Neste dia 6 de dezembro, a Igreja celebra a memória de São Nicolau de Mira, bispo do Oriente que, célebre especialmente por sua generosidade, acabou dando origem à figura do "Papai Noel", hoje bastante difundida durante os festejos natalinos. Para conhecer um pouco mais a história deste santo bispo, remetemos todos os que nos visitam a uma breve homilia do Padre Paulo Ricardo, na qual ele traça algumas linhas de sua biografia.

Nesta matéria, porém, queremos dar ênfase a uma passagem relativamente conhecida da vida de São Nicolau, dada durante a sua participação no primeiro Concílio da Igreja, em Niceia, no ano 325. Foi essa assembleia ecumênica — palavra que quer dizer, em grego, "universal" — que condenou a heresia do arianismo e reafirmou a fé católica na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. O historiador católico Daniel-Rops, autor da famosa coleção História da Igreja de Cristo, relata que, quando os bispos ali reunidos ouviram "alguns fragmentos" dos escritos de Ário, "os erros mostraram-se tão patentes que uma onda de indignação sacudiu todos aqueles homens fervorosos" [1].

Um desses homens fervorosos foi justamente o "bom velhinho", São Nicolau, cuja bondade, ao contrário do que se pode pensar, nada tinha de leniente (cf. nota ao final da matéria). Já cansado da insolência de Ário e de ver desonradas, por sua boca, a pessoa divina de Jesus Cristo e a maternidade divina de Nossa Senhora, conta-se que o corajoso bispo confrontou fisicamente o heresiarca, esbofeteando-lhe a boca. Os prelados ao redor se assustaram e, mesmo discordando de Ário, viram-se obrigados a punir o "zelo excessivo" de Nicolau, trancafiando o bispo na prisão e confiscando o seu pálio e a cópia que ele possuía dos Evangelhos.

A resposta do Céu à ira de São Nicolau, no entanto, foi bem outra. Alguns dias depois do ocorrido, os próprios Jesus e Maria visitaram o bispo em sua cela. "Por que estás aqui?", teria perguntado Nosso Senhor a Nicolau, ao que ele respondeu: "Porque vos amo, meu Deus e Senhor" [2]. Imediatamente, foram-lhe devolvidos os símbolos de sua dignidade episcopal. É por isso que, em muitos ícones do santo, é possível vê-lo ladeado de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, respectivamente com um livro e um pálio nas mãos. Destituído do ofício episcopal por seus irmãos, o bispo de Mira terminou o grande Concílio de Niceia readmitido diretamente pelo próprio Deus.

Essa história ensina para nós o valor da "santa ira", repetindo uma lição passada pelo próprio Senhor quando tentado no deserto. Ao ser incitado pelo demônio a transformar as pedras em pão, ou a demonstrar o seu poder, lançando-se de um despenhadeiro, Cristo não ficou perturbado nem repreendeu o diabo. Mas, quando este usurpou para si a honra devida a Deus, dizendo: "Tudo isto eu te darei se, prostrando-te, me adorares", Cristo exasperou-se e o repeliu: "Vai-te, Satanás" (Mt 4, 9-10). Por que agiu assim Aquele que é "manso e humilde" de coração? "Para que aprendamos com seu exemplo", responde Santo Tomás de Aquino, "a suportar com magnanimidade as ofensas dirigidas a nós, mas não tolerar sequer ouvir as injúrias feitas a Deus" [3].

São Nicolau de Mira,
rogai por nós!

Notas

  • A respeito da veracidade dessa história, remetemos nossos leitores ao seguinte texto em inglês: Did St. Nicholas of Myra/Santa Claus punch Arius at the Council of Nicaea?, de Roger Pearse. Dele resumimos o seguinte: “Não há evidência antiga alguma de que São Nicolau tenha golpeado ou estapeado Ário no Primeiro Concílio de Niceia. A história não se encontra em nenhum texto antes do tardio século XIV, e até este faz menção apenas a ‘um certo ariano’. Nos próximos dois séculos a lenda passa a ser a de que Nicolau estapeou Ário, sendo disseminada então em obras de ficção popular e por pinturas de ícones.”

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