Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 11, 11-15)

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: “Em verdade eu vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele. Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e são os violentos que o conquistam. Com efeito, todos os profetas e a Lei profetizaram até João. E se quereis aceitar, ele é o Elias que há de vir. Quem tem ouvidos, ouça”.

No Evangelho de hoje, Jesus fala de São João Batista e nos coloca diante de uma frase bastante curiosa: “Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e são os violentos que o conquistam” (Mt 11, 12). 

Essa afirmação parece muito contraditória com a ideia que temos do cristianismo, conhecida como a religião da paz. Os próprios anjos anunciaram na noite de Natal: “Paz na terra aos homens por Ele amados” (Lc 2, 14). Logo, de que forma é possível que o Reino dos Céus seja dos violentos? 

Na realidade, precisamos apenas saber interpretar bem essa passagem do Evangelho. O texto grego utiliza a palavra biazetai (βιάζομαι), que significa “fazer violência” e está ligada à ideia de força vital, já que a partícula biá é semelhante a bios (vida). Isso quer dizer que o Reino dos Céus não é para as almas tíbias, sem energia, e sofre violência exatamente porque é necessário que haja dentro de nós um ímpeto para que realmente entremos no caminho de santidade que Deus quer para nós. 

Na sua santa Regra, São Bento nos fala dessa realidade descrevendo as pessoas que estão buscando a entrega a Deus como aquelas que “tomaram de assalto” a vida espiritual, justamente porque têm uma grande pressa de amar ao Senhor constantemente. Esta é a nota mais evidente da virtude da esperança — que é a marca do tempo do Advento. 

Porém, a esperança cristã é muito diferente de uma espera ou de um aguardo passivo de alguém que espera de braços cruzados o tempo passar: “Ah, vamos aguardar, daqui a pouco será meia-noite do dia 24 e virá o Natal”. O cristão esperançoso tem como característica mais evidente o ímpeto violento de ser santo o mais depressa possível. Essa é a descrição psicológica, mas o que seria de fato a esperança cristã? É uma confiança e uma certeza de que Deus está nos dando todas as graças necessárias, neste mesmo instante, para cumprirmos a missão de amá-lo verdadeiramente. 

Então, o Reino dos Céus é dos violentos, ou seja, daqueles que, na certeza de que têm a força de Deus, “assaltam” a vida espiritual e dizem: “Não vou esperar pelo amanhã; é agora que vou me desfazer desta vida de egoísmo e pecado e assumir a minha vocação de santidade, para amar a Deus o mais depressa possível”. 

No Evangelho de hoje, Nosso Senhor também afirma o seguinte: “[...] de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”. Aqui, é preciso entender que Jesus está referindo-se ao Novo Testamento. Ou seja, São João Batista — que era do Antigo Testamento — é menor do que aqueles que — já no Novo Testamento — conheceram o próprio Salvador, recebendo d’Ele essa força vital que nos impele a mudar de vida.

Quando Jesus nos visita, Ele é uma presença viva, que nos dá a graça com a qual podemos fazer proezas. Portanto, peçamos a Deus essa vontade resoluta de tomar de assalto a vida espiritual e ser santos, vivendo conforme o que Ele deseja para nós.