Com grande alegria celebramos hoje a memória do Santo Padre Pio de Pietrelcina, cuja vida foi uma verdadeira profecia de Deus. Às vésperas da maior crise que a Igreja iria viver a respeito do sacerdócio, Deus envia um sacerdote com sinais claros de sobrenaturalidade: os estigmas, os milagres, a vida de um taumaturgo que realizou, verdadeiramente, grandes maravilhas. Tudo isso para que, diante da crise que se aproximava, os fiéis fossem fortalecidos na fé.
Eis a primeira coisa sobre a qual precisamos refletir: o que é um sacerdote? Saber isso é fundamental para entender qual era a missão do Padre Pio. O sacerdote é aquele que oferece um sacrifício, em nome do povo, a Deus. Mas por que esse sacrifício é necessário? A nossa ideia comum de sacrifício remete a algo sempre sofrido, relacionado necessariamente à dor. Mas não é esse o sentido principal: sacrum facere é fazer algo santo, oferecendo-o a Deus.
É preciso oferecer algo a Deus, porque isso faz parte da própria natureza das coisas. É importante entendermos esse conceito. Vamos usar, como exemplo, as quatro ações que as crianças fazem em relação aos pais, considerando que nesta relação de total dependência elas são inferiores e os pais seus superiores. São as mesmas quatro atitudes básicas que qualquer inferior tem em relação a um superior, como nós devemos ter em relação a Deus, Sumo Bem, que está acima de todas as coisas: respeito, agradecimento, petição e satisfação.
A primeira coisa que a criança faz quando olha para o papai e a mamãe é respeitá-los, sabendo que eles são mais e ela é menos. Da mesma forma, o primeiro sacrifício que precisamos fazer diante de Deus é um sacrifício de adoração. Deus precisa ser adorado! Então, é necessário oferecer a Deus esses atos que mostram que “Ele é Deus e nós não somos deuses”. Inclinar-nos diante de nosso Criador, entregar a Ele um sacrifício de louvor e de adoração.
Segunda atitude da criança diante do papai e da mamãe: agradecimento. É claro! Afinal, a criança recebe tudo, ela não pode obter e dar comida para si mesma, nem proteção, abrigo ou remédios. Qualquer criança precisa ser grata diante de seus pais. Naturalmente, este é o segundo sacrifício que entregamos a Deus: um sacrifício de ação de graças.
A terceira coisa — inevitável — que a criança faz diante do papai e da mamãe: pedir. Ela precisa pedir coisas, pois tem necessidades. Então, é necessário que ela diga: “Mamãe, estou com fome”; “Papai, estou dodói”; “Papai, estou com medo, fica aqui comigo”. Ora, quando eu reconheço que o outro é mais e eu sou menos, então lhe peço as coisas de que necessito. É o sacrifício de petição, ou o sacrifício impetratório.
Por fim, a quarta coisa que uma criança faz diante do papai e da mamãe é pedir perdão. Porque pode acontecer de a criança “pisar na bola”, fazer alguma coisa errada e, ao reconhecer que aquilo foi ruim, pensar: “Eu precisava respeitar papai e mamãe, mas fui desobediente, fiz coisas erradas e por isso eu os ofendi”; e então ela pede perdão. É aquilo que chamamos de reparação, ou sacrifício satisfatório.
Então, são essas as quatro coisas que o sacrifício faz: adoração, ação de graças, petição e reparação. Perceba que isso faz parte da própria natureza das coisas — e se você não faz isso, é um desnaturado. Os seres humanos foram feitos para fazerem isso diante de Deus. Não se trata de uma invenção da Igreja, do Catecismo ou do Padre Paulo. Isso faz parte da própria ordem do nosso ser.
Agora, imagine o seguinte: um pai e uma mãe têm dez filhos. Então chega um dia especial em que esses filhos decidem fazer um sacrifício: juntam-se para dar aos pais um presentinho. Eles querem dar um presente que honra e agradece ao papai e à mamãe — no caso de Deus, adoração e ação de graças. Mas, é claro que essa lembrancinha também traz consigo um pedido, porque os filhos querem que papai e mamãe lhes ajude em uma situação especial. Finalmente, o presente também servirá como reparação pelas desobediências que aqueles irmãos fizeram durante o ano. São dez filhos, mas eles não têm condições de dar, cada um, um presente. Por isso, desejando que aquele pequeno e único regalo seja ainda mais agradável ao papai e à mamãe, os irmãos decidem: quem vai entregar será o irmão caçula, o filhinho mais querido. Então eles colocam o presente na mão do pequenino, que diz: “Olha aqui, mamãe! Olha aqui, papai! Em nome de todos os filhos e filhas…” — este é o sacerdote!
