Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 3, 7b-15)
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: “Vós deveis nascer do alto. O vento sopra onde quer e tu podes ouvir o seu ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece a todo aquele que nasceu do Espírito”. Nicodemos perguntou: “Como é que isso pode acontecer?” Respondeu-lhe Jesus: “Tu és mestre em Israel, mas não sabes estas coisas? Em verdade, em verdade, te digo, nós falamos daquilo que sabemos e damos testemunho daquilo que temos visto, mas vós não aceitais o nosso testemunho. Se não acreditais, quando vos falo das coisas da terra, como acreditareis se vos falar das coisas do céu? E ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna”.
PROSSEGUE O COLÓQUIO DE CRISTO COM NICODEMOS. — Ponto 1. — “Vós deveis nascer do alto” (Jo 3, 7b). “Do alto”, no original grego, também pode significar “de novo”, isto é, pela regeneração batismal, que infunde no homem a graça santificante, conferindo-lhe a primeira justificação, e todas as virtudes sobrenaturais necessárias para que, renascido para a vida divina, ele possa operar como criatura nova, enxertada em Cristo e transformada, nEle e por Ele, em filho adotivo de Deus. Considera o valor do teu Batismo, arrepende-te das vezes que foste infiel aos teus compromissos e dá graças ao Senhor por te ter feito cristão, enriquecendo-te de tantos dons sobrenaturais e, acima tudo, com o acesso aos demais sacramentos: “Baptismum ianua est sacramentorum” (S. Tomás de Aquino, Suppl. 35, 3 s.c.)
Ponto 2. — “O vento sopra onde quer e tu podes ouvir o seu ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai” (Jo 3, 8). Usa Cristo de uma metáfora para tornar compreensível sua doutrina a uma inteligência demasiado carnal. “O vento”, isto é, o Espírito Santo “sopra onde quer” por sua omnímoda liberdade, pois Deus é soberano em sua ação e governo; “e tu podes ouvir o seu ruído”, ou seja, a sua voz, que se deixa ouvir, para os que ainda estão em pecado, nas Escrituras e nos pregadores e, para os que já estão em graça, nas inspirações e moções interiores que impulsionam no caminho da virtude; “mas não sabes de onde vem”, porque procede, por mistério eterno e inefável, do Pai e do Filho como de um só princípio de expiração; “nem para onde vai”, porque nos conduz àquela glória que nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano jamais imaginou (cf. 1Cor 2, 9; Is 64 ,4).
Ponto 3. — “Assim acontece a todo aquele que nasceu do Espírito” (Jo 8, 9). Quem nasce pois do Espírito há de refletir as mesmas qualidades: a) “sopra onde quer”, pela liberdade dos filhos de Deus (cf. Rm 8, 21), que, livres do pecado, vivem para a justiça; b) “tu podes ouvir o seu ruído”, porque a vida no Espírito, se é verdadeira, há de ser diferente da vida no pecado, ainda que c) “não saibas de onde vem, nem para onde vai”, porque Deus nos transforma, não por nossos méritos, mas por sua graça, que como fermento no meio da massa faz crescer o pão silenciosamente (cf. Mt 13, 33).
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