Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 7, 1-5)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: "Não julgueis, e não sereis julgados. Pois, vós sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgardes; e sereis medidos, com a mesma medida com que medirdes. Por que observas o cisco no olho do teu irmão, e não prestas atenção à trave que está no teu próprio olho? Ou, como podes dizer a teu irmão: 'Deixa-me tirar o cisco do teu olho', quando tu mesmo tens uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu próprio olho, e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão".
Damos início nesta 2.ª-feira à leitura do sétimo capítulo do Evangelho segundo São Mateus. Dos diversos conselhos que passaremos a ouvir de agora em diante, a leitura de hoje nos refere o seguinte: "Não julgueis, e não sereis julgados". Jesus aqui nos adverte para não julgarmos ninguém de forma injusta e precipitada; trata-se de evitar a todo custo o que os teólogos vieram a chamar de juízo temerário, ou seja, crer com firmeza, mas sem razões suficientes, que uma pessoa cometeu esse ou aquele pecado e que o fez com tal ou qual intenção (cf. A Boulenger, Doutrina Cristã, II, 266).
Esta proibição de Cristo não se estende, obviamente, a todo e qualquer tipo de julgamento; o Senhor mesmo, em mais de uma oportunidade, nos mandou corrigir o irmão pecador, o que é impossível se não fizermos antes alguma avaliação moral a seu respeito. As próprias Escrituras, aliás, oferecem-nos exemplos abundantes de como e quando devemos corrigir os demais: temos, nesse sentido, a condenação do Batista ao adultério de Herodes (cf. Mt 14, 4; Mc 6, 18); as duras repreensões do Apóstolo Paulo à igreja de Corinto (cf. 1Cor 5); a sentença de São Pedro contra Ananias e sua esposa, Safira (cf. At 5, 3-10) etc. etc.
A malícia dos juízos temerários, com efeito, se deve não só à grave injustiça que cometemos ao lesar a estima e o direito do próximo à boa fama, mas também ao fato de que eles, na maioria das vezes, são frutos podres da nossa hipocrisia. É o que Jesus nos revela ao dizer: "Hipócrita, tira primeiro a trave do teu próprio olho". Ora, o hipócrita é aquele que cria uma máscara para os outros, julgando-os com uma severidade que ele próprio não suportaria, e para si mesmo, crendo-se melhor e mais "santo" do que na realidade é. De tanto gabar-se, o espírito hipócrita tende a perder o contato com a realidade; esquecido da miséria que é e sempre foi, ele acaba por fechar-se Àquele que "resiste aos soberbos" (cf. Tg 4, 6).
Para não cairmos no charco de uma vida hipócrita e repleta de falsidade, imploremos humildemente o auxílio de Deus: que Ele nos mostre, ainda que nos doa, a verdade libertadora (cf. Jo 8, 32) sobre nós mesmos, sem as escamas, as máscaras e as maquiagens com que imaginamos poder encobrir a realidade do nosso nada. Não deixemos de rogar também à Virgem Santíssima que nos alcance a graça de olharmos para os outros com o mesmo olhar com que Deus, justo e bom, nos olha a nós.
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