Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 6,7-15)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais. Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. Mas, se vós não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes”.

Celebramos com alegria a Memória de São Tomás More e São João Fisher, um leigo e um bispo que se dedicaram a defender não somente a fé católica e a unidade da Igreja, mas também a sacralidade do matrimônio.

Conhecemos a história da veleidade do rei Henrique VIII da Inglaterra, que queria ter um filho homem como herdeiro. Ele já tinha uma herdeira, sua filha Maria, nascida em legítimo casamento; no entanto, começou a confabular argumentos teológicos para justificar que seu casamento não era válido e que o Papa, portanto, deveria declará-lo nulo. O Papa, graças a Deus, não cedeu a esses rogos, então Henrique VIII declarou-se chefe da igreja da Inglaterra. Ele, que antes defendia a fé católica, agora havia se tornado um traidor. 

Vejam que coisa impressionante. Quando uma pessoa tem a fé católica, crê nas coisas de Deus, mas não está disposto a pagar o preço da fé, termina traindo a Deus.

Diante da tentação, nos recorda o escritor antigo Orígenes, o cristão ou sai mártir ou sai idólatra. Você precisa escolher: ou servir a Deus e morrer mártir pagando o preço, mesmo que não seja o do derramamento do sangue, mas o de não ter por herdeiro um filho homem, por exemplo, ou se tornar idólatra e se colocar no lugar de Deus. Foi isso o que Henrique VIII fez.

Muitos acham que o problema de Henrique VIII foi ter-se colocado no lugar do Papa; na verdade, o problema dele foi ter-se colocado no lugar de Deus.

Assim, o desejo louco de ter um herdeiro homem levou-o às mais absurdas decisões, como a de mandar matar algumas de suas mulheres. Desse modo, Henrique VIII teve nada mais nada menos que seis esposas consecutivas; tudo para que ele pudesse finalmente ter o seu herdeiro homem.

Pois bem, mas não existem somente pessoas como Henrique VIII; também existem leigos do calibre de São Tomás More e bispos do calibre de São João Fisher. Este último fora feito cardeal enquanto estava na prisão. E a resposta de Henrique VIII foi: “Muito bem, que o Papa o faça cardeal; irei providenciar que ele não tenha cabeça para receber o chapéu”.

Assim, Henrique VIII mandou decapitar tanto um leigo seu amigo, no qual muito confiava, Tomás More, quanto um bispo que ele muito admirava, João Fisher. A tais loucuras e extremos chegam as pessoas que não querem pagar o preço da fé católica; mas, graças a Deus, existem os mártires, que pagaram o preço e servem de testemunho para nós.

São Tomás More tinha muito a perder: perdeu títulos, perdeu propriedades, perdeu a família, perdeu a vida, mas não perdeu a Deus. São João Fisher, como bom sucessor dos Apóstolos, também derramou seu sangue como os Apóstolos um dia derramaram.

Que nós hoje, vivendo nestes tempos atribulados — nos quais ninguém quer pagar o preço da fé e onde há muitos como Henrique VIII e poucos como João Fisher e Tomás More —, tenhamos nesses dois intercessores não somente um modelo, mas a ajuda da graça divina para que também saibamos derramar nosso sangue diante da tentação e não terminar como idólatras, mas mártires.