Por que é necessário falar da mulher? Porque se tem questionado de uns tempos para cá se a própria realidade chamada mulher existe. Feminista ou não, qualquer pessoa que estude o assunto tem passagem obrigatória pela obra “O segundo sexo”, livro seminal da escritora, ensaísta, filósofa e amante de Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir (1908–1986). Publicado em 1949, pouco depois da Segunda Guerra Mundial, o livro representou à época outra bomba atômica. Nele, Simone de Beauvoir lança a pergunta: “Y’a-t’il même de femme?”, “Existe mesmo a mulher?”. A questão parece ociosa, e a resposta, óbvia; mas a autora insiste, antes de saber “où sont les femmes”, onde estão as mulheres, em responder a qu’est-ce qu’une femme: “Que é uma mulher?” [1].
Na visão caricata que de Beauvoir tem do pensamento tradicional, como sendo machista e patriarcal, a mulher não seria mais do que um útero: ser mulher é ser a reprodutora ou, em linguagem crua, a “parideira”, responsável por perpetuar a espécie. Mas a humanidade propriamente dita se encontra, segundo essa visão, no homem. A mulher é apenas um terceiro elemento entre o homem e o castrado; não é nem um nem outro, mas algo entre os dois. A...









