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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 12, 44-50)

Naquele tempo, Jesus exclamou em alta voz: “Quem crê em mim não é em mim que crê, mas naquele que me enviou. Quem me vê, vê aquele que me enviou. Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.

Se alguém ouvir as minhas palavras e não as observar, eu não o julgo, porque eu não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo. Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras já tem o seu juiz: a palavra que eu falei o julgará no último dia. Porque eu não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele é quem me ordenou o que eu devia dizer e falar. Eu sei que o seu mandamento é vida eterna. Portanto, o que eu digo, eu o digo conforme o Pai me falou”.

O Evangelho de hoje nos coloca diante de uma espécie de recapitulação da mensagem de Cristo antes de Ele entrar no Cenáculo com os doze Apóstolos na Última Ceia. Nós estamos no capítulo 12 de São João. São os últimos versículos. Do capítulo 13 em diante, Jesus estará no Cenáculo, numa mensagem diferente, numa mensagem privada para os seus Apóstolos. Aqui, o Evangelho, no trecho que proclamamos hoje, se inicia com um brado, com um grito de Jesus: ἔκραξεν.

O que Jesus diz em altíssima voz? Ele nos dá uma mensagem de fé: é necessário crer nele. “Quem crê em mim, não é em mim que crê, mas é naquele que me enviou. Eu vim como luz para este mundo”. Aqui São João faz como uma espécie de inclusão. No início do Evangelho, Jesus é apresentado como luz que veio ao mundo, mas as trevas não receberam Jesus. Aqui, Jesus como que apela mais uma vez: “Eu vim como luz” e pede — quase suplica — fé, que as pessoas verdadeiramente creiam e acolham a Ele como o mensageiro do Pai.

O evangelho de São João quer a todo momento nos colocar o Cristo como aquele que é a testemunha do Pai, aquele que viu o Pai face a face. Lá no prólogo, no capítulo 18, ele diz: “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Filho unigênito, que está na intimidade do Pai”, que está voltado para o peito do Pai, “foi Ele quem nos deu a conhecer”. No Evangelho de hoje, Jesus diz: “Quem me vê” ou, melhor traduzido: “Quem me contempla, contempla o Pai, não é somente a mim que me contempla”. Ou seja, Jesus, que vê o Pai no Céu, que contempla o Pai no Céu, torna-se como um espelho, porque Ele é a imagem do Pai. Aqui nós temos a centralidade da nossa fé cristã, e é necessário aceitar Cristo como o mensageiro do Pai.

Quais as consequências práticas disso para a nossa vida? Bom, em primeiro lugar, o Evangelho nos diz com toda a clareza que Jesus não veio para julgar. Isso parece uma contradição porque, no capítulo 5, versículo 22, Jesus diz: “O Pai não julga, sou eu quem julgo. Ele entregou a mim o julgamento”. Então, Jesus veio ou não para julgar?

A resposta é simples: Ele não veio para julgar agora. Com sua Encarnação, Ele veio como Salvador, mas um dia Ele virá como Juiz. Nós precisamos agora acolhê-lo, ter fé no Cristo e abraçá-lo como nosso Salvador. Esse é o ato de fé que Jesus brada, que Jesus grita, que Jesus implora e quase que suplica de nós. É agora o momento de aceitá-lo e abraçá-lo como Salvador, antes que seja tarde e nós tenhamos de encará-lo como juiz. Jesus diz: “Quem me vê, vê o Pai”.

O que vemos? O que é essa luz maravilhosa que vem do Cristo, que ilumina a nossa vida? É o fato de que estamos no tempo da misericórdia, o tempo de nos arrepender, de deixar as más obras, de abraçar os mandamentos, de viver a palavra de Cristo. Eis aí a misericórdia, eis o tempo de conversão, o tempo em que Nosso Senhor não somente nos fala na intimidade do coração; Ele grita, Ele brada, Ele suplica. Vamos ter fé. Vamos mudar de vida.

* * *

V. 44. O que segue, Jesus o pronunciou noutro dia, como se conclui do v. 36. Precisamente em que dia não se pode determinar, nem se foi na segunda, na terça ou na quarta-feira da semana santa. O conteúdo deste sermão já foi objeto de pregação, por isso é verossímil que Jesus tivesse os costume de repetir aos judeus a mesma doutrina, não raro com as mesmas palavras. — Não é em mim que crê, mas… É um hebraísmo para “não crê menos em mim do que nele”. Cristo, com efeito, fala como enviado do Pai.

V. 45. E como enviado consubstancial àquele que o enviou: de modo que quem me vê, vê aquele que me enviou (cf. 10,30; 14,9), “porque uma só é a natureza de ambos. Por isso, assim como, pela humanidade, vê minha divindade nela oculta, do mesmo modo vê também a divindade de meu Pai, por serem uma e a mesma” (a Lapide). — V. 46. Eu vim ao mundo como luz… Cf. 8,12, onde se diz o mesmo em sentido idêntico. — V. 47. Eu não o julgo, isto é, não o condeno (cf. 8,15; 3,17; 8,50; 5,27.45). Cristo fala aqui somente do que diz respeito à sua primeira vinda, de bondade e de misericórdia; agora, nada diz da segunda vinda, mas em 5,27.

V. 48. Insinua que os que não creem já têm em si mesmos motivo de justa condenação; logo, ainda que Ele não , não há por que os incrédulos se sentirem seguros: já têm, com efeito, o seu juiz (τὸν κρίνοντα αὐτόν) e, por conseguinte, já foram julgados (cf. 3,18). Mas quem é que já os tem julgado? Não é a palavra de Cristo, o qual os julgará de fato, não agora mas no último dia. Têm, portanto, ao Pai como juiz, conforme 8,50 e 12,44. — E, além disso, a palavra… os julgará no último, isto é, será o argumento inelutável de sua condenação.

V. 49. Porque eu não falei por mim mesmo. Eis a razão do juízo: não quiseram receber as palavras do próprio Deus. — Ele é quem me ordenou o que eu devia dizer, o que se pode explicar por referência a ambas as naturezas; mas, se se restringe à divina, a expressão há de tomar-se metaforicamente, enquanto denota a comunicação imanente da ciência divina ao Filho pelo Pai.

V. 50. O seu mandamento é vida eterna. Tudo aquilo para o qual o Pai me enviou é para os homens fonte e causa de vida eterna sobrenatural. — O que eu digo, eu o digo conforme o Pai me falou. É como uma recapitulação de toda a doutrina de Cristo sobre si mesmo, a qual Ele insistiu em inculcar nos judeus esses últimos dias.

Escólio dogmático.a) A divindade de Cristo. 1) V. 45: Quem me vê, vê aquele que me enviou, palavras que não podem ser adequadamente entendidas, se não significam a unidade e a identidade de natureza divina entre o Pai e o Filho. — 2) No v. 40 diz-se que Isaías viu a glória de Jesus Cristo e dele vaticinou na célebre visão em que o profeta afirma ter visto o Senhor (אֲלנָי) sentado sobre o sólio… Logo, São João identifica Cristo com Javé, Deus único e supremo, de incomunicável majestade. — b) A reprovação dos judeus. Mostra-se que a cegueira dos judeus e sua exclusão da salvação messiânica foram preditas no AT, razão por que a mesma cegueira é um argumento válido da missão divina de Jesus Cristo (v. 38ss).

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