Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 9, 27-31)
Partindo Jesus dali, dois cegos o seguiram, gritando: "Tem compaixão de nós, filho de Davi!" Quando entrou em casa, os cegos se aproximaram dele, e Jesus lhes perguntou: "Acreditais que eu posso fazer isso?" Eles responderam: "Sim, Senhor." Então tocou nos olhos deles, dizendo: "Faça-se conforme a vossa fé." E os olhos deles se abriram. Jesus os advertiu: "Tomai cuidado para que ninguém fique sabendo." Mas eles saíram e espalharam sua fama por toda aquela região.
Jesus restitui hoje a visão a dois cegos da Galileia. Cegos, porque não viam com os olhos; não tão cegos, porque, à luz da fé, criam em Jesus. "Acreditais que eu os posso curar?", pergunta-lhes o Mestre. "Sim, Senhor", respondem esses humildes suplicantes que, embora não vissem com os olhos, enxergavam todavia com o coração. Tendo, pois, ouvido a profissão de fé daqueles homens, o Senhor tocou-os e, como haviam pedido, os "olhos deles se abriram." A grande cura que o Evangelista São Mateus nos insinua aqui, porém, não é a da cegueira física, mas a da fé, a do espírito que, privado da luz de Cristo, se fecha à Salvação. Por isso, o Senhor, embora soubesse que os dois já acreditavam, exigiu-lhes um testemunho inequívoco de que realmente criam: "Acreditais?" — "Sim, Senhor", respondem eles, como que a dizer: "Cremos, pois só Vós podeis dar a luz de que precisamos. A ninguém mais recorremos, porque só em Vós encontramos a verdadeira luz", num eco ao que canta o salmista na Liturgia desta 6.ª-feira (cf. Sl 26).
Se queremos aproveitar este tempo de luzes que é o Advento temos de, em primeiríssimo lugar, cuidar da luz interior da nossa fé. Porque é a fé em Deus e em Cristo Jesus a fonte de toda a nossa vida tanto moral quanto espiritual. A "obediência da fé" (cf. Rm 1, 5; 16, 26) a que se refere o Apóstolo Paulo é, com efeito, a nossa primeira obrigação e tem de ser o nosso maior cuidado, porque, se para os que não creem o "desconhecimento de Deus" é o princípio dos desvios morais (cf. Rm 1, 18-32), para nós, que por graça já cremos, a negligência da fé, a dúvida voluntária, a incredulidade etc. são um caminho curto e certeiro para a cegueira do espírito e, ao fim e ao cabo, para a condenação eterna. Por isso, ainda nesta vida devemos "alimentar e guardar com prudência e vigilância a nossa fé e rejeitar tudo o que se lhe opõe" (CIC, 2088), porque é pela fé que, crendo em Deus e dele dando testemunho aos homens, mantemos viva e pulsante a nossa comunhão com Ele e nos enraizamos na sua única Igreja, arca de salvação.
Que o Senhor seja de fato a nossa luz e a nossa salvação. Peçamos-lhe, pois, que aumente a cada dia a nossa fé, para que possamos, na glória dos Céus, habitar pelo resto de nossas vidas no seu santuário, onde saborearemos a sua suavidade e enfim o contemplaremos tal como Ele é (cf. 1Jo 3, 2), e não mais como num espelho, em enigma (cf. 1Cor 13, 12).
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