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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 1, 19-28)

Este foi o testemunho de João, quando os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar: “Quem és tu?” João confessou e não negou. Confessou: “Eu não sou o Messias”. Eles perguntaram: “Quem és, então? És Elias?” João respondeu: “Não sou”. Eles perguntaram: “És o Profeta?” Ele respondeu: “Não”. Perguntaram então: “Quem és, afinal? Temos de levar uma resposta àqueles que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo?” João declarou: “Eu sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’” — conforme disse o profeta Isaías. Ora, os que tinham sido enviados pertenciam aos fariseus e perguntaram: “Por que então andas batizando, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?” João respondeu: “Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis, e que vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias”. Isso aconteceu em Betânia além do Jordão, onde João estava batizando.

Estamos iniciando 2021 e hoje já é o primeiro sábado do ano: recordamos pois a Imaculada; mas, também como data histórica, hoje é o aniversário de S. Teresinha do Menino Jesus, outra data feliz para os devotos recordarem. No calendário litúrgico, por sua vez, celebramos dois grandes bispos, dois grandes santos e dois grandes amigos: S. Basílio Magno, conhecido como Basílio de Cesaréia, e S. Gregório de Nazianzo. Ambos viveram no séc. IV e desempenharam um papel importantíssimo ao prepararem a Igreja para o desfecho feliz da proclamação do dogma trinitário no I Concílio de Constantinopla, em 381. Eu gostaria, porém, de chamar a atenção para a amizade espiritual entre os dois santos. A própria leitura do Ofício das Leituras nos recorda isso: trata-se de uma homilia feita por Gregório de Nazianzo por ocasião da morte de Basílio. Gregório recorda que tal era a comunhão de almas entre eles que pareciam ser uma única alma em dois corpos diferentes. O que S. Gregório descreve aqui, de forma poética, algo exagerada e hiperbólica, é um aspecto bem concreto da amizade cristã, e não somente dela, mas de qualquer verdadeira amizade. Afinal, que é uma amizade? Ora, a característica básica de uma amizade é a comunhão de corações, também chamada de concórdia: ter o coração no mesmo lugar. Por isso a amizade supõe querer as mesmas coisas e não querer as mesmas coisas: Idem velle, idem nolle

Quando, pois, as pessoas amam as mesmas coisas, há base para uma amizade sólida e concreta. Isso é válido para todos os tipos de amizade, inclusive para aquela forma sublime de amizade chamada casamento. Quando um casamento dá certo? Sim, supõe-se que marido e mulher se querem bem, mas para reforçar a união entre os dois, é importante que eles amem as mesmas coisas, principalmente o que é essencial para a vida, o que é primordial. Essa é a nota característica da amizade. Quando as pessoas querem apenas se amar mutuamente, pode haver repulsas, mas quando amam as mesmas coisas, caminham na direção e se unem de fato. Ora, quando nós transferimos essa observação natural para o mundo sobrenatural, a amizade se torna ainda mais extraordinária. Por quê? Porque, no mundo sobrenatural, nós todos somos membros do Corpo de Cristo. Quando, nos Atos dos Apóstolos, se descreve como os primeiros cristãos, movidos pelo Espírito Santo, tinham um só coração e uma só alma, ali está presente a maior amizade: ali, no coração da Igreja — diz S. Teresinha — existe um amor singular. No coração da Igreja, o Corpo místico de Cristo palpita com um só coração, pois todos querem as mesmas coisas, desejam as mesmas coisas. 

Isso une as pessoas de uma forma sobrenatural porque, na amizade cristã, cada qual renuncia ao seu coração para dar lugar a outro, ao Coração de Cristo, à configuração ao Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando eu não tenho mais o meu coração, minha vontade, meus caprichos etc., mas tenho o Coração de Cristo, e meu amigo, por sua vez, já também renunciou às próprias vontades e caprichos para dar lugar ao Coração de Cristo, temos então um só coração, uma só alma. É por isso que S. Gregório de Nazianzo, em sua homilia, diz que ele e S. Basílio se tomavam um ao outro como modelo: quando Gregório estava em dúvida se podia ou não fazer algo, ele se perguntava o que Basílio faria. Tal era, entre os dois, a comunhão com a vontade de Cristo, de maneira que um podia servir de exemplo para outro, um podia imitar o outro. Porque, no fundo, tanto Gregório quanto Basílio haviam desaparecido: viviam, mas não eles; era Cristo que vivia neles.

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