Santa Rosália nasceu em Palermo, na Sicília. Seu pai se chamava Sinibaldo, era senhor de Quisquina e Rosas, e era descendente de Carlos Magno. Foi educada na corte, mas vivia como se monjas piedosas a tivessem educado. Todas as suas ações eram de acordo com os preceitos do Evangelho e, na sua devoção a Deus e aos santos, assemelhava-se mais a um anjo que a um ser humano. Era muito recolhida em seus hábitos e não sentia prazer no tumulto do mundo, nas riquezas ou honrarias, mas apenas na oração, no recolhimento e nas leituras devotas. Assim preservou sua pureza e inocência em meio a tantos perigos que a cercavam. 

Quando percebeu que sua formidável beleza certamente induziria muitos a pedi-la em casamento, resolveu servir ao Todo-Poderoso na castidade virginal e, por isso, deixou secretamente a corte. Para cumprir este propósito, prostrou-se diante de uma imagem da Virgem Santíssima, suplicando-lhe com todo o fervor que a fortalecesse e ajudasse. Depois disso, foi embora cheia de grande conforto, sem dizer a ninguém o que pretendia.

Guiada pela Providência, chegou a uma montanha, muito distante de Palermo, e lá encontrou uma gruta na rocha, cuja entrada era muito estreita. Lá decidiu fazer sua morada. Acima da caverna, ela gravou na rocha as palavras: “Eu, Rosália, filha de Sinibaldo, senhor de Quisquina e Rosas, decidi viver nesta caverna por amor ao meu Salvador, Jesus Cristo.” A piedosa virgem viveu durante quatro anos nesse lugar sem que ninguém soubesse onde se encontrava, pois resguardava-se cuidadosamente para não ser vista, temendo ser levada de volta para a residência de seu pai. 

“Santa Rosália intercedendo pela cidade de Palermo”, por Antoon van Dyck.

Ocupava-se com a oração, louvando o Altíssimo e contemplando as alegrias divinas. Mas era quase continuamente perturbada e torturada por Satanás com tentações terríveis. Ele procurava atraí-la de volta para casa, mas a heroína cristã, com o auxílio do Céu, vencia-o alegremente com jejuns e outras austeridades. Era frequentemente visitada por anjos e vários santos, pela Santíssima Virgem e por Nosso Senhor, que a confortavam e animavam a continuar a vida que tinha começado.

Decorridos quatro anos, Deus enviou-lhe um anjo, que a aconselhou a deixar seu retiro e fazer sua morada em outro monte, conhecido como Monte Peregrino, que ficava perto de Palermo e exatamente em frente à residência de seu pai. Lá, tendo diante dos olhos os domínios de seu pai, ela teve uma grande oportunidade de vencer o mundo e suas vaidades. Também nessa montanha encontrou uma caverna, mais estreita e sombria do que a outra, e sem qualquer proteção contra a inclemência do tempo. A água, que caía continuamente da rocha, causava-lhe o maior desconforto. Não se encontravam vestígios de qualquer ser vivo ao redor dela, mas, apesar disso, lá onde nem mesmo um animal faria sua toca, onde nenhum homem ousaria pôr o pé, Rosália, alimentada com tanta delicadeza, fez sua morada, pois Deus lhe havia escolhido aquele lugar.

A entrada era estreita e, embora houvesse muito espaço no interior, apenas um canto estava livre da água que caía incessantemente, e nele a donzela de alta estirpe se agachava — uma pomba, escondida numa fenda da rocha — suspirando por seu Esposo celestial. Lá permaneceu, vivendo em austeridade e perfeição pelo resto da vida. Sustentava-se com algumas ervas silvestres que cresciam nas proximidades. Tal circunstância poderia ter sido solitária, triste e terrível para qualquer outro ser humano, mas não para Rosália, que passou a ser honrada com ainda mais frequência por visitantes celestiais, e foi inclusive fortalecida várias vezes com o Pão da vida, recebido diretamente da mão de um anjo.

Viveu mais feliz nessa caverna escura que no palácio de seu pai, cercada de todo o esplendor do fausto e da riqueza temporal. Não podemos negar: às vezes, ela se cansava de sua existência pobre e desolada, mas, nesses momentos, elevava os olhos ao crucifixo e clamava em alta voz: “Por amor ao meu Senhor! Por amor a Vós, meu Deus!” Repetia estas palavras em todas as horas sombrias, e elas lhe davam novo zelo no serviço ao Altíssimo. 

Por fim, foi-lhe enviado um anjo para comunicar a hora de sua morte. O fervoroso amor de Deus que enchia o seu coração, o intenso desejo de ver seu Salvador no Céu, a presença visível da Mãe de Deus e dos santos anjos, tornavam a morte inexprimivelmente doce para ela. Por isso, deitou-se na gruta, com a cabeça apoiada na mão direita, enquanto a esquerda segurava ao peito um crucifixo e um rosário; e assim expirou serenamente.

“Morte de Santa Rosália”, por František Tkadlík.

