Já faz algum tempo desde que alguém fundou uma nova religião. Não é algo tão fácil quanto parece. É necessário conseguir um número aceitável de pessoas que creem que o fundador teve algum insight especial a respeito das coisas fundamentais. Recentemente, passamos a chamar essas agremiações de “cultos” (embora o termo não seja apropriado, como costuma acontecer com o uso moderno da linguagem). Elas giram em torno de um indivíduo carismático (novamente, palavra inadequada) que manda em tudo. Em geral, não duram mais que uma geração. Quando o líder não sobrevive, seus seguidores também não sobrevivem.

De modo geral, uma nova religião não oferece nada de novo. Normalmente, ocorre uma destas duas coisas: ou uma nova seita protestante (“protestante” e “seita” são palavras precisas aqui; referem-se a algo que reagiu contra o cristianismo tradicional, isto é, a Igreja Católica, e separou-se de seu corpo principal, tornando-se uma “seção”), ou uma variante ocidental de uma religião oriental: vagamente panteísta, vagamente budista, vagamente interiorizada, vagamente vaga. Ela deriva de generalizações sobre o transcendente ou sobre o outro e, naturalmente, sobre a irmandade de toda a humanidade; ou antes, a unidade de todos os povos ou de todas as coisas.

O que falta às novas religiões é uma teologia. Um dogma. É claro que seus integrantes acham isso bom, pois foi a ausência dele que os levou à nova religião. Afastaram-se da antiga religião por causa da aversão a alguns de seus dogmas. Porém, é essa atraente ausência de doutrina que garantirá a morte da nova religião. As religiões que crescem têm dogmas sólidos; as que definham têm dogmas fracos. Nas palavras de G. K. Chesterton: “Quando os homens adoram o Todo, produzem o Nada.”       

Uma religião não pode se basear num estado de espírito. Em última instância, as pessoas desejam o que é definitivo. Querem a regra e o dogma. Querem definições e respostas aos seus questionamentos. Preferem uma resposta ruim a resposta nenhuma. As novas religiões podem, como um remédio, provocar algum alívio, mas não podem curar.

Prestemos atenção a esta maravilhosa observação de Chesterton, feita há quase cem anos:

As Novas Religiões alegam ser novas, mas nunca ousam ir além das máximas mais gerais e antigas sobre a unidade de Deus e a irmandade da espécie humana. Alegam ser ousadas e inovadoras, mas na verdade são muito tímidas para confiarem em qualquer coisa que vá além dos lugares-comuns de nossas avós. Alegam ser céticas e inquiridoras, mas na realidade jamais se atrevem a fazer perguntas controversas, qualquer um dos questionamentos sobre os quais os homens discordaram e podem discordar novamente: O suicídio pode ser nobre? O sexo pode ser anormal? A vontade é livre? A alma pode se perder? Adotam em toda parte a posição de menor resistência…

Porém, o caminho da menor resistência equivale ao que Jesus descreveu como a estrada larga que leva ao inferno. Dogmas têm de lidar com o que Chesterton chama de “assuntos discutíveis”: sexo e suicídio, livre-arbítrio e justiça. A religião deve estabelecer definições e decisões sobre essas coisas. Se não as define com clareza, apagam-se as linhas que as separam de todo o resto.

É claro que os “assuntos discutíveis” serão discutidos. Porém, evitá-los significa fugir de Deus. Qual é o legado das novas religiões? O que resultou da tentativa de eliminar as respostas às perguntas controversas? Enfrentamos hoje a normalização do suicídio, a aceitação cordial da perversão sexual, a renúncia à responsabilidade por causa das teorias que ignoram o livre-arbítrio e o desprezo pelo eterno, particularmente o destino eterno da alma. As coisas que as novas religiões não abordam são exatamente as mesmas das quais não podemos falar, e dizem respeito à responsabilidade moral em relação às questões essenciais da vida. Certamente, não falamos sobre Céu e Inferno.

O que substituiu as novas religiões do século passado, que floresceram e murcharam rapidamente? As pessoas retornaram à fé tradicional? Algumas. Quando busca a verdade, a alma sincera a encontra. Mas em geral temos visto um movimento de completo distanciamento da religião. Abandonamos o “não importa qual é sua religião” para aderir ao “não importa se você tem uma religião”. Como as falsas religiões deram provas de ser falsas, as pessoas renunciaram à religião, em vez de procurar a verdadeira. Elas perceberam que não era genuína uma religião que aprovasse mais ou menos os seus pecados, mas viram também que era mais fácil abrir mão da religião do que renunciar aos próprios pecados.

Uma retomada genuína da religião começa com um chamado ao arrependimento. Isso explica a popularidade de João Batista. As pessoas se aglomeravam para escutar um homem notoriamente santo lhes dizer que deviam renunciar ao pecado. Ele preparou o caminho para Cristo, que lhes deu a redenção da qual se reconheciam necessitados. Isso explica por que começamos o caminho para a Páscoa e a renovação de promessa com uma longa Quaresma, tempo de penitência. A Igreja Católica é clara ao falar do pecado, das questões controversas e dos “assuntos discutíveis”. Foi por isso que ela sobreviveu a todas as novas religiões.

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