O silêncio é um meio excelente para se alcançar o espírito de oração e para se habilitar para o trato ininterrupto com Deus. Dificilmente se encontrará uma pessoa verdadeiramente piedosa que fale muito. Todos que possuem o espírito de oração amam igualmente o silêncio, que é justamente chamado o conservador da inocência, um baluarte contra as tentações e uma fonte de oração, pois que o silêncio favorece o recolhimento e excita no coração bons pensamentos: ele obriga de certo modo a alma a pensar em Deus e nos bens celestes, como diz São Bernardo (Ep. 78). Por essa razão todos os santos, e mesmo aqueles que não viveram como eremitas, eram especiais amantes do silêncio.
O profeta Isaías diz: “O silêncio cultivará na alma a justiça” (Is 32,17). De um lado ele nos preserva de muitos pecados, removendo a ocasião de discussões, de difamações, rancor e curiosidade; de outro lado, nos auxilia a adquirir muitas virtudes. Como não se pratica admiravelmente a humildade quando se ouve modestamente e se guarda o silêncio, enquanto falam os outros! a mortificação, quando, desejando-se narrar algum episódio ou dizer alguma piada, se abstém disto, calando-se! a mansidão, quando nada se responde sendo-se injustamente repreendido ou injuriado!
O muito falar, pelo contrário, traz consigo muitos danos. Como se conserva a devoção pelo silêncio, assim também se perde pelo muito falar. Por mais que se esteja recolhido durante a oração, se depois não se vencer no falar, estar-se-á logo distraído como se não tivesse feito oração. Abrindo-se a tampa de uma estufa, o calor se evapora em curto prazo. “Evita o muito falar — admoesta São Doroteu — porque ele expele os bons pensamentos e o recolhimento em Deus” (Doct. 24). É fora de dúvida que uma pessoa que fala muito com os homens, pouco se entretém com Deus, e que Deus, por sua parte, fala pouco com ela. Segundo suas próprias palavras, Ele conduz a alma à solidão quando lhe quer dirigir a palavra: “Eu a conduzirei à solidão e lhe falarei ao coração” (Os 2,14).
Além disso, nos admoesta o Espírito Santo: “No muito falar, não faltará pecado” (Pr 10,19). Ainda que, durante a conversação que se prolonga sem necessidade, não se pense que se está cometendo falta, contudo, depois, em um sério exame de consciência, se descobrirá qualquer falta, seja por indiscrição ou por curiosidade, ou ao menos por inútil tagarelice.
Mas que digo eu? Não é só de uma ou outra falta que nos tornamos culpados quando falamos muito, mas de grande número delas. Segundo São Tiago, a língua é “um mundo de injustiças” (Tg 3,6); pois, como nota um sábio escritor, o maior número de pecados é ocasionado pelo falar ou pelo ouvir falar. Ah! quantas almas não se acharão, no dia do juízo, entre os condenados porque não guardaram sua língua! O pior é que aquele que se entrega à distração pelo intenso trato com as criaturas e pelo muito falar, não conhece suas faltas, e por isso cai sempre mais profundamente. “O homem que fala muito — diz o salmista — não será dirigido na terra” (Sl 139,12), e seguirá por mil desvios, sem que se possa esperar a sua emenda.
Parece que alguns não podem viver sem prosear desde a manhã até à tarde: querem saber tudo o que acontece, incomodam-se com tudo e ainda perguntam que mal fazem com isso. A esses respondo: deixai de falar tanto, procurai recolher-vos um pouco e conhecereis quantas faltas cometestes com vosso imoderado prosear.
“Quem guarda a sua boca, guarda a sua alma”, diz o Sábio (Pr 13,3). E São Tiago escreve: “Quem não peca por palavra é um homem perfeito” (Tg 3,2). Quem, por amor de Deus, pratica o silêncio, fará também com diligência a leitura espiritual, a meditação e a visita ao Santíssimo Sacramento. Oh! quanto Deus ama uma alma que observa o silêncio! principalmente se ela se mortifica no falar naquelas ocasiões em que sente um desejo especial para falar, por exemplo, depois de um longo retiro, em acontecimentos agradáveis ou desagradáveis. Quem costuma, porém, se difundir em conversas, estará continuamente distraído e deixará facilmente a oração, a meditação e outros exercícios de devoção, e perderá assim pouco a pouco o gosto por Deus e pelas coisas divinas. “É impossível que aquele que não ama o silêncio — diz Santa Maria Madalena de Pazzi — ache gosto nas coisas divinas; ele se lançará, mais cedo ou mais tarde, nos braços das alegrias mundanas”.
