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A dúvida de Zacarias

De um lado, Zacarias, sacerdote do Antigo Testamento; de outro, Maria Santíssima, um pobre virgem desconhecida. Em Jerusalém, um Templo esplendoroso, construído por décadas a fio; em Nazaré, uma casinha de terra, onde mal cabem três pessoas. Em um, a incredulidade que duvida; em outra, a fé que, humilde, diz sim a Deus.

Texto do episódio
11

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 1, 5-25)

Nos dias de Herodes, rei da Judeia, vivia um sacerdote chamado Zacarias, do grupo de Abia. Sua esposa era descendente de Aarão e chamava-se Isabel. Ambos eram justos diante de Deus e obedeciam fielmente a todos os mandamentos e ordens do Senhor. Não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e os dois já eram de idade avançada. Em certa ocasião, Zacarias estava exercendo as funções sacerdotais no Templo, pois era a vez do seu grupo. Conforme o costume dos sacerdotes, ele foi sorteado para entrar no Santuário, e fazer a oferta do incenso. Toda a assembleia do povo estava do lado de fora rezando, enquanto o incenso estava sendo oferecido.

Então apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e o temor apoderou-se dele. Mas o anjo disse: “Não tenhas medo, Zacarias, porque Deus ouviu tua súplica. Tua esposa, Isabel, vai ter um filho, e tu lhe darás o nome de João. Tu ficarás alegre e feliz, e muita gente se alegrará com o nascimento do menino, porque ele vai ser grande diante do Senhor. Não beberá vinho nem bebida fermentada e, desde o ventre materno, ficará repleto do Espírito Santo. Ele reconduzirá muitos do povo de Israel ao Senhor seu Deus. E há de caminhar à frente deles, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto”.

Então Zacarias perguntou ao anjo: “Como terei certeza disto? Sou velho e minha mulher é de idade avançada”. O anjo respondeu-lhe: “Eu sou Gabriel. Estou sempre na presença de Deus, e fui enviado para dar-te esta boa notícia. Eis que ficarás mudo e não poderás falar, até o dia em que essas coisas acontecerem, porque não acreditaste nas minhas palavras, que se hão de cumprir no tempo certo”. O povo estava esperando Zacarias, e admirava-se com a demora no Santuário. Quando saiu, não podia falar-lhes. E compreenderam que ele tinha tido uma visão no Santuário. Zacarias falava por sinais e continuava mudo.

Depois que terminou seus dias de serviço no Santuário, Zacarias voltou para casa. Algum tempo depois, sua esposa Isabel ficou grávida, e escondeu-se durante cinco meses. Ela dizia: “Eis o que o Senhor fez por mim, nos dias em que ele se dignou tirar-me da humilhação pública!”

Todas as manhãs, ao despontar do sol, dividiam-se por sorte os diversos ofícios a serem realizados no Templo de Jerusalém entre os sacerdotes em exercício naquele dia. No Evangelho de hoje, extraído de Lc 1, 5-25,  ficamos sabendo que Zacarias, da tribo sacerdotal de Abias, foi encarregado certa vez, nos tempos de Herodes I, de entrar no Santuário para oferecer o sacrifício do incenso. Após entrar no Santo dos Santos para realizar a oferta, apareceu-lhe em forma humana (cf. Gn 19, 1; Dn 3, 49; 9, 21), à direita do altar, um anjo do Senhor. Zacarias ficou aterrado diante da visão, não só porque os anjos são criaturas tremendas e gloriosas, mas também porque era crença comum entre os judeus que a visão de um anjo podia causar a morte (Jz 6, 22; 13, 22; Is 6, 5; Ez 2, 1; Dn 10, 8). Por isso, o anjo disse-lhe: “Não tenhas medo, Zacarias”, e confortou-o com uma feliz notícia: “Porque Deus ouviu tua súplica”. E explicou em seguida: “Tua esposa, Isabel, vai ter um filho, e tu lhe darás o nome de João”, que brilhará com singular santidade, produzirá grandes frutos de conversão entre o povo e será o Precursor de Cristo. Zacarias, porém, negou-se a acreditar nas palavras do anjo, a não ser que lhe fosse dado um sinal. O anjo lhe revelou então o seu nome, Gabriel, e lhe impôs, por sua incredulidade, uma pena, que seria também um sinal de que tudo aconteceria como fora anunciado: “Eis que ficarás mudo e não poderás falar, até o dia em que essas coisas acontecerem”. Estamos aqui a apenas seis meses do anúncio da Encarnação do Verbo e, sob esta luz, a incredulidade de Zacarias nos põe diantes dos olhos duas coisas: a) Zacarias, como sacerdote do Antigo Testamento, honrado de poder entrar no Santos dos Santos, representa a falta de fé do povo eleito, que, apesar de ter sido cuidadosamente preparado por Deus ao longo dos séculos, não soube acolher como devia o cumprimento dos desígnios divinos em Nosso Senhor Jesus Cristo; b) em contraste com essa infidelidade, pela qual é como que esvaziado o antigo Templo de Jerusalém, temos a fé virtuosíssima de Maria, constituída, por obra do Espírito Santo, templo vivo e virginal do Filho de Deus, cujos caminhos o Batista há de preparar, a fim de que o recebam em Israel quantos, ainda que poucos, estiverem dispostos e de boa-vontade. — Que neste resto de Advento possamos imitar a fé de Maria, para que Cristo nasça em nossas almas e se digne fazer de nosso coração a sua doce morada.

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