Hoje não só é dia 13 — o que por si só já faria desta uma data apropriada para falar sobre Fátima — como também, neste mês de fevereiro, fazemos memória do falecimento da Ir. Maria Lúcia de Jesus e do Imaculado Coração, uma das três videntes de Fátima. Mesmo que Lúcia seja a única dos pastorinhos ainda não beatificada pela Igreja, se considerarmos a sorte que tiveram os outros dois — os hoje santos Francisco e Jacinta Marto —, é bem possível que a sua alma também esteja gozando já da bem-aventurança eterna, ao lado de Deus, em um lugar de muita honra e distinção.
Ao mesmo tempo, porém, que elevamos os olhos para o céu e contemplamos o brilho desses primeiros fiéis devotos da Virgem de Fátima, somos quase levados espontaneamente a refletir também sobre o gênero de vida que tiveram essas crianças; sobre como se santificaram esses pequeninos, desprezados pelo mundo, mas eleitos por Deus e por sua santíssima Mãe. E se tomamos em mão as famosas Memórias da Irmã Lúcia, descobrimos que uma das coisas que mais impressionaram aqueles servos de Deus, levando-os a uma radical mudança de vida, foi nada menos que a visão do inferno.
Sobre Jacinta se conta, por exemplo, que "a vista do inferno tinha-a horrorizado a tal ponto, que todas as penitências e mortificações lhe pareciam nada, para conseguir livrar de lá algumas almas". Perguntando-se "como é que a Jacinta, tão pequenina, se deixou possuir e compreendeu um tal espírito de mortificação e penitência", a mesma Ir. Lúcia não hesitava em responder: "Parece-me que foi: primeiro, por uma graça especial que Deus, por meio do Imaculado Coração de Maria, lhe quis conceder; segundo, olhando para o inferno e desgraça das almas que aí caem" [1].
O que para muitos santos adultos só aconteceria depois de anos de muita purificação, deu-se com os pastorinhos de Fátima como num estalo, por assim dizer: recebendo "uma graça especial" de Deus, Lúcia, Francisco e Jacinta ficaram aterrorizados com a danação eterna de tantas pessoas e saíram de seu encontro com a Virgem Maria fortalecidos para a missão. Afinal, Nossa Senhora lhes revelara que, rezando muito e fazendo sacrifícios pelos pecadores, seria realmente possível salvar do inferno muitas almas [2].
Movidas por um grande amor, aquele mesmo amor de Cristo que nos urge, como diz São Paulo (cf. 2Cor 5, 14), os três videntes acolheram esperançosos o pedido dos céus: "Quereis oferecer-vos a Deus", perguntava-lhes Nossa Senhora, "para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?" Ao que as três crianças respondiam, uníssonas: "Sim, queremos" [3]. Com isso — grande providência divina! —, aquelas crianças não só salvaram numerosíssimas almas da condenação eterna como elevaram as suas próprias almas a Deus. A mensagem de salvação que a Virgem trazia a Portugal destinava-se, na verdade, ao mundo inteiro, mas também e antes de tudo àquelas três crianças pastoras.
Ora, se elas, cooperando com a graça do alto, puderam livrar com as suas orações e pequenas penitências milhares de almas do inferno eterno, o que nós estamos esperando? Se três crianças, mal tendo chegado à idade da razão, se deixaram trespassar pela urgência da salvação das almas, o que nós estamos a fazer, lerda e tolamente, quietos e inoperantes? Se três pequenas almas sararam, com seus esforços, tantas almas feridas pelo pecado, o que nós, que fomos ungidos com o sacramento da Confirmação [4] e feitos, portanto, soldados de Cristo, estamos fazendo de nossa vocação?
Assim pois como a mensagem de Fátima impeliu aquelas crianças, assim como o amor de Cristo impulsionava os primeiros cristãos, também nós devemos deixar-nos comover, neste Ano Mariano, pelo apelo da bem-aventurada Virgem Maria. Também a nós ela pergunta no dia de hoje: "Quereis oferecer-vos a Deus [...], em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?" A resposta a esse chamado compete a cada um, individualmente. Levantemo-nos de nossa letargia e, revestidos da graça do Senhor, sejamos grandes como foram estes pequenos.
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