Meu marido e eu estamos esperando o quarto filho e, quando chegou a temida hora de contar a todos, percebi que fazê-lo nunca fica mais fácil. Esperamos o maior tempo possível para dar a notícia, e é difícil receber perguntas, críticas e conselhos indesejados quando se está em uma posição tão vulnerável…
Vulnerabilidades. — Há, primeiro, uma evidente vulnerabilidade física quando você está esperando um bebê. Por só ter ficado doente nos últimos anos em períodos gestacionais (pois a gravidez afeta seu sistema imunológico), eu fiquei sabendo que estava grávida justamente por conta de uma gripe. Tive os sintomas habituais de náusea e sonolência. Tentei ser mais cuidadosa porque tive perda de sangue durante o primeiro trimestre de gestações anteriores. Procurei pegar menos meus outros filhos no colo. Durante o nascimento e depois dele, ficarei fisicamente ainda mais vulnerável e todos precisaremos contar com ajuda de fora, especialmente de nossos irmãos mais velhos.
Embora menos óbvia que a primeira, existe também uma vulnerabilidade emocional para ambos os cônjuges quando se está esperando um bebê. Nossa gravidez não foi planejada e, de imediato, eu senti que seria vista como uma irresponsável. A coisa “responsável” em nossa sociedade é ser autossuficiente e não depender da ajuda de ninguém. Fiquei com medo do julgamento dos outros, de como eles nos veriam e das coisas que eles diriam. Eu gostaria de poder manter isso em segredo, pelo menos por um tempo, mas aquilo era como um trem já em movimento e com uma rota irreversível. Minha barriga cresceria e todos descobririam. O bebê nasceria e demandaria seus cuidados. A criança cresceria e continuaria a exigir cuidados. Uma vez adulto, seria mais uma pessoa no mundo, independente de mim, mas em constante relação comigo. Esse era definitivamente um trem em movimento do qual, até aquele momento, só eu tinha conhecimento.
Sem controle. — Eu descrevo a gravidez como entrar em uma montanha russa. Você não tem ideia do que vai acontecer. Tudo pode transcorrer perfeitamente bem, de acordo com seus desejos ideais, ou você e seu filho podem morrer, e entre esses dois extremos tudo é possível. Foi na minha primeira gravidez que eu descobri que a gestação e o parto são como uma montanha russa. Tivemos uma perda de sangue no primeiro trimestre que nos assustou muito; nossa filha tinha apenas uma artéria umbilical; ela ficou na posição pélvica (“sentada”); tivemos uma versão cefálica externa (que a virou para a posição correta), mas ainda assim tivemos uma cesariana, que era a única coisa que nós absolutamente não queríamos ter.
Também gosto de dizer que ninguém tem alguns milhares em sua conta para, sem saber o que fazer com o próprio dinheiro, chegar e dizer: “Ah, vamos ter outro filho”. As pessoas em geral não sentem que simplesmente têm dinheiro sobrando por aí. Há estudos mostrando que as pessoas, em média, sentem que precisam ter 20% a mais do que já possuem. Nossa gravidez coincidiu com a descoberta de que estávamos apertados financeiramente e precisávamos reduzir substancialmente nossos gastos. Não são exatamente duas notícias que alguém gostaria de receber ao mesmo tempo. Tenho certeza de que essa é uma preocupação de todo casal.
Mas há um ditado segundo o qual cada criança que nasce vem com um pão debaixo do braço. E Belém significa “casa do pão”. Ter um filho certamente fará com que você perca um pouco do controle sobre suas finanças, mas também pode ser uma grande oportunidade para experimentar a Providência.
Uma gestação e um parto também afetam, sem dúvida, suas emoções e saúde psicológica. Maria Montessori dizia que o nascimento de uma criança é o renascimento de uma família. É algo que “sacode” você e toda a dinâmica familiar.
Abertura à graça. — A abertura à vida é uma boa analogia para a abertura à graça. Nosso principal modelo para ambas é a santíssima Virgem Maria, pois, nela, ficar grávida e receber a Cristo foram literalmente a mesma coisa. Ficar grávida também foi uma experiência de vulnerabilidade, de algo que estava fora de seu controle. Ficar grávida, para ela, naquela ocasião, também não parecia ser conveniente, humanamente falