dar conforto, pois sua maior alegria era falar de Deus e levar os outros até Ele.
Um dia, quando estava muito preocupada com sua salvação, Cristo apareceu e disse-lhe: “Minha filha, só condeno aqueles que não se querem salvar.” Ao mesmo tempo, Nosso Senhor assegurou-lhe, em primeiro lugar, que ela iria para o Céu; em segundo lugar, que nunca perderia sua graça por causa de um pecado mortal; em terceiro lugar, que a assistência divina nunca lhe faltaria em qualquer emergência. Deus revelou-lhe também o dia e a hora de sua morte, que ocorreu quando ela estava com trinta e um anos. Depois de receber os santos sacramentos, pediu a todos os presentes que perdoassem suas faltas e exortou-os a amar a Deus.
Quanto mais se aproximava a hora de sua morte, mais alegre ficava. Pouco antes do fim, entrou em êxtase e logo depois disse ao seu confessor: “Oh! quanto poderia falar-te da doçura de Deus e da bem-aventurada morada celestial do Todo-Poderoso!” Pediu ao irmão que lhe tirasse a almofada que tinha posto debaixo da cabeça, para que morresse sobre as tábuas, como Cristo morrera na cruz. Quando isso foi feito, exclamou três vezes: “Jesus, Jesus, ficai comigo!” e expirou.
Depois de morta, seu rosto tornou-se tão belo, que todos os que a olhavam ficavam maravilhados. Seu funeral foi muito imponente. Os cônegos foram os primeiros a levar o corpo dela até a igreja, depois o senado e, por fim, os superiores das várias ordens, tão grande era a estima que todos tinham por sua santidade. Deus honrou-a, depois de sua morte, com muitos milagres; e Clemente X canonizou-a em 1671, inscrevendo-a no número das santas virgens.
Considerações práticas
I. Você foi capaz de ler sem espanto sobre os diferentes meios que Santa Rosa empregou para causar dor ao seu corpo e se mortificar constantemente? O que acha disso? Vou lhe dizer o que penso. Na vida de quase todos os santos, constatamos que se abstiveram de todos os prazeres mundanos e realizaram penitências voluntárias. Porém, as pessoas da nossa época não querem saber dessas coisas, buscando viver apenas no conforto. E ainda assim acreditam que, evitando todas as mortificações da carne e desfrutando de todos os prazeres do mundo, irão para o mesmo paraíso em que os santos tentaram entrar com tantas austeridades voluntárias.
Portanto, devo concluir que ou os santos agiram com muita insensatez ao serem tão severos consigo mesmos, ou que o mundo de hoje erra ao imaginar que encontrou um caminho mais fácil para a vida eterna. O que acha disso? Quem você seguirá? O mundo ou os santos? É capaz de citar um único que tenha seguido o mundo e que tenha entrado no Reino de Deus? Talvez você tenha a esperança de ser o primeiro. Cuidado, pois essa esperança o enganará.
II. Santa Rosa recebeu de Deus a garantia de que seria salva, de que nunca perderia sua graça nem o auxílio do Céu. Ah! que grandes e inestimáveis favores! Por causa de sua vida santa, a casta virgem fizera-se digna dessas graças, tanto quanto estava ao seu alcance.
Quanto a você, caro leitor, ainda que sua tíbia piedade não possa lhe prometer tais graças, você tem o dever de orar bastante, e com fervor, para que Deus as conceda à sua alma. Portanto, peça a Deus com ardor e constância para que Ele não o condene, mas lhe conceda a vida eterna. Com humildade, peça a Ele que você jamais perca sua graça por causa de um pecado mortal, e que Ele o ajude em todas as suas necessidades. Para obter tais graças, procura se esforçar para levar uma vida cristã. Embora isto não seja uma garantia infalível de salvação, é algo que lhe dá razões para ter a esperança de que não será condenado.
Pense nas palavras de Cristo: “Eu não condeno ninguém que queira salvar-se”. Você pode se perguntar: “Quem não quer salvar-se?” Segundo as palavras, ninguém; mas segundo as obras, muitos, ou seja, todos aqueles que se tornam culpados de pecado mortal e permanecem na iniquidade, adiando por muito tempo a penitência. Se fizermos voluntariamente aquilo que sabemos ser a causa da nossa perdição, podemos dizer, verdadeiramente, que queremos ser condenados. Se não fizermos penitência depois de cometer um pecado, podemos dizer, com razão, que desejamos ser condenados, porque não usamos os meios pelos quais podemos escapar do Inferno.
Examine-se e veja se não faz parte dos infelizes que serão condenados. Se não quiser ser um deles, fuja do pecado; e se o tiver cometido, faça penitência imediatamente. “Sempre que um homem se torna culpado de um pecado mortal, condena a si mesmo à desgraça eterna”, diz São João Crisóstomo.
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