O sacerdote é este filho querido que, em nome de todos os outros filhos, oferece a Deus um sacrifício de adoração, ação de graças, petição e reparação. Este filho querido de Deus é Jesus, nosso sumo e eterno sacerdote. Cristo é o sacerdote perfeitíssimo porque, com o seu coração e alma puríssimos e santíssimos, ofereceu a Deus, na Cruz, o perfeito sacrifício.
Deus, em sua infinita misericórdia, vendo que em nossa miséria nós não conseguiríamos adorá-lo como Ele merece, fez-se homem. Então Jesus, Filho Eterno, com a sua alma humana, adorou a Deus perfeitamente. Esta é a beleza. Deus fez-se humano para poder oferecer o amor que Ele próprio merece receber. E como Deus merece um sacrifício de amor perfeito, algo do qual não somos capazes, Ele mesmo veio para, na Cruz, oferecer esse amor perfeito. Pronto.
Há um problema, porém. Embora o sacrifício de Jesus na Cruz seja definitivo e perfeitíssimo, ainda hoje nós continuamos pecando. O que fazer a respeito disso? Nós continuamos precisando adorar a Deus, a humanidade permanece sendo grata pelos benefícios que recebe de Deus. Cada pessoa que nasce e vive nesta terra, até o fim dos tempos, vai continuar precisando pedir a Deus por suas necessidades e fazer reparação por seus erros.
É por isso que Jesus, em sua infinita sabedoria, instituiu um sacramento: a Eucaristia. Na Última Ceia, Ele chamou doze amigos queridos, “Não vos chamo servos, chamo-vos amigos” (cf. Jo 15, 15), fechou-se com eles no Cenáculo — nem Nossa Senhora estava lá — e então Ele tomou o pão e disse: “Isto é o meu corpo”, tomou o cálice com vinho e disse: “Este é o cálice do meu sangue”; e naquela consagração do pão e do vinho, Ele instituiu uma forma sacramental de tornar presente o seu sacrifício de amor no Calvário.
Logo após terminar de fazer essa consagração, Nosso Senhor deu uma clara ordem — ordenação — aos Doze Apóstolos: “Fazei isto em memória de mim”. Jesus instituiu os Doze como sacerdotes. Raciocine por um momento: quando Jesus diz a uma pessoa que está aleijada: “Levanta-te!”, isto é uma ordem; mas está claro que, ao dar essa ordem, Ele também dá o poder de realizá-la! Portanto, está claro que, se Jesus diz: “Isto é o meu corpo, este é o cálice do meu sangue”, e em seguida ordena: “Fazei isto”, Ele está dando a esses Doze o poder de realizar aquilo. Afinal, eles foram ordenados.
Desse modo, quem são os sacerdotes na Igreja Católica? Ora, são instrumentos de Jesus, único e eterno Sacerdote, que precisam realizar neste mundo a renovação do único e perfeitíssimo sacrifício da Cruz. A Eucaristia, a Santa Missa, é a renovação do sacrifício de Cristo na Cruz. Importante lembrar: na Missa, Jesus não está sofrendo — é claro que, se Jesus sofresse na Missa, nós deveríamos parar de celebrá-la! A Missa consiste na renovação do amor de Cristo no Calvário: é o mesmo sacrifício oferecido pelo mesmo sacerdote, Jesus, mas agora de forma incruenta, isto é, sem derramamento de sangue.
Durante a Missa, o momento exato do sacrifício é a consagração, porque é ali que estão os sinais externos deste sacrifício invisível: a consagração do pão separada da consagração do vinho. Para compreender melhor, imagine que Jesus poderia ter escolhido consagrar somente o pão — “Este é o meu corpo que é dado por vós” —, e Ele, de fato, está inteiramente presente na hóstia: corpo, sangue, alma e divindade. Mas Jesus não quis apresentar somente o pão, porque quis tornar claro o caráter sacrificial do sacramento. Portanto, quando o padre não tem pão e vinho, ele não pode celebrar a Missa, porque não acontece o sacrifício, que se dá na consagração separada de corpo e sangue — sinais externos deste sacrifício, assim como, no Calvário, o esvaimento do sangue do corpo de Nosso Senhor significou a sua morte concreta. É claro que os santíssimos corpo e sangue de Jesus, de fato, não estão mais separados — porque Ele está vivo —, mas a consagração, como é realizada na Missa, torna presente aquela realidade do Calvário.
A Santa Missa é aquele mesmo e único sacrifício de dois mil anos atrás, porém trazido sacramentalmente para o presente na hora da consagração do pão e do vinho. É o amor de Cristo sendo renovado! No altar, está Jesus, oferecendo o mais perfeito sacrifício de adoração, ação de graças, impetração e reparação.
Quando um padre vai ao altar e celebra a Eucaristia, nós estamos diante do Sumo Sacerdote Jesus, invisível, mas agindo por seu instrumento visível, o padre, para realizar esse sacrifício de amor infinito na Cruz. Por isso, nós precisamos ter uma enorme devoção pela consagração na Missa. Nós precisamos ter muita atenção e entrega, nós precisamos amar o momento da consagração. É naquele momento em que pão e vinho se tornam corpo e sangue que aquele mesmo amor da Cruz é renovado. Não mais, novamente, o sofrimento, mas o mesmíssimo amor que se torna presente. E esse grande mistério somente os padres ordenados podem realizar.