Contudo, a virtude do silêncio não consiste em nunca abrir a boca para uma conversa, mas em se calar quando não há motivo razoável para falar. Por isso diz Salomão: “Há tempo para se calar e tempo para falar” (Ecle 3,7). São Gregório de Nissa nota que se fala primeiramente do tempo de se calar, porque é pelo silêncio que se aprende a arte de falar bem.
Quando, pois, se deverá calar e quando deverá falar um cristão que deseja santificar-se? Ele deve calar-se quando não for necessário falar, e deve falar quando a necessidade ou a caridade o exigirem. São João Crisóstomo estabelece a seguinte regra: “Só quando o falar for mais proveitoso que o calar-se é que se deve falar” (In Ps. 14). Com isso, harmoniza-se o conselho dado pelos mestres espirituais: “Cala-te, ou fala de tal modo que o falar seja preferível ao silêncio”. Santo Arsênio confessou que se arrependeu muitas vezes de ter falado e nunca de ter guardado o silêncio. Por isso, Santo Efrém aconselha a cada cristão: “Fala muito com Deus e pouco com os homens” (Encom. in Ps.).
Pelo que farias muito bem, alma cristã, se guardasses o silêncio em certas e determinadas horas do dia e, para não encontrares ocasião de falar, te retirasses durante esse tempo para um lugar solitário. Se a obediência ou a caridade não te permitirem, procura ao menos achar alguns momentos livres para te recolheres e reparares as faltas que cometeste em tuas conversações, pois o Sábio diz: “Não deixes passar uma partezinha do bem que te é concedido” (Eclo 14,14). Se não puderes empregar mais tempo para o Senhor, consagra-lhe ao menos os curtos instantes que te estão à disposição e procura cortar toda conversação inútil, sob qualquer oportuno pretexto.
Se alguma vez em tua presença for pronunciada alguma palavra indecente, foge então sem demora, ou ao menos abaixa os olhos e não dês resposta, ou então dirige a conversa para outro assunto. Deves procurar cortar as conversas mundanas o quanto antes. Santa Francisca Romana recebeu certa vez uma bofetada de seu anjo da guarda porque não desviou uma conversa de algumas senhoras que falavam sobre coisas fúteis.
Para não faltares neste ponto, deves, antes de tudo, mortificar a tua curiosidade. O Abade João costumava dizer: “Quem quiser refrear sua língua, deve tapar seus ouvidos, reprimindo o desejo de saber novidades”.
Se estiveres obrigada a falar, alma cristã, pondera bem primeiramente o que queres dizer. “Coloca tuas palavras na balança”, te diz o Espírito Santo (Eclo 28,29). São Bernardo diz que as palavras deveriam passar duas vezes pelo crivo da apuração antes de chegarem à língua, para que não se diga o que não é útil declarar. São Francisco de Sales exprime o mesmo pensamento com outras palavras: “Para não cometer uma falta na conversa, se deveria ter a boca como que abotoada, para que, enquanto ela fosse desabotoada, se pudesse refletir no que se vai falar”.
Antes de falar, deves, pois, ponderar:
- O que queres dizer: se, por exemplo, com isso não ofendes a caridade, a modéstia ou qualquer outro mandamento de Deus;
- Com que intenção falas: alguma vez se diz alguma coisa boa, mas com má intenção, para se parecer virtuoso ou então espirituoso;
- Com quem falas: se com um superior, ou com um igual, ou inferior; se na presença de adultos ou de crianças, que talvez poderiam escandalizar-se com tuas palavras;
- Como deves falar: pois é teu dever falar com simplicidade cristã, sem afetação; com humildade, evitando toda a expressão orgulhosa ou vaidosa; com mansidão, sem mostrar impaciência ou ofender o próximo; com discrição, sem querer ter sempre a primeira palavra, principalmente se fores mais jovem que os outros; com modéstia, evitando interromper os demais.
Além disso, deves falar com voz moderada e evitar todas as expressões e gestos que são próprios de um mundano. Finalmente, deves te abster de rir imoderadamente, pois isso de forma alguma está bem a uma pessoa que deseja viver piedosamente, como nota São Basílio. Um riso moderado, porém, que denota a alegria do coração, não é nem contra a civilidade nem contra a piedade. Modéstia e alegria é o que deve luzir no procedimento de um bom cristão, e não melancolia e desalento, pois isso desonra a piedade e induz a crer que uma vida dedicada a Deus ocasiona, em vez de paz e alegria, unicamente tristeza e tribulações.
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