Sobre as coisas de Deus versavam todas as suas palavras; e delas falava com tanta autoridade, que, por esse tempo, indo com a marquesa, sua mãe, a Tortona, visitar a duquesa de Lorena, que por ali passara com sua filha, a duquesa de Brunswik, os cortesãos das duas princesas ouvindo-o discorrer, admiravam-se e diziam que quem o tivesse ouvido sem ver, pensaria ser um velho sensato, e não um menino, quem tão bem e altamente falava de Deus.
A primeira Comunhão de São Luís
Aconteciam estas coisas no ano de 1580, quando o santo Cardeal Carlos Borromeu, arcebispo de Milão, sendo feito por Sua Santidade Gregório XIII, de feliz memória, bisitador apostólico dos bispados de sua província, visitando a diocese de Bréscia, chegou a Castiglione no mês de julho, apenas com sete pessoas que levava consigo, pois não quisera maior comitiva, a fim de poupar despesas aos eclesiásticos que visitava. Além de muitas outras obras apostólicas em que se ocupou em Castiglione, quis também a 22 de julho, dia de Santa Maria Madalena, pregar ao povo, em vestes pontifícias, e fez uma pregação, com muito fruto, na igreja de São Nazário, que é a principal do lugar.
Muito lhe rogaram os príncipes que se hospedasse no castelo que habitavam, mas o santo não quis, e preferiu ficar na casa do arcipreste, junto da igreja. Sendo ali visitado por São Luís, que naquele tempo tinha doze anos e quatro meses, teve grande contentamento em ver este anjinho tão favorecido de Deus, e deteve-o em sua câmara a fim de discorrerem a sós das coisas de Deus, tão longamente, que quantos esperavam fora estavam espantados.
Encheu-se de consolação o santo cardeal ao ver aquela planta tão delicada, no meio dos espinhos da corte, sem indústria nem cultivo humano, só ajudada pelo celeste influxo, crescendo tão vigorosa e bela, e já chegada a tal altura de perfeição cristã. Também o santo menino exultava por ter achado uma pessoa a quem podia com confiança abrir o coração, e pedir que lhe resolvesse certas dúvidas que lhe ocorriam na vida espiritual; e como via geralmente terem em conta de santo o cardeal, tomava suas palavras, e os avisos com que o estimulava a progredir no caminho encetado, como oráculos divinos.
Perguntou-lhe o cardeal se comungava já, e respondendo ele que não, o santo, que já tinha conhecido a pureza de sua vida e gravidade de seu juízo, e entendido a muita luz que Deus lhe dava das coisas do Céu, não somente o exortou a comungar, mas quis ele próprio dar-lhe a primeira comunhão, e o animou a fazê-lo depois muitas vezes, instruindo-o acerca do modo de preparar-se para chegar a esta fonte da graça [...].
Começou, pois, a frequentar a Sagrada Comunhão, e não se pode conceber facilmente a grande preparação que fazia para receber dignamente este divino sacramento. Primeiramente, com extraordinária diligência e minúcia, examinava toda a vida passada, para ver se nela encontrava alguma coisa que pudesse ofender os olhos do divino Hóspede a quem esperava. Ia em seguida confessar-se, e com tal humildade, sentimento de dor e lágrimas o fazia, que o próprio confessor precisava contê-lo, mormente porque os seus pecados não tanto eram de comissão, como de omissão, julgando ele sempre que suas obras e costumes não estavam à altura das luzes que Deus lhe dava para galgar a maior perfeição.
Além disso, nos dias que precediam a Comunhão, todos os seus pensamentos e ideias eram para este santo sacramento. Sobre ele versavam suas leituras, a ele dirigia todas as suas meditações e orações, que eram tão frequentes, que costumavam dizer os de casa que ele parecia querer falar às paredes, tantas vezes se ajoelhava pelos cantos da casa.
Quais foram, em sua primeira Comunhão e nas seguintes, os atos de íntima devoção, os amorosos afetos que lhe inundaram a alma ao chegar-se à sagrada mesa, só Deus o sabe, que lhe via o coração, e não encontrei quem pudesse relatar. Apenas li no processo de sua canonização, que ele nesse momento ficava extremamente recolhido, e recebia grande consolação interior, mostrando no exterior grandíssima devoção, e depois de ter comungado conservava-se na igreja por muito tempo, de joelhos, à vista de todo o povo. Desse tempo em diante, sempre frequentou com a mesma piedade a Santíssima Comunhão.