Hoje, estamos na mais terrível crise que a Igreja já viveu em sua história: os padres já não creem naquilo que eles são. Esta situação tremenda, precisamos dizê-lo, é uma crise clerical, causada por padres e bispos. Não me interessa, aqui, julgar pessoas, estou falando da situação da Igreja como um todo — e isso abala a fé dos fiéis.
Jesus, o que fez? Primeiro, Ele fez uma grande misericórdia conosco na Última Ceia, ordenando Judas. Por quê? Porque Jesus sabia que Judas era indigno, Jesus sabia que Judas ia traí-lo, mas também sabia que nós, no futuro, iríamos nos escandalizar com sacerdotes e bispos infiéis. Então, para que a nossa fé no sacerdócio não fosse abalada, Jesus colocou esse sinal de contradição que é Judas. Para que nós continuássemos crendo.
Há situações difíceis em que, perplexos, podemos dizer: “Mas como esse reitor do seminário ordenou esse padre?”, ou então: “Como o Papa escolheu esse bispo?” Podemos nos escandalizar, mas antes devemos nos perguntar também: como Jesus escolheu Judas? Teríamos nós o poder de “desordenar” Judas? Ou de dizer que Jesus não sabia o que estava fazendo? Lembre-se: um ano antes daquela traição, Jesus já havia anunciado (cf. Jo 6, 59-71): “Não vos escolhi os Doze? Contudo, um de vós é um diabo!” Um ano antes!
Outra coisa de que precisamos nos lembrar: nestes nossos tempos modernos, nós temos o Padre Pio! Quando você beija a mão de Padre Paulo, não vê ali as chagas de Cristo, mas elas estão lá, porque as mãos do sacerdote são ungidas. As mãos de um padre serão, no Céu, grande irradiação de glória. No Inferno, porém, serão motivo de um indescritível grande tormento. No filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, há a cena em que Judas, por ter beijado Jesus no momento da traição, atormentado pela culpa, passa a raspar seus lábios na parede, na coluna, na pedra, até que eles fiquem em carne viva. Por isso, as mãos de um sacerdote devem ser veneradas, amadas, beijadas — essas mãos que se erguem para abençoar, para absolver os pecados, para consagrar.
Diante de tantos desmandos, de tantas loucuras realizadas por padres, diante do fato de que, às vezes, nem o padre crê em seu próprio sacerdócio, Deus decide mandar, providencialmente, um padre com as chagas de Cristo impressas em suas mãos. O santo Padre Pio foi o único sacerdote, em toda a história da Igreja, a ter os estigmas de Cristo. Justamente o padre que caminhou entre nós às vésperas da maior crise sacerdotal que a Igreja viveria. Ele mesmo, durante a sua vida, foi atormentado e perseguido por bispos e padres. Uns porque viviam uma vida imoral, outros porque não tinham fé, outros porque ele representava um incômodo, mas tanto padres quanto bispos perseguiram o Padre Pio.
Padre Pio, então, é um sinal, um farol para dizer a todos os fiéis: “Continuemos crendo!” O sacerdote é o amor do coração de Jesus, dizia o Santo Cura d'Ars. O sacerdote renova no altar o amor de Cristo no Calvário. O que seria de nós sem os sacerdotes? O que seria de nós sem a Santa Missa? Mas se nós tivermos a nossa fé abalada no sacerdócio por causa das misérias e pecados dos padres, também vamos ter a nossa fé abalada na Eucaristia, na Confissão, nas coisas mais importantes e salvíficas.
Há quem caia na armadilha de dizer: “Ah, eu rezo em casa, confesso ‘diretamente com Deus’, não venho à igreja para comungar. Afinal, o padre é um pecador como eu”. Veja então que se alguém tem a fé abalada no sacerdócio, acaba perdendo a sua âncora de salvação.
Por isso, rezemos intensamente. Nós estamos celebrando essa festa jubilosa do Padre Pio, então rezemos pelos sacerdotes. Oremos para que Deus proteja os sacerdotes que desejam seguir os passos dos pés chagados de Cristo e do Padre Pio, e que converta os sacerdotes que se perderam em seu caminho. Não existe somente Judas, existe também São Pedro, que chorou amargamente e se converteu.
Nossa missão nesta terra é rezar por aqueles sacerdotes que, como João, permanecem ao pé da Cruz. E rezar também por aqueles “Pedros secretos”, que só Deus conhece, e que se converteram para se tornarem verdadeiros e santos sacerdotes. Peçamos a São Pio de Pietrelcina para que interceda por nós e nos dê a graça desses santos padres tão profetizados e anunciados para os últimos tempos.
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