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Ai de quem reza, mas não muda!

“Quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática, é como um homem prudente, que construiu sua casa sobre a rocha. Por outro lado, quem ouve estas minhas palavras e não as põe em prática, é como um homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia”.

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 7,21.24-27)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos Céus, mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus. Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática, é como um homem prudente, que construiu sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos deram contra a casa, mas a casa não caiu, porque estava construída sobre a rocha. Por outro lado, quem ouve estas minhas palavras e não as põe em prática, é como um homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos sopraram e deram contra a casa, e a casa caiu, e sua ruína foi completa!”

Guardai-vos das ilusões (cf. Lc 6,43; 13,26s). — V. 21ss. Cristo condena o sentir dos que creem ter o reino dos céus garantido, 1) ou porque o invocaram (somente) com os lábios (: Senhor, Senhor, outros o interpretam como invocação frequente mas afetada do Senhor; outros, o que é mais congruente, como fé sem obras; outros, o que é menos provável, como fé simulada, tal qual a dos pseudo-profetas); 2) ou porque, em nome de Cristo, i.e. invocado o nome de Cristo, (muitos), ou (melhor) impetrando o poder dele, expeliram demônios ou pensam tê-los expelido e realizado outros milagres. Com essa interpelação, Jesus lamenta-se dos falsos fiéis, que se fiam mais de títulos e práticas exteriores de religião que do valor das boas obras.

Mas naquele dia (no dia do juízo, que é o dia do Senhor, cf. Lc 17,24; 1Cor 1,8 etc.), eu lhes confessarei, i.e. abertamente, diante de todos, direi deles: Nunca vos conheci, i.e. não os tive como uns dos meus nem mesmo quando fazíeis estes milagres; apartai-vos, pois, de mim, vós que obrais a iniquidade (τὴν ἀνομίαν = a transgressão da lei). São palavras tiradas do Sl 6,9. — O mesmo se lê em Lc 13,26s: Então começareis a dizer: Comemos e bebemos em tua presença, i.e. fomos teus discípulos, familiares e, por assim dizer, comensais, e tu ensinaste nas nossas praças, i.e. ouvimos frequentemente tuas palavras. E ele vos dirá: Não sei donde sois, i.e. não sei quem sois, não vos reconheço como uns dos meus; apartai-vos de mim etc.

‘Assim entendemos que nos são necessárias a fé e uma vida que brilhe pelas virtudes: somente esta nos pode salvar’ (Crisóstomo, in Ioh. ii, hom. 20). — Cf. Homilia Diária 1889.

Conclusão. — V. 24-27. a) Imagem. O sábio, i.e. o que tem cuidado por suas coisas, edifica sua casa sobre a pedra, de forma que possa resistir às chuvas, tempestades e torrentes. Pelo contrário, o insensato, que edifica sua casa sobre a areia, no tempo das chuvas (que são mais intensas na Palestina do fim de outubro até o início de abril), quando irrompem os ventos, as tempestades e os rios (torrentes), perderá todo o edifício.

b) Sentido espiritual. É sábio o homem que ouve estas minhas palavras (as ditas no sermão da montanha) e as observa; mas é insensato quem as ouve, e não as pratica (1). Edificar sobre pedra é confirmar a fé com boas obras (2). A chuva, os ventos e os rios, para muito intérpretes antigos, significam alegoricamente três coisas distintas (e.g. a chuva, as tentações da concupiscência carnal; os rios, as da cupidez e da avareza; os ventos, as da vaidade e da soberba: cf. 1Jo 2,16). Outros dizem que esses três elementos designam as tribulações e calamidades da vida humana, ou gêneros indeterminados de tentações; para outros ainda, trata-se do dia do juízo, representado como uma terrível tempestade. Entre os intérpretes mais recentes, é quase unânime que as três imagens nada mais são do que simples comparações sem nenhum significado particular, embora possam ser acomodadas a diversas coisas.

Quem perseverar na observância da regra de vida cristã será, com a ajuda de Deus, mais forte do que toda tribulação e tentação. Cf. Is 26,16; Pr 10,25: O justo fica em fundamento eterno. Este pode dizer com São Paulo: Quem nos separará, pois, do amor de Cristo? A tribulação? a angústia? a perseguição? a fome? a nudez? o perigo? a espada? . . . Estou certo de que nem a morte, nem a vida etc. (Rm 8,35ss). Com isso se nos manifesta igualmente não haver outro nome sob o céu e sobre a terra pelo qual possamos ser salvos, a não ser o de Jesus Cristo, o qual propõe sua doutrina como fonte única de vida. Se alguém dela se apartar, sofrerá grande ruína. Há portanto somente dois fins possíveis: ou a casa permanece de pé, i.e. o homem vive para sempre na mansão celeste, ou vem inteiramente abaixo, i.e. o homem se condena à perdição eterna. Não há meio-termo.

Notas

  1. O sermão da montanha, em Mt, é um compêndio de toda a lei cristã, de acordo com Agostinho. Assim diz o Santo Padre (de sermo. Dom. in monte i 1): ‘O sermão que proferiu Nosso Senhor Jesus Cristo na montanha, como lemos no Evangelho segundo Mateus, se alguém o considerar piedosa e seriamente, penso que encontrará nele, no que diz respeito aos bons costumes, o modo mais perfeito de vida cristã, o que nos atrevemos a garantir sem temeridade, mas amparados nas palavras mesmas do Senhor. De fato, a própria conclusão do sermão manifesta que nele estão todos os preceitos atinentes à orientação da vida. Assim diz, com efeito: Todo, pois, o que ouve estas minhas palavras e as põem em prática é semelhante a um homem sábio que edificou sua casa sobre a pedra. E todo o que ouve estas minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem tolo que edificou sua casa sobre a areia. Caíram as chuvas, vieram as torrentes, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu, e foi grande a sua ruína. Ora, como não disse apenas nas: O que ouve as minhas palavras, mas acrescentou, dizendo: O que ouve estas minhas palavras, indicou — creio — suficientemente que estas palavras ditas na montanha ordenam tão perfeitamente a vida dos que desejam viver segundo ela, que estes podem com razão ser comparados a quem edifica sobre a pedra. Isto disse, para que se veja que este sermão, por todos os preceitos que informam a vida cristão, é perfeito’.
  2. Santo Tomás de Aquino, Super Matth. vii l. 2, n. 670: ‘Todo aquele, pois, que ouve etc. Mostra que, sem obras, nada é suficiente, nem mesmo a escuta da palavra de Deus; porque a escuta ordena-se à fé; a porém vem pela pregação (Rm 10,17). Ora, a escuta não é suficiente. E o manifesta duplamente, porque propõe a sorte do que ouve e faz, e a do que ouve e não faz, com uma semelhança’. — E o Espírito Santo disse: Vós, aplicando todo o cuidado, juntai à vossa fé a virtude, à virtude a ciência a temperança, à temperança a constância, a constância a piedade, à piedade o amor fraterno, ao amor fraterno a caridade… Irmãos, ponde cada vez maior cuidado em tornardes certa a vossa vocação e eleição [por meio de boas obras] (1Pd 1,6.10).

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