Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 9, 4-17)
Naquele tempo, os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: "Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?" Disse-lhes Jesus: "Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão.
Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo repuxa a roupa e o rasgão fica maior ainda. Também não se põe vinho novo em odres velhos, senão os odres se arrebentam, o vinho se derrama e os odres se perdem. Mas vinho novo se põe em odres novos, e assim os dois se conservam".
Cada pequeno detalhe do Evangelho contém uma verdade salvífica capaz de, iluminando nossos passos no desterro da terra, dirigir-nos para a nossa pátria bem-aventurada no Céu. Nesse sentido, a leitura de hoje, que nos faz saber de mais uma polêmica entre Jesus e os fariseus, tem muito a nos dizer sobre o verdadeiro significado de uma prática quase esquecida: o jejum. Em primeiro lugar, Cristo nos recorda que, durante a Antiga Aliança, uma das funções do jejum era simbolizar a espera pelo Esposo, porque é dEle — de Cristo Senhor — que a humanidade tem verdadeiramente fome e sede. Essa expectativa pelo Messias, vivenciada concretamente por meio da abstenção de todo alimento, é vivida por nós antes da comunhão, para a qual nos preparamos mediante o jejum eucarístico. O tempo de fome por que passamos antes de comungar, com efeito, faz-nos como que experimentar a mesma "fome" que os varões do Antigo Testamento nutriam pelo Salvador prometido. Ao vir, enfim, o Esposo se nos apresenta como alimento e bebida: "Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim", diz, "não terá mais fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede" (Jo 6, 35); e pouco mais à frente: "A minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida" (Jo 6, 55).
A comparação dos panos e dos remendos, por sua vez, nos recorda que é apenas pela renovação no Espírito Santo, que nos orna com seus sete dons sagrados, que podemos nos configurar às dores salvíficas de Jesus e às exigências espirituais de uma vida autenticamente cristã (cf. São João Crisóstomo, In Matthæum, Hom. XXX, 4). "Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha", ou seja, sem a regeneração do Batismo e o começo da vida da graça em nós, que valor têm as boas obras, os sacrifícios, os jejuns e as mortificações? "Porque o remendo repuxa a roupa e o rasgão fica maior ainda", quer dizer, temos de deixar a vida do homem velho (cf. Ef 4, 22) e, renovados no e pelo Espírito, nos unirmos ao Corpo Místico de Cristo — que é a Igreja —, comparado muitas vezes com a túnica inconsútil do Redentor. Despojemo-nos, pois, dos trapos de nossos vícios e pecados; peçamos a Deus, que nos fez nascer de novo para a verdadeira vida, que nos revista de sua graça e derrame em nossos corações de carne o "vinho novo" da caridade celeste. Não nos esqueçamos, por fim, de pedir à nossa Mãe do Céu que interceda por nós e nos torne cade vez mais configurados Àquele que não rejeitou nascer de seu seio virginal.
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