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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 11,1-4)

Um dia, Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”. Jesus respondeu: “Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’”.

O Evangelho de hoje é o evangelho do Pai-nosso. Ao verem Jesus rezar, os discípulos perguntam: “Senhor, ensina-nos a orar como João Batista ensinou também aos seus discípulos”, então Jesus ensina o Pai-nosso numa versão um pouco mais abreviada do que a de São Mateus.

É interessante notar o contexto no qual São Lucas coloca o ensinamento do Pai-nosso. Em São Mateus, o Pai-nosso está no Sermão da Montanha; aqui, São Lucas conta primeiro a parábola do bom samaritano, depois vem o episódio de Marta e de Maria e agora vem o Pai-nosso. É interessante notar que existe uma lógica espiritual nessa sequência.

Em primeiro lugar, o bom samaritano. O bom samaritano, no seu sentido alegórico, é o próprio Jesus, que desce para nos salvar; é a iniciativa divina, ou seja, o amor de Deus que, compadecido do ser humano, pega o ser humano ferido pelo pecado, leva-o até um lugar de hospedagem, que é a Igreja, dá-lhe todos os meios da graça — os sacramentos —, para que ele possa se recuperar.

Uma vez que nós somos objeto deste amor, esse amor nos arrebata e faz com que tenhamos fé, creiamos e verdadeiramente sejamos como Marta, absortos naquele amor contemplativo de quem está recebendo a Palavra.

Então, a primeira coisa da vida de oração, e o mais importante dela, é ouvir. Quando eu sou tocado pela Palavra de Deus, a verdade me ilumina. Então, Deus me ama e, historicamente, vem ao meu encontro; eu recebo essa notícia pela Palavra. Jesus está ali, pregando para Maria, e Maria, contemplativa, deixa de ser uma Marta agitada. Ela está pronta para rezar o Pai-nosso. A oração é uma resposta de amor a Deus, nosso Senhor.

A maior parte das religiões vive a oração não como resposta, mas como iniciativa humana, ou seja, como um esforço do ser humano para chamar a atenção da divindade, mais ou menos como os sacerdotes de Baal no Antigo Testamento, na época do Profeta Elias, que começavam a fazer incisões e a furar o próprio corpo para chamar a atenção de Baal, para que ele se compadecesse e viesse ao seu encontro.

Então, a oração, para as religiões pagãs, muitas vezes consiste numa tentativa do ser humano de fazer com que Deus se compadeça; como se a oração fosse uma iniciativa humana para provocar uma resposta da divindade.

Nós cristãos temos exatamente o contrário. Nós cristãos sabemos que Deus nos amou por primeiro; foi Ele o bom samaritano que desceu do Céu, veio ao nosso encontro e tomou a iniciativa.

O contrário disso seria pelagianismo, ou seja, a heresia, condenada pela Igreja, de dizer que a iniciativa é nossa e que Deus então responde. Não, é o contrário; é o primado da graça: primeiro Ele veio, e quando essa graça atinge o nosso coração, através da Palavra, pregada nas suas várias formas, nós precisamos parar para ouvir, como Maria parou diante de Cristo.

Então, o homem, tocado pela Palavra eterna e por esse amor da iniciativa divina, responde. E a vida de oração é justamente essa resposta.

Como vamos responder? O que vamos mudar em nós? Porque, se você se nos colocamos em oração, temos de estar dispostos a mudar, porque a resposta do amor só acontece quando nós, deixando o egoísmo do homem velho, assumimos um novo espírito, não um espírito de escravos, mas um espírito de filhos, que olham para o Céu cheios de gratidão e piedade para dizer: “Aba, Pai”.

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