Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 10,34–11,1)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Não penseis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas sim a espada. De fato, vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de sua sogra.
E os inimigos do homem serão os seus próprios familiares. Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim.
Quem procura conservar a sua vida vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim vai encontrá-la. Quem vos recebe a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Quem recebe um profeta, por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo. Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa”. Quando Jesus acabou de dar essas instruções aos doze discípulos, partiu daí, a fim de ensinar e pregar nas.
Celebramos hoje a memória de São Bento de Núrsia, pai do Ocidente, que, por meio de sua famosa Regra monástica [1], transformou para sempre a história da humanidade. No capítulo V da Regra, São Bento nos fala de uma das características essenciais da vida cristã: a obediência, primeiro grau da humildade e fundamento sobre o qual, juntamente com a virtude da fé, se ergue todo o nosso edifício espiritual. Primus humilitatis gradus est obœdientia sine mora, “O primeiro grau da humildade é uma obediência sem demora”, quer dizer, que não se perde em contemporizações nem cálculos.
Por isso a obediência e, por conseguinte, o princípio de uma santidade frutuosa só convém àqueles que nada estimam mais do que a Cristo: Hæc convenit his, qui nihil sibi a Christo carius existimant, isto é, aos que, desejando ser santos, quer por medo ao inferno (seu propter metum gehennæ), quer por amor à glória da vida eterna (vel propter gloriam vitæ æternæ), começam a alimentar o desejo de se unir ao Senhor, cuja vontade se dispõem a realizar o mais prontamente possível: Moram pati nesciant in faciendo.
Essa pressa em agradar a Cristo, para com Ele estar unido, não é mais do que um sinal da presença da virtude da esperança. Prova disso é que os obedientes e, portanto, os humildes e cheios de fé, apoderados do desejo de vida eterna, “lançam-se como de assalto ao caminho estreito do qual dissera o Senhor: ‘Estreito é o caminho que leva à vida’” (Jo 6,38): Ideo, angustam viam arripiunt, isto é, tomam com violência, sabendo dos percalços que terão pela frente, todos os meios conducentes à salvação, pois “o reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos”, os decididos e determinados, “que o conquistam” (Mt 11,12).
Isso significa na prática que é absolutamente imprescindível que nos disponhamos com vontade firme e constante a pagar o preço de chegarmos santos ao Céu: a) separar um tempo para rezar todos os dias, segundo as possibilidades do estado de vida de cada um; b) determinar-se a amar a Deus com toda a intensidade possível no único momento que temos, que é o presente; c) organizar-se para receber, não só com mais frequência, mas com mais fruto e melhor preparo os sacramentos da Penitência e da Eucaristia. — De olhos fixos no Senhor, que nada nos distraia, nada nos desanime: lancemo-nos de assalto à vida espiritual, pois estreito é o caminho que leva ao reino dos céus, e são os violentos que o conquistam.
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