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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 12, 46-50)

Naquele tempo. enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo”. Jesus perguntou àquele que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

1. Glorificação da Mãe de Cristo (cf. Lc 11, 27s). — O único a mencionar este fato é S. Lucas, que de todos os evangelistas costuma ser o mais diligente em referir as ações do Senhor.

Enquanto Ele assim falava, isto é, ao refutar Cristo com tal doutrina e força de argumentos as injúrias dos fariseus, levantou a voz em sinal de admiração uma mulher do meio do povo, isto é, alguma mulher desconhecida, e lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram, isto é, bendita e digna de honra e louvor a mulher que te concebeu, deu à luz e alimentou. — É provável que esta mulher tenha irrompido em tais palavras movida pelo Espírito Santo, daí o louvor da maternidade divina. “De grande devoção e fé mostra ser esta mulher, que, enquanto os escribas e fariseus tentavam e blasfemavam o Senhor, com tanta clarividência conheceu, melhor do que todos, a Encarnação e com tanta firmeza a confessou, que rebateu a um tempo a calúnia dos próceres presentes e a perfídia das heresias futuras” (S. Beda, Hom. 19).

Mas Jesus replicou: Antes, bem-aventurados aqueles que ouvem a Palavra de Deus, que eu prego, e a observam. Segundo muitos acatólicos, o advérbio μενοῦν (lt. quinimmo; pt. “antes”) implica uma restrição ou correção do que dissera a mulher, de modo que o sentido das palavras de Jesus seria: “Pelo contrário, bem-aventurados os que ouvem” etc. No entanto, de acordo com a maioria não apenas dos católicos, mas também dos protestantes, não se trata de uma correção, mas de uma confirmação, já que o significado próprio dessa partícula é “de fato”, “tanto mais”. Ora, “quem diz ‘tanto mais’, afirma o que se disse e também o que se está a dizer, antepondo contudo o segundo dito ao primeiro. Assim, se alguém dissesse: ‘Como é bela a prata’, e tu respondesses: ‘Tanto mais o ouro’, não estarias negando, senão afirmando que a prata é bela, mas que o ouro o é mais” (Maldonado, Comm. in Luc. 11, 28). O sentido pois deste versículo é: a Virgem Deípara é de fato bem-aventurada por ter sido elevada ao fastígio da maternidade divina, mas o é muito mais “por ter feito a vontade do Pai” (S. Agostinho, In Ioh., tract. 10, 3). Não seria, com efeito, bem-aventurada ainda que tivesse gerado a Cristo segundo a carne, mas sem ouvir e guardar a Palavra de Deus [1].

2. A Mãe e os irmãos de Jesus. — Mateus e Marcos mencionam este breve episódio no mesmo ponto da vida pública, ao passo que Lucas o situa logo após a parábola do semeador. São oportunas, todavia, ambas as ocasiões. Não se sabe, em todo o caso, ao menos se admitimos a ordem seguida por Mateus e Marcos, se os irmãos do Senhor dos quais aqui se fala são os mesmos que, em Mc 3, 21, tencionavam reter o Senhor. Poder-se-ia admitir como mais verossímil a identidade entre uns e outros, não fosse o caso de os primeiros virem acompanhados da Virgem SS., enquanto os segundos foram ao encalço de Cristo por julgá-lo “fora de si”. De fato, seria sumamente indigno da Mãe de Deus estar envolvida, mesmo que só de corpo presente, nessas tentativas imprudentes. Logo, uma vez que a razão de terem vindo os parentes de Cristo para falar-lhe não é revelada, devemos confessar nossa ignorância; mas, ao mesmo tempo, afirmar como certo que, se a Mãe de Jesus estava entre eles, a razão só poderia ser boa e piedosa.

Ora, como, estando Jesus ainda a falar, alguém do meio do povo lhe dissesse (com que intenção, não se pode inferi-lo do Evangelho): Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, respondeu o Senhor com a mão estendida para os discípulos: Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai […], esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. Duas coisas, portanto, nos ensina Cristo com essas palavras: 1.ª) que a pregação não deve ser condicionada nem, muito menos, interrompida por motivos de sangue e 2.ª) que do Evangelho, isto é, da santa fé católica surge uma nova forma de parentesco, mais espiritual e, por isso mesmo, mais profunda e duradoura [2].

Referências

  1. Cf. S. Tomás de Aquino, Catena in Lucam, c. 11, l. 8: “S. João Crisóstomo, sobre S. Mateus: ‘Não foi esta a resposta de quem repudia a Mãe, mas de quem mostra que de nada lhe valeria o parto, se não fôra boa e fiel. Ora, se nem a Maria, sem as virtudes da alma, podia ser útil o ter dado Cristo à luz, muito menos a nós nos aproveitará de algum modo ter um pai, irmão ou filho virtuoso, se não nos fizermos imitadores de sua virtude’”.
  2. Tradução levemente adaptada de H. Simón, Prælectiones Biblicæ. Novum Testamentum. 4.ª ed., iterum recognita a J. Prado. Marietti, 1930, vol. 1, pp. 344-345, nn. 235-236.

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