Considerai em primeiro lugar os dons preciosos que o Espírito de Deus traz consigo onde quer que se encontre, e os tesouros concedidos às almas em que Ele faz a sua morada. O profeta Isaías enumera sete dons admiráveis do Espírito Santo ao chamá-lo "Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de conselho e de fortaleza, Espírito de ciência e de piedade [...], Espírito de temor do Senhor" ( Is 11, 2s). Oh! quão preciosos e admiráveis são decerto esses dons! Oh! quão rica é a alma que toma posse de tais tesouros pela vinda do Espírito Santo!

Mas qual é a sabedoria concedida pelo Espírito Santo? Não é a sabedoria deste mundo, a qual não passa de tolice aos olhos de Deus, pois ela, ao mesmo tempo que se esquece do Senhor e da eternidade, não busca senão os bens terrenos e a satisfação dos desejos passageiros deste mundo. Tampouco é a sabedoria dos filósofos, que se ocupam do curso das estrelas e dos segredos da natureza, enquanto rejeitam procurar a verdade em sua fonte; eles, com efeito, não estão seriamente empenhados em conhecer nem a Deus nem a si mesmos. A única sabedoria digna desse nome é a que consiste no conhecimento e amor de Deus, a que tende continuamente para Ele e esforça-se por encontrá-lO em todas as coisas.

Considerai agora quão preciosos são os dons comunicados à alma pelo Espírito de Deus. O dom de entendimento, que abre os olhos da alma para a luz de Deus e fá-la contemplar as verdades divinas à sua luz própria; que lhe revela com clareza como são vãs e transitórias todas as honrarias deste século, as riquezas, os prazeres, e a convence assim de que nada é mais verdadeiramente digno de sua afeição do que os bens eternos. Com o auxílio dessa luz, o fim de nossa criação, a dignidade de uma alma imortal, a natureza de nossa peregrinação terrestre, os quatro Novíssimos, assim como outras tantas verdades cristãs, tudo isso lança raízes profundas na alma e exerce uma influência maravilhosa em nossas vidas.

E quando, como estrangeiros e viajantes cá embaixo, acossados por um sem número de fortes e astutos inimigos, somos compelidos a tomar o caminho que nos leva à verdadeira pátria, passando por muitas dificuldades e perigos, o Espírito de Deus vem em nosso socorro com dois outros dons admiráveis, a saber, o dom de conselho, para mostrar-nos o caminho, descobrir-nos os ardis dos inimigos e conduzir-nos sãos e salvos por todos os perigos, e o dom de fortaleza, também chamado "força e coragem celeste", para animar-nos a enfrentar as oposições mundanas, a carne e o demônio, e para ajudar-nos a sair vitoriosos de todas as batalhas. Oh! quão feliz é o peregrino que conta conta com tal guia, com tal conselheiro, com tão poderoso ajudante e protetor!

Considerai, em terceiro lugar, os demais dons que o Espírito Santo transmite à alma em que habita: o dom de conhecimento, que a educa e instrui em toda virtude, em todo dever, em cada passo que ela deve dar em direção a Deus e à vida eterna; o dom de piedade, que a torna fervorosa no serviço de Deus, de maneira que ela cresça em vigor e presteza no cumprimento de seus divinos Mandamentos; e, por fim, o dom de temor do Senhor, a que as Escrituras chamam "começo da sabedoria" (cf. Pr 9, 10), e que infunde na alma horror a tudo quanto ofende a Deus, fazendo-a temer mais o desagradá-lO do que qualquer outro mal. Acaso pode comparar-se com estes qualquer um dos tesouros da terra?

Concluí enfim o quanto se devem estimar esses dons celestes, dos quais o menor é ainda mais precioso do que tudo o que o mundo nos pode oferecer. Quão rica, pois, é a alma que deles saber tirar proveito, deixando-se acompanhar pelo Espírito de Deus, que é a fonte de todo bem e o único que nos pode comunicar dons tão excelentes.

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