Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 23, 27-32)
Naquele tempo, disse Jesus: “Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós sois como sepulcros caiados: por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão! Assim também vós: por fora, pareceis justos diante dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e injustiça.
Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós construís sepulcros para os profetas e enfeitais os túmulos dos justos, e dizeis: ‘Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos sido cúmplices da morte dos profetas’. Com isso, confessais que sois filhos daqueles que mataram os profetas. Completai, pois, a medida de vossos pais!”
Breve explicação do Evangelho. — V. 25-28. Com uma dupla imagem ou comparação condena Cristo a hipocrisia dos sinedritas: a) no Evangelho de ontem, comparando-os com quem purifica por fora, mas não por dentro, o copo com que come ou bebe; b) no de hoje, comparando-os com um sepulcro caiado exteriormente, mas cheio de podridão e imundície no interior. Alude Jesus ao costume judaico de lançar cal sobre sepulcros abertos, sobretudo antes das festas pascais, para que nenhum desavisado passasse por cima e se tornasse legalmente impuro (cf. Nm 19, 16).
V. 29-33. É a última das oito lamentações (cf. Mt 23, 13-33; Lc 11, 39-48) contra os chefes do povo. Os escribas e fariseus erigiam e enfeitavam monumentos, sepulcros etc. para os profetas, a quem haviam matado seus pais, mas afirmavam não ter nada que ver com o crime deles. Eles mesmos, no entanto, se condenam por seu próprio testemunho, pois reconhecem ser filhos dos que mataram os profetas e, com suas ações, mostram ter a mesma índole paterna. Por isso, o Senhor lhes diz: “Completai, pois, a medida de vossos pais!”, isto é: “Eles mataram os servos; matai, pois, o Senhor” (Haymo de Halberstadt, In Isaiam I: PL 116, 723D).
Há certa dificuldade em concordar os evangelhos segundo Mateus (cf. 23, 31) e Lucas (cf. 11, 48); este, com efeito, escreve: “Vós servis assim de testemunhas das obras de vossos pais e as aprovais, porque em verdade eles os mataram, mas vós lhes edificais os sepulcros”. É provável, diz Maldonado, que Cristo tenha dito as duas coisas, embora cada um dos evangelistas tenha registrado apenas uma parte do discurso. É evidente que o Senhor não quis dizer que os judeus construíam sepulcros em honra dos profetas em sinal de aprovação do crime de seus pais. O sentido mais provável destas palavras, segundo alguns intérpretes, parece ser esta: “Enquanto edificais sepulcros para os justos, por vossos atos e pela intenção que tendes de matar-me a mim e aos Apóstolos que enviarei, mostrais que sois imitadores de vossos pais; dir-se-ia que, se estes mataram os profetas, fostes vós que lhes abristes a sepultura” [1].
Reflexão. — 1) A ciência de Cristo. Nosso Senhor, que por seu entendimento divino tudo conhecia, via também, por sua ciência infusa, os segredos dos corações, como diz o evangelista S. João: “Ele não necessitava que alguém lhe desse testemunho do homem, pois ele bem sabia o que havia no homem” (Jo 2, 25). Por isso, repreendia com justa dureza os escribas e fariseus, cuja hipocrisia, por oculta que fosse aos homens, estava nua e descoberta aos seus olhos: Væ vobis, scribæ et pharisaei hypocritæ! — 2) As duas caridades. Ao repreender os chefes do povo, dá Jesus exemplo dos dois amores que motivam e, em certos casos, até exigem, com prudência e discernimento, a correção fraterna em público: a) amor ao pecador, para que se converta e emende sua vida; b) e amor aos circunstantes, para que não se escandalizem e aproveitem, aplicando-a si, a correção feita a outro.
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