Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 11,11-15)
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: “Em verdade eu vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele. Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e são os violentos que o conquistam. Com efeito, todos os Profetas e a Lei profetizaram até João. E se quereis aceitar, ele é o Elias que há de vir. Quem tem ouvidos, ouça”.
Celebramos hoje o grande Doutor da Igreja São João da Cruz. Juntamente com Santa Teresa d’Ávila e atendendo ao convite dela, São João da Cruz foi o reformador do Carmelo.
Muita gente pensa assim: “São João da Cruz e Santa Teresa eram coetâneos e, portanto, de igual estatura espiritual”. Na verdade, não era assim. Santa Teresa d’Ávila tinha idade para ser mãe dele quando os dois se encontraram. São João da Cruz era um grande santo já naquela altura; mas Santa Teresa o superava. Então, Santa Teresa convidou São João da Cruz para empreender a reforma do Carmelo, e assim fundaram o primeiro Carmelo masculino, em Duruelo.
São João da Cruz, em sua vontade de se unir a Deus cada vez mais, começou a dirigir também as almas das irmãs, para que elas pudessem se entregar e seguir o caminho da santidade, sempre aprendendo muito com Santa Teresa d’Ávila, porém — e aqui está a grandeza desse Doutor da Igreja — sistematizando teologicamente aquilo que Santa Teresa d’Ávila ensinava intuitivamente.
Algumas pessoas, porém, têm dificuldade de ler esse grande Doutor da Igreja. Por quê? Bom, a primeira coisa: porque começam errado.
Aqui no Brasil, por exemplo, infelizmente, miseravelmente, se você for comprar as obras de São João da Cruz, ou você as compra inteiras, completas (as Obras Completas), ou então as únicas que estão disponíveis separadamente são a Subida do Monte Carmelo e a Noite Escura, que são exatamente as obras “negativas”, por assim dizer, de São João da Cruz. Aí a pessoa lê tudo aquilo, e parece algo tão para baixo: o “Nada da criatura”; a “Noite escura”, a necessidade da penitência. Por esse primeiro contato com as realidades “negativas”, São João da Cruz é um santo que parece não atrair.
É necessário começar a ler São João da Cruz através de obras mais “positivas”, como o Cântico Espiritual e a Chama Viva de Amor. Essas obras mostram o verdadeiro amor que justifica toda aquela negação, toda aquela espiritualidade cheia de ascese e de sacrifícios.
Para você entender do que se está falando, vamos dar um exemplo dos próprios pais de São João da Cruz. O pai de São João da Cruz, Gonçalo, pertencia à pequena nobreza espanhola, mas ele se apaixonou por Catarina, que era pobre. A família não apoiou o casamento. No entanto, ele se casou mesmo assim e perdeu não somente o título, mas também a herança. Ficaram pobres e passaram fome, mas permaneceram juntos.
Como o pai de São João da Cruz foi capaz de deixar tudo? Porque ele tinha um grande amor, um grande amor, que era a sua querida Catarina.
Assim também São João da Cruz mostra que, na vida espiritual, a alma esposa precisa fazer isso pelo divino Esposo, Jesus. Se nós temos a experiência desse amor por Cristo — o Amado do Cântico Espiritual e da Chama Viva de Amor —, precisamos estar dispostos a deixar tudo — Noite Escura, Subida do Monte Carmelo — para encontrar o Esposo. E isso encaixa-se perfeitamente dentro da espiritualidade do Advento.
Nós temos o Esposo que vem. Precisamos deixar tudo, ao ouvir aquele grito no meio da noite. O Esposo está vindo; precisamos deixar tudo para abraçar Aquele que vem.
O que achou desse conteúdo?
Temos que viver uma vida de sacrifício para praticarmos as virtudes ensinadas por Nosso Senhor Jesus Cristo!
Um dia, São João da Cruz, sacerdote neste mundo, ao sair de um convento das Irmãs Descalças, uma telha cai na cabeça de seu irmão, Frei Jerônimo.
A telha se desfaz em pedaços e o barulho é tão forte e seco que o padre João pensa que ela se espatifou na pedra junto à porta.
Frei Jerônimo grita assustado; Oh! Deve ter-me rompido a cabeça!
São João da Cruz se volta rapidamente para trás e, esfregando-lhe a cabeça com as mãos lhe diz: "Eia, que não há de ser nada!"
Frei Jerônimo não sente nenhuma dor.
Fonte: A vida de São João da Cruz de Crisógono de Jesus Sacramentado
A palavra empregada acima por São João da Cruz: "Eia!" não, não é 'estudo de impacto ambiental', corrompido pelos homens, mas a interjeição elevada em grau acima da emoção e sensação, mais na categoria de ordem e apelo, naquele olhar para o alto que sobe aos céus como na fumaça de nossas orações, intenções e súplicas, incensadas (onibanum - olíbano - a Bíblia o menciona 170 vezes), pelo turíbulo. Sim, Ela nos ouve! Eia pois advogada nossa...
Hoje ouvimos no Evangelho:
... de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele"...
Esta passagem nos leva a São Jerônimo, mesmo nome adotado pelo "frei da telha rachada" acima. São Jerônimo nos faz compreender que "todo santo que já está com o Senhor é maior que aquele que ainda está em meio aos combates, porque uma coisa é cingir a coroa da vitória", como São João da Cruz, "e outra ainda lutar na linha de batalha", onde nos encontramos nas nossas ações neste mundo.
Depois ouvimos:
... "o Reino dos Céus sofre violência, e são os violentos que o conquistam.
Com efeito, todos os Profetas e a Lei profetizaram até João.
E se quereis aceitar, ele é o Elias que há de vir.
Quem tem ouvidos, ouça".
Novamente suplicamos a São Jerônimo, que não exclui a possibilidade de, "depois de João Batista, surgirem outros profetas", como nos ensina o Ato dos Apóstolos, "mas tudo o que profetizaram a Lei e os profetas, cujos escritos lemos, cumpriu-se em Cristo", e acrescenta que, "devemos fazer grande violência a nós mesmos, nós que fomos engendrados na terra, para alcançar o trono dos céus e possuí-lo por uma virtude que não temos por natureza.
O patriarca do Carmelo Elias, visto por Pedro, Tiago e João, vivo no céu “pelo fogo”, “em um redemoinho, prefigurou a Ascensão ao Céu de Jesus e São João da Cruz nos ensina o caminho:
“Não faça coisa nenhuma nem diga palavra que Cristo não faria ou não diria se encontrasse as mesmas circunstâncias.”
São João da Cruz, rogai por nós!