São Joaquim, pai da Santíssima Virgem, era natural de Nazaré, uma pequena cidade da Galileia. Os pais dele, embora ocupassem no mundo uma posição humilde, eram descendentes do santo rei Davi. Não foi sem inspiração [divina] que, em sua circuncisão, recebeu o nome de Joaquim, que significa “preparação para o Senhor”, ou, segundo outras traduções, “preparação para a chegada do Senhor”. Além disso, no entendimento de vários mestres, tal nome indicava que ele teria uma filha a quem prepararia, por meio de uma santa educação, para ser a morada do Redentor do mundo.

“São Joaquim lendo um livro”, por Michaelina Wautier.

Ao chegar à idade adulta, casou-se com Ana, uma virtuosa e casta donzela de Belém, a quem, sem dúvida, Deus dotou de graças especiais, pois a escolhera para ser a mãe da Rainha do Céu. Depois de sua união, Joaquim e Ana continuaram a servir a Deus com grande fidelidade. Reinava na casa deles a mais perfeita caridade e harmonia. Tinham dividido seus bens em três partes: a primeira foi dedicada exclusivamente à honra de Deus e ao adorno do Templo; a segunda, aos pobres; e a terceira, guardaram para si. 

Uma coisa entristecia a vida de Joaquim e Ana: embora já estivessem casados há muitos anos, ainda não tinham sido abençoados com um filho, e a idade avançada os fazia perder a esperança. Na época em que viviam, a esterilidade era considerada por seu povo uma grande desgraça e maldição vinda do Céu, e Joaquim conviveu com essa cruz por muitos anos. Jamais deixou de implorar a Deus com lágrimas, orações e jejuns, que o livrasse dela, mas aparentemente não era ouvido, o que lhe causava grande pesar. Apesar disso, jamais murmurou contra o Onipotente, e, submetendo-se à sua vontade, perseverou na oração. Acredita-se também que ele e sua esposa fizeram um voto de que, se fossem abençoados com um filho, haveriam de consagrá-lo ao serviço de Deus. 

Santo Epifânio conta que, certo dia, enquanto São Joaquim rezava, um anjo apareceu e assegurou-lhe de que Deus ouvira a sua oração e lhe seria dada uma filha, que viria a ser a Mãe do Messias prometido. O anjo também lhe informou o nome que Deus havia destinado a ela. A alegria que tomou conta de São Joaquim ao ouvir esta mensagem foi indescritível. Ele foi logo relatar o fato à sua esposa, que, segundo alguns autores, tinha recebido a mesma revelação. Ambos agradeceram fervorosamente ao Todo-Poderoso e louvaram a sua misericórdia. A profecia do anjo cumpriu-se, e Sant’Ana deu à luz uma filha, que nasceu livre da mancha do pecado original, cheia do Espírito Santo, bendita acima de todas as mulheres e destinada pelo Céu a ser a Mãe do Filho Unigênito de Deus.

“São Joaquim conduzindo a Virgem Menina pela mão”, de Francisco Camilo.

Renovando sua gratidão ao Todo-Poderoso, São Joaquim redobrou o zelo no serviço prestado a Ele. Tendo chegado o tempo prescrito pela Lei, ele e sua santa esposa levaram ao Templo a criança recém-nascida e ofereceram-na com grande devoção a Deus, resgataram-na novamente segundo o costume e retornaram com ela para casa. Ficaram com a filha durante três anos, e depois disso conduziram a delicada criança — que, no entanto, era dotada de pleno uso da razão [i] — para o Templo de Jerusalém, onde, depois de consagrá-la com as cerimônias habituais ao serviço do Todo-Poderoso, entregaram-na aos sacerdotes para ser educada e instruída. Assim São Joaquim cumpriu o seu voto e mostrou como amava verdadeiramente a Deus. Porque, embora o amor por sua filha sem dúvida superasse o que a maioria dos pais tem pelos filhos, ele se despojou do que lhe era mais caro na terra e o consagrou ao Altíssimo. Não há dúvida de que Deus recompensou com grandes graças e favores o amor abnegado de São Joaquim. 

Depois de terem realizado este sacrifício ao Onipotente, Ana e Joaquim viveram muitos anos em profunda santidade.

Acredita-se que São Joaquim tenha morrido aos oitenta anos de idade, mas não há provas disso. Contudo, independentemente do momento em que foi chamado pelo Todo-Poderoso, sua morte deve ter sido preciosa aos olhos de Deus, pois foi precedida por uma vida muito santa. É igualmente certo que a glória de São Joaquim no Céu e sua intercessão junto a Deus são proporcionais ao mérito e à dignidade de ter sido escolhido para ser o pai da Mãe de Deus e, portanto, avô de Jesus Cristo. Aqueles que, na necessidade e na dor, o invocam confiantemente, com certeza descobrirão que ele está sempre pronto a levar as petições dos fiéis ao trono do Altíssimo.          

Considerações práticas

I. São Joaquim vivia com sua santa esposa, Sant’Ana, em contínuo amor e harmonia; usavam os bens terrenos para honrar a Deus, ornamentar o Templo e sustentar os pobres; praticavam juntos a paciência; rezavam juntos e, no Templo, consagraram juntos sua querida filha a Deus. 

