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“Foi o amor que te fez pobre por mim”

Tudo faltou para aquele Menino que dentro de poucos dias contemplaremos no presépio de Belém: pão, agasalho e fogo, menos a capacidade de amar e fazer-se pobre por nós, a fim de que por sua pobreza nos tornássemos ricos.

Texto do episódio
31

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 1,18-24)

A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo. Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco”. Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado, e aceitou sua esposa.

Continuamos a nossa meditação a respeito do hino de Santo Afonso Maria de Ligório Tu scendi dalle stelle, e hoje, dia 18 de dezembro, dia da Expectação do Parto de Nossa Senhora, dia de Nossa Senhora do Ó, qual é o conteúdo da segunda estrofe de Santo Afonso? Ele fala sobretudo da pobreza.

A segunda estrofe pode ser lida, como chave de leitura, a partir do capítulo segundo da Carta de São Paulo aos Filipenses, ou seja, do esvaziamento de Cristo, deste ‘ἐσκήνωσεν [eskēnōsen]’. Ou seja: “embora fosse de condição divina”, igual a Deus em tudo, Jesus “se esvaziou a si mesmo e assumiu a forma de servo [de escravo], obediente até a morte, e morte de cruz”.

Esse esvaziamento é visto aqui por Santo Afonso como uma realidade da pobreza, vivida desde o início na humildade do presépio. Na manjedoura, Jesus viveu a pobreza desde o primeiro instante da sua vida neste mundo. Santo Afonso diz: “A ti, que és o Criador do mundo, faltaram pão e fogo, ó meu Senhor”.

O contraste é poético. Ele é o Criador do mundo. Como foi possível que aquele que sustenta as estrelas no céu não tivesse fogo para se aquecer e, na noite do seu Natal, não tivesse pão para comer? (Aqui, “pão” em sentido figurado, porque uma criança recém-nascida não come pão; mas é para mostrar a pobreza radical).

E o santo prossegue: “Querido Infante escolhido, quanto esta pobreza me enamora, já que o amor te fez ainda mais pobre”. Aqui, vemos a realidade da alma que fica apaixonada por essa pobreza. Toda experiência de amor tem de ter uma experiência de pobreza, porque quem ama de verdade deixa os falsos amores para abraçar o amor verdadeiro; e esse deixar os falsos amores é uma experiência de pobreza, de desapego.

É como aquela esposa ou noiva enamorada, que deixa tudo por seu amado. Ao ser chamada por ele, ela deixa tudo para encontrá-lo, nem sequer leva bagagem consigo; vem imediatamente e responde ao seu apelo. Esse é o sinal mais claro do enamoramento de uma alma apaixonada. Ou seja: é algo que não custa a quem ama.

Quando falamos da pobreza evangélica de pessoas que, como Francisco de Assis, deixam tudo por amor a Jesus, nós às vezes não enxergamos que isso é uma resposta de amor. Por isso que São Francisco era apaixonado pelo mistério da Encarnação, e foi exatamente ele quem começou a fazer encenações do presépio de Natal.

É uma espiritualidade eminentemente franciscana a de amar o Menino Jesus, pequenino, por ver que Deus se fez pobre e, então, nós lhe respondemos com nossa pobreza. Trata-se de um mistério de amor da Igreja, que responde ao seu divino Esposo; expressão da alma enamorada que vê quanto o Esposo “deixa tudo por ela” e que também quer deixar tudo por Ele.

É assim, então, que Santo Afonso exclama na sua poesia: “Quanto questa povertà più m’innamora”, ou seja, “quanto essa pobreza me deixa mais apaixonado”, mais embevecido, enlevado, extasiado de amor, por ver quanto Ele fez por mim. 

Quomodo talem amorem no redamare?”, diz Santo Agostinho. “Como eu não vou amar de volta um amor assim?” Afinal, “Giacché ti fece amor povero ancora”, ou seja, “de fato, foi o amor o que te fez pobre”, pobre por mim.

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