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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 6, 39-42)

Naquele tempo, Jesus contou uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco? Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre. Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho?

Como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”.

O juízo temerário (cf. Mt 7, 1-5; 10, 24s; 15, 14; Lc 6, 37-42; Mc 4, 24b). — Após ter consignado os principais fundamentos da caridade fraterna, o escritor sagrado refere agora um aviso de Cristo àqueles que, sem fazer caso dos próprios, acusam duramente os defeitos alheios. — Não julgueis, isto é, não condeneis a conduta e a intenção dos outros, e não sereis julgados; porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados etc., isto é, assim como tratardes os outros, assim também vos tratará Deus, com a mesma dureza com que julgares sereis julgados por Ele. Com razão nos adverte S. Agostinho: “Julguemos pois o que é manifesto, mas do que é oculto deixemos a Deus o juízo. Não repreendamos, portanto, o que não soubermos com que ânimo foi feito, nem repreendamos de tal forma o que é manifesto que deixemos a perder a esperança da salvação” (De serm. Domini in monte II 18, 60).

Em seguida, com a imagem, tirada talvez de algum provérbio popular [1], de alguém que corrige o irmão por ter um cisco no olho, embora ele mesmo tenha não um cisco, mas uma trave, condena o Senhor a tolice e a hipocrisia daqueles que veem os defeitos mais leves do próximo, mas não os seus próprios e graves defeitos. — Esta flecha tem por alvo sobretudo os fariseus; mas a doutrina, como se vê, é universal e engloba a todos os que padecem deste vício, e principalmente os ministros da Igreja que, ao cumpriem o dever de corrigir, mostram às vezes ter as mesmas manchas — e até mais graves! — que corrigem [1].

Observações. — As palavras de Cristo neste Evangelho, entre outras coisas, condenam dois pecados e aconselham duas virtudes. — 1) Condenam a cegueira tanto a) da vã suspeita, que é propensão da inteligência, deliberadamente procurada ou admitida, a julgar sobre alguma coisa, em particular sobre algum mal do próximo, sem razão suficiente, quanto b) do juízo temerário, que é o assentimento firme da inteligência, sem razão suficiente, sobre coisas duvidosas e incertas, em particular sobre pecados e vícios do próximo. — 2) E aconselha a sensatez de a) tratar com prudente desconfiança as próprias intenções e juízos, sob os quais ocultamos muitas vezes os nossos pecados para, revelando os do próximo, nos sentirmos superiores a ele: “Não vês a trave no teu próprio olho?”, b) nem admitir juízos negativos sobre ninguém senão por motivos proporcionados ou expor, salvo por razões de grave necessidade, os pecados ocultos de outrem: “Então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”.

Referências

  1. Cf. Baba Bathra, f. 15b, apud Strack-Billerbeck: “Está escrito: no dia em que julgarem os juízes […], quando disser [o juiz] a alguém: ‘Tira o cisco do teu olho’, responderá ele: ‘Tira tu a trave do teu’”.
  2. O texto dessa resposta baseia-se quase integralmente em H. Simón, Prælectiones biblicæ ad usum scholarum. 2.ª ed., Taurini, Marietti, 1930, vol. 1, pp. 321, n. 216.
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