Oxalá todas as pessoas casadas seguissem o exemplo deles e, com amor e harmonia, se encorajassem mutuamente a praticar todas as virtudes cristãs. Deus se agrada dos casais que mantêm um bom relacionamento. Mas abomina os cônjuges que discutem entre si, que maltratam, insultam, difamam ou amaldiçoam um ao outro, que impedem o outro de fazer o bem e até mesmo o incitam a praticar atos perversos. E o que ganham com suas brigas? Privam-se da assistência e da graça de Deus de que tanto necessitam numa vida que, na melhor das hipóteses, é difícil. 

O Altíssimo, que é um Deus de paz e harmonia, não pode habitar onde reinam a contenda, a luta, o ódio e a discórdia. Eles devem viver juntos até que a morte os separe, pois nada mais pode romper seus laços. Portanto, se viverem em desarmonia, abreviarão sua felicidade neste mundo. Então, o que esperar da outra vida? Quem não ama o próximo de todo o coração, certamente não entrará no Reino dos céus; e quem está mais próximo da mulher do que seu marido? Quem está mais próximo do marido do que sua mulher, já que, segundo a Sagrada Escritura, “os dois são uma só carne” (cf. Gn 2, 24)? 

Portanto, os casais cristãos devem rezar diariamente a Deus, pedindo caridade e união; e caso apareçam conflitos entre eles, que procurem imediatamente descobrir suas causas e eliminá-las, a fim de que a discórdia não ganhe terreno até que seja impossível arrancá-la, com o que atrairão para suas vidas misérias temporais e eternas. Se as perturbações já estiverem muito avançadas, eles devem, como acontece com qualquer outro pecado, fazer uma firme resolução de viver pacificamente e aceitar corrigir sua conduta. Caso contrário, estarão a caminho da destruição.

“São Joaquim, Sant’Ana e a Virgem Menina”, pintura do século XVIII.

II. Em meio à tristeza e à angústia, São Joaquim buscou refúgio na oração e, apesar de Deus aparentemente não ouvi-lo há muito tempo, permaneceu confiante, submetendo-se à Providência e abstendo-se de qualquer queixa e murmuração contra Deus. 

Siga o exemplo dele nas provações e dificuldades. Busque refúgio em Deus; ore sem cessar; mesmo que sua oração não seja atendida, não se desespere. Jamais se queixe ou murmure contra o Todo-Poderoso, pois Ele tem suas próprias razões para não atender imediatamente ao seu pedido, embora você não as possa compreender. Medite um pouco sobre sua vida pregressa, e veja quantas vezes Deus o chamou e o exortou a corrigir suas faltas, a tornar-se mais zeloso no serviço dele, enquanto você ignorava suas admoestações. Como você pode esperar que Ele lhe dê atenção imediatamente? Como ousa queixar-se quando Ele não o ouve? 

É possível que sua oração seja indigna de ser ouvida pelo Todo-Poderoso. Talvez você faça suas preces com mil distrações voluntárias e não ouça a si mesmo. Então, como pode se surpreender com o fato de Deus não ouvi-las? São Bernardo diz: “Eu ofendo profundamente o Todo-Poderoso, se desejo que Ele ouça a minha oração, quando eu mesmo não a ouço, e não presto atenção em Deus nem em mim mesmo.” E Santo Efrém: “Se desejas ser ouvido por Deus, procura primeiro ser ouvido por ti mesmo”. Com isso, ele quer dizer que você deve fazer suas devoções com atenção e piedade. 

Se mesmo assim você não for ouvido, pense nestas palavras de São Gregório, que diz: “Se não fores atendido imediatamente, não deixes de rezar, mas persiste na tua oração e intensifica a tua devoção. Deus quer que lhe supliquemos. Ele será compelido, por assim dizer, e será vencido pela importunação.

Referências

  • Extraído e traduzido de Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 2. New York: P. O’Shea, 1876, pp. 211-214.

Notas

  1. Sobre esta doutrina piedosa a respeito da Virgem Maria, cf. Pe. Reginald Garrigou-Lagrange, La Madre del Salvador y nuestra vida interior. 3. ed. Buenos Aires: Ediciones Desclée de Brouwer, pp. 74-76: “É pelo menos muito provável, segundo a maioria dos teólogos, que Maria teve desde o primeiro instante de sua concepção o uso do livre-arbítrio por ciência infusa, pelo menos de modo transitório. Pensam assim São Vicente Ferrer, São Bernardino de Sena, São Francisco de Sales, Santo Afonso e também Suárez, Vega, Contenson, Justino de Miechow, e com eles quase todos os teólogos modernos”; primeiro, porque “não convém que Maria, rainha dos patriarcas, dos profetas, dos apóstolos e de todos os santos, tenha estado privada de um privilégio concedido a São João Batista” — quando, sentindo a presença do Salvador, exultou no seio de Santa Isabel —; e, segundo, porque “como Maria recebeu desde o primeiro instante a graça, as virtudes infusas e os dons em grau superior à graça final de todos os santos, deveu ser justificada como convém a adultos, isto é, com o uso livre da razão, dispondo-se por uma graça atual à habitual e merecendo, por esta última, desde o instante mesmo em que a recebeu”. (N.T.)

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