No meio das Montanhas Prenestinas, entre Palestrina e Tivoli, ergue-se um dos santuários marianos mais antigos da Europa: Mentorella, dedicado a Nossa Senhora das Graças.
Na manhã do dia 19 de agosto, o Papa Leão XIV realizou uma visita particular ao santuário, rezando diante da imagem da Virgem das Graças e encontrando-se com os religiosos ressurrecionistas poloneses, guardiões do lugar. [1]
A visita coloca o Santo Padre na senda devocional de seus antecessores, evocando especialmente São João Paulo II, que dizia sentir-se em casa quando estava em Mentorella.
Foi a este santuário, aliás, a primeira saída pastoral de João Paulo fora do Vaticano, a 29 de outubro de 1978, apenas duas semanas depois de sua eleição. Na ocasião, o pontífice polonês escolheu Mentorella como sinal de confiança filial em Maria e lugar de recolhimento espiritual.
Origens lendárias e devoção mariana. — As origens da Mentorella perdem-se na tradição. Uma das lendas mais difundidas fala da conversão de Santo Eustáquio — chamado Plácido antes do Batismo —, um general romano que decidiu tornar-se cristão depois de ver Cristo crucificado entre os chifres de um cervo. Fiel até o martírio, ele e sua família foram executados por ordem do Imperador Adriano. Para recordar esse acontecimento, teria se erguido um santuário no topo da rocha.
Outras tradições atribuem a construção do santuário ao Imperador Constantino, comovido pela história de Santo Eustáquio, ou mesmo a São Bento de Núrsia, que teria escolhido aquela gruta como local de retiro no século VI. O acesso à caverna, estreito e austero, conduz também ao cemitério dos monges, onde uma inscrição avisa: “O que nós fomos, tu és. O que nós somos, tu serás.”
Redescoberta e custódia. — No século XVII, o jesuíta Athanasius Kircher identificou Mentorella como um dos doze mosteiros fundados por São Bento. Ele reconstruiu o santuário e reavivou a devoção à Virgem. Ao morrer, pediu que seu coração repousasse aos pés da imagem mariana.
Após a supressão da Companhia de Jesus, em 1773, o local entrou em decadência até que, em 1857, Pio IX o confiou aos padres ressurrecionistas, que ainda hoje o guardam. Em 1901, a estátua da Virgem foi solenemente coroada pelo Capítulo Vaticano, confirmando a sua importância espiritual.
João Paulo II e Mentorella. — Karol Wojtyła conheceu Mentorella durante o Concílio Vaticano II. No livro de visitas, conserva-se uma primeira assinatura de 1965; desde então, voltou lá todos os anos, acumulando cerca de trinta visitas antes de ser eleito Papa.
Em outubro de 1978, o Cardeal Wojtyła partiu de Mentorella rumo ao conclave que o elegeu sucessor de Pedro. Pouco depois, voltou já como João Paulo II para confiar seu pontificado à Virgem das Graças. Durante seu pontificado, voltou várias vezes ao santuário, quase sempre de modo reservado, alternando a oração com caminhadas pelas montanhas ao redor.
A memória de sua devoção permanece viva: uma sala do mosteiro conserva objetos pessoais do Papa, uma trilha na montanha tem seu nome (Trilha Karol Wojtyła) e, na entrada da igreja, uma estátua de bronze o mostra em atitude de oração.
O próprio João Paulo II resumiu assim a experiência espiritual desse lugar: “Este é um lugar em que, de modo especial, o homem se abre diante de Deus.”
Como testemunham séculos de peregrinações, Mentorella continua a ser um espaço privilegiado para o recolhimento, o reencontro com a Virgem e a renovação da fé. Em seu cume, em meio a rochas, silêncio e oração, os peregrinos aprendem uma vez mais a colocar a vida sob o olhar de Deus.

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