Deus deu a conhecer ao mundo sua vida maravilhosa por meio de várias revelações e, quinhentos anos depois, revelou o lugar onde “jazia seu santo corpo”. Foi encontrado em seu túmulo rochoso, coberto de cristais, porque a água, que por muitos séculos caíra sobre ele, fez com que se cristalizasse. Essa descoberta foi feita em 1623, para grande consolação e benefício de toda a cidade de Palermo, naquela época assolada por uma terrível peste, que diariamente matava entre setenta e cem pessoas. Um piedoso habitante de Palermo soube, por uma revelação, que a cidade não se livraria do flagelo enquanto o corpo de Santa Rosália não fosse trazido para dentro de seus muros. Então, as preciosas relíquias foram levadas em solene procissão para a cidade, que a partir daquele momento ficou livre da doença. Por essa razão, Santa Rosália é ainda hoje invocada e honrada como guardiã contra a peste.

Considerações práticas

I. Santa Rosália desprezava os prazeres, as honras e as riquezas do mundo e só encontrava alegria na solidão, na oração e na leitura devota. Ocupava-se constantemente com esses piedosos exercícios. Que maravilha! Os santos não se deleitam com o que é o maior deleite para a maioria dos homens. Eles fogem e odeiam o que os filhos do mundo buscam e amam, e são dedicados e apegados ao que os outros evitam e desprezam. Eles apreciam o que o mundo considera tedioso e pesado. 

É possível esperar um mesmo fim para condutas tão desiguais? Responda você mesmo. Por que Santa Rosália se alegrava com a solidão, e particularmente com a oração e a leitura devota? Ela amava a Deus. Quem ama a Deus gosta de conversar com Ele, e é muito melhor fazer isso na solidão do que no turbilhão do mundo. Quem ama a Deus, ama falar com Ele, e isso é feito na oração. Quem ama a Deus, ama escutar a sua Palavra: sua voz é ouvida na leitura espiritual. 

Se a oração ou a leitura de livros devotos lhe desagradam, é um sinal claro de que você não ama a Deus. Você gosta de conversar longa e frequentemente com aqueles que lhe são caros; procura ocasiões para falar com eles e ouvir suas palavras; o tempo parece não se arrastar, você não se cansa quando está ocupado. Acaso não faria o mesmo com Deus, se o amasse? Proceda assim, ao menos no futuro. Ou diga-me: será que a companhia e a conversa com os homens lhe dão mais conforto e proporcionam mais benefícios do que você obtém de Deus na oração e na leitura devota?

“A Coroação de Santa Rosália”, por Antoon van Dyck.

II. “Por amor ao meu Senhor! Por amor a Vós, meu Deus!” Este era o clamor constante que brotava dos lábios e do coração de Santa Rosália. Ela amava a Deus, e amava-o verdadeiramente acima de tudo e de todos. Por Ele deixou tudo, mesmo as coisas de que poderia desfrutar sem pecado. Por amor a Ele, levou uma vida profundamente austera, embora fosse uma princesa educada com muita elegância. 

Você é obrigado a amar a Deus acima de tudo e tem razão para fazê-lo. Além disso, este é um dos Mandamentos. Ele é seu Senhor, Criador, Redentor, Benfeitor, Bem supremo e, em si mesmo, digno de todo amor e honra. E como você tem cumprido este seu dever? Eu sei, talvez me queira repetir as palavras de São Francisco Xavier: “Senhor, meu Deus, eu vos amo, mas não porque me salvastes, nem porque quem não vos ama arderá no Inferno.” É justo que fale assim, e desejo que repita muitas vezes essas palavras. 

Mas palavras não são obras. Santa Rosália manifestou com obras que amava a Deus acima de tudo. É preciso que você mostre com suas ações que ama o Todo-Poderoso acima de tudo e de todos, ou não poderei crer em suas palavras. Não lhe peço que faça tudo o que Santa Rosália fez por seu Senhor. Mas, diga-me, seria exagero se eu lhe pedisse, por amor a Deus, que se abstivesse às vezes até de um prazer lícito; que desviasse os olhos desta ou daquela vaidade mundana; que suportasse pacientemente o calor do verão ou o frio do inverno; que fizesse o bem a seu inimigo; que evitasse as fofocas inúteis; que dedicasse mais tempo à oração ou à escuta da Palavra de Deus; que suportasse, sem murmurar nem se queixar, a cruz que Deus achou por bem colocar em seus ombros? 

Seu Salvador fez e sofreu tanto por amor a você! Foi por sua causa que Ele se absteve de todos os prazeres temporais. Mas você se recusa a fazer o menor ato de abnegação por Ele? Oh! não volte a declarar que ama a Deus, se hesita em seguir o meu conselho. Os atos devem confirmar o amor. “É preciso que o amor atue e faça grandes obras, senão não é verdadeiro amor”, diz São Gregório. E muito menos será verdadeiro amor, se você não fizer pequenas coisas pelo Todo-Poderoso.

Referências

Extraído, traduzido e adaptado passim de: Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 2. New York: P. O’Shea, 1876, p. 297ss.

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