Interessado em Angelologia? Acesse nossa página “Anjos e Demônios” e comece a fazer hoje mesmo o mais novo curso de nosso site!

Luís Gonzaga, o santo que a Igreja celebra no dia de hoje, 21 de junho, é aclamado por sua pureza, mas também pela vida penitente que levou — informação que consta, inclusive, na oração litúrgica de sua festa: 

Deus, caeléstium auctor donórum, qui in beáto Aloísio miram vitae innocéntiam cum paeniténtia sociásti, eius méritis et intercessióne concéde, ut, innocéntem non secúti, paeniténtem imitémur. Per Dóminum… — Ó Deus, autor dos dons celestes, que unistes no jovem Luís Gonzaga a penitência com uma admirável pureza de vida: concedei-nos, por seus méritos e preces, imitá-lo na penitência, se não o seguimos na inocência. Por nosso Senhor Jesus Cristo…

A ideia de que devemos nos penitenciar por nossos pecados, como se sabe, é praticamente uma marca do catolicismo. Jesus morreu uma vez por todas para expiar as nossas culpas, sim, mas — para pegar emprestada uma ideia de Pascal — Ele também continua a agonizar até o fim do mundo, nos membros de seu Corpo, que é a Igreja. Não sem razão o Apóstolo dizia completar em sua carne o que faltava à Paixão de Cristo (cf. Col 1, 23).

Vale lembrar também que essa exigência da justiça divina é uma oportunidade de grande crescimento para nós. Cristo não nos redimiu para que ficássemos ociosos, mas para que, através de nossas obras, colaborássemos com Ele na redenção do mundo inteiro. Nossas penitências têm um valor reparador e salvífico. Isso faz de nós corredentores com Nosso Senhor.

A recusa em fazermos isso neste mundo implica para nós, no mínimo, uma estadia mais longa no Purgatório. “Porque tu não és um Deus que ame a iniquidade; nem habitará junto de ti o maligno, nem os injustos poderão permanecer diante dos teus olhos” (Sl 5, 5-6). Quem não se purificou de suas culpas neste mundo deverá fazê-lo no outro, e desta espécie de prisão não sairá enquanto não tiver pago até o último centavo de sua dívida (cf. Mt 5, 26). 

Um jovem “angélico”

Outra coisa, no entanto, deve chamar-nos a atenção em São Luís Gonzaga. Na oração que o rito tridentino prescreve para esta festa em sua honra, consta uma palavra que, infelizmente, foi retirada da oração atual. Percebam: 

Caeléstium donórum distribútor, Deus, qui in angélico júvene Aloísio miram vitae innocéntiam pari cum paeniténtia sociásti: eius méritis et précibus concéde; ut, innocéntem non secúti, paeniténtem imitémur. Per Dóminum nostrum… — Ó Deus, despenseiro dos bens celestes, que no angélico jovem Luís unistes uma admirável inocência de vida com igual penitência: por seus méritos e preces, concedei-nos que, não o havendo seguido nas vias da pureza, o imitemos na prática da penitência. Por Nosso Senhor...
São Luís Gonzaga, numa obra de Guercino.

A expressão angélico iúvene, “jovem angélico”, não é apenas uma comparação poética entre a castidade de Luís e a graça dos anjos, mas serve para recordar uma doutrina muito bela a respeito dos lugares que os bem-aventurados ocuparão no Céu. Segundo ninguém menos que Santo Tomás de Aquino, é possível que certos homens brilhem tanto com sua santidade, que superem em glória os próprios anjos.

Isso não significa que as almas dos justos se “transformarão” em anjos. Diferentemente do espiritismo reencarnacionista, que vê o ser humano como uma alma presa num corpo, a doutrina católica faz questão de distinguir muito bem as naturezas humana e angélica: nós somos formados de corpo e alma e, no fim dos tempos, nossas almas se unirão novamente aos seus corpos, quando ocorrer a ressurreição dos mortos. Os anjos, porém, são espíritos puros, sem nenhuma mistura de matéria. Trata-se de dois seres diferentes.

Por isso, na ordem natural, os anjos são sempre superiores aos seres humanos; na escala da Criação, eles são os seres mais nobres formados por Deus. Na ordem sobrenatural, porém, alguns homens, pela vida virtuosa que levaram, podem ascender aos mais altos postos do Céu, tomando lugar entre os anjos. Com a palavra, o Doutor Angélico: 

As ordens angélicas se distinguem pela condição natural e pelos dons da graça. Se, pois, se consideram as ordens angélicas quanto aos graus da natureza, os homens jamais poderão ser elevados às ordens angélicas, porque sempre permanecerá a distinção das naturezas. Considerando isso, alguns julgaram que os homens de nenhum modo podem ser transferidos à igualdade com os anjos. Entretanto, essa opinião é falsa, por contradizer a promessa de Cristo, que disse em Lc 20, 36 que os filhos da ressurreição serão iguais aos anjos nos céus. Efetivamente, o que provém da natureza está como elemento material na razão das ordens, enquanto o que é perfectivo provém do dom da graça, que depende da liberalidade divina e não da ordem da natureza. Sendo assim, pelo dom da graça os homens podem merecer uma glória tal, que se igualem aos anjos, de acordo com cada uma de suas ordens. Ora, isso significa que os homens são elevados às ordens angélicas (STh I 108, 8c.).

A esse belo ensinamento do Aquinate o Pe. Royo Marín ajunta outro, do Cardeal Caetano: 

Comentando esta sublime doutrina, o Cardeal Caetano declara que nem todos os homens serão elevados aos coros dos anjos, senão que alguns ascenderão sobre os próprios anjos, como a Virgem Maria; outros se mesclarão com eles, como os Apóstolos e os grandes santos; e outros, enfim, ficarão abaixo de todos eles, como pode racionalmente crer-se quanto às crianças que voam ao céu imediatamente depois do batismo (ou seja, sem haver contraído, todavia, nenhum mérito pessoal) e de outros muitos que não alcançaram neste mundo o grau de graça dos anjos inferiores (Dios y su obra. Madrid: BAC, 1963, p. 374).

Nossa Senhora é invocada como Regina angelorum, “Rainha dos anjos”. Por isso, sua posição no Céu acima de todas as hierarquias angélicas está praticamente fora de questão. Poderíamos considerar também que São Francisco de Assis, chamado por seus filhos espirituais de “Pai Seráfico”, ocupa uma posição especial na ordem dos serafins? E quanto ao jovem Luís Gonzaga, chamado de “angélico” pela liturgia antiga, que lugar deve ocupar entre os espíritos celestes? 

A resposta a essas perguntas, só a descobriremos do outro lado. O certo é que, seja como for, se com a graça de Deus viermos a nos salvar, no Céu “não haverá duas sociedades, uma dos anjos e outra dos homens, mas somente uma única, porque a bem-aventurança de todos consiste na adesão ao Deus único” (STh I 108, 8c.).

O que achou desse conteúdo?

0
0
Mais recentes
Mais antigos