Acrescentou a isto a marquesa, sua mãe, outra coisa digna de consideração, e observada também por outros em diversas épocas: e é que, daquele tempo em diante, ficou sempre Luís com grande afeto de devoção para com o Santíssimo Sacramento do altar, e cada dia, ao ouvir Missa, logo que o sacerdote acabava de consagrar a Hóstia, enternecia-se de tal modo, que começava a chorar copiosamente, e viam-se lhe correr as lágrimas até ao chão. Durou-lhe este afeto por toda a vida, e com abundância ainda muito maior chorava nos dias festivos, quando recebia a Santa Comunhão.
Sua devoção ao Santíssimo Sacramento
[...]
Este particular amor a Jesus Sacramentado é coisa tão notória de quantos o conheceram, que algumas pessoas, em Roma, tendo de mandar pintar seu retrato, lembraram-se de representá-lo em adoração perante o Santíssimo Sacramento. Tão grande devoção nascia dos gostos e consolações sobrenaturais que recebia na Comunhão — o que não deve causar espanto a quem considere a pureza de sua alma e a diligente preparação com que se dispunha a comungar. Servia-lhe uma Comunhão de preparação para a outra.
Além de várias devoções que fazia, dividia a semana de modo que, nos três primeiros dias, isto é, segunda, terça e quarta-feira, dava graças a cada uma das três Pessoas da Santíssima Trindade, em particular pelo benefício da Comunhão recebida no domingo; e nos três dias seguintes, isto é, quinta-feira, sexta-feira e sábado, pedia às mesmas três divinas Pessoas a graça de poder, no domingo seguinte, dignamente chegar-se à sagrada mesa. Durante a semana, ia muitas vezes, por dia, a certas horas determinadas, à igreja ou ao coro visitar o Santíssimo Sacramento, e fazer um pouco de oração.
No dia anterior à Comunhão, todos os seus pensamentos e palavras eram sobre este santo mistério, do qual falava com tanto sentimento e fervor, que alguns noviços e até sacerdotes, tendo-o já observado, procuravam no sábado passar com ele o tempo da recreação, para ouvi-lo discorrer, com grande elevação de pensamentos, sobre este inefável mistério; e afirmavam depois que nunca celebravam com maior devoção a Santa Missa que no domingo, tão comovidos e inflamados ficavam com as suas palavras. Era isto já tão notório, que todas as vezes que alguém desejava no meio da semana comungar ou dizer Missa com maior devoção, arranjava as coisas de modo a estar com ele no dia anterior e fazer cair a conversa sobre este assunto.
No sábado à noite, ao deitar-se, pensava São Luís na graça que ia receber; no domingo pela manhã, logo ao despertar, aplicava-se ao mesmo pensamento. Fazia uma hora de meditação sobre a Comunhão, e depois ia para a igreja com os outros para ouvir a Missa, e se conservava sempre de joelhos, imóvel. Tendo recebido a Comunhão, retirava-se a um canto, e ficava por muito tempo como que arrebatado dos sentidos. Terminada a ação de graças, parecia ter dificuldade em levantar-se e sair da igreja, e sentia encher o coração e a alma de amorosos afetos divinos e de celestial doçura. Todo o resto da manhã passava em santo silêncio, orando vocal ou mentalmente, e lendo algumas vezes trechos devotos de Santo Agostinho e de São Bernardo.
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Não conhecia a história de São Luiz Gonzaga.
Uma pureza de alma.
O texto do Padre Paulo Ricardo e sua Equipe Christo Nihil Praeponere sobre São Luís Gonzaga e o Santíssimo Sacramento destacam a profunda devoção do santo à Eucaristia desde sua primeira comunhão, concedida por São Carlos Borromeu. Mesmo ainda menino, Luís demonstrava maturidade espiritual impressionante, emocionando-se durante a Missa e falando das coisas de Deus com sabedoria incomum. Sua vida foi marcada por pureza, penitência e amor ardente ao Senhor presente na Eucaristia — um verdadeiro modelo de santidade juvenil e confiança na graça sacramental.
São Luiz Gonzaga,rogai por nós!
Lendo a história de São Luiz Gonzaga, chamou-me atenção o fato dele chorar na Consagração, porque acontece comigo na Santa Missa de não conter as lágrimas no momento em que o Senhor é elevado e respondemos as palavras do Centurião. Que São Luiz Gonzaga interceda por todos os fiéis para que amemos cada vez mais Jesus na sagrada Eucaristia e nosso encontro com Ele seja abundante alegria em nossas vidas.
São Luís Gonzaga, rogai para meus filhos voltarem à Santa Igreja, para minha nora e sua família que se convertam à Igreja Católica, por meus sobrinhos; e todos os seus amigos, pois nenhum deles tem religião. Misericórdia, meu Senhor, cuida desses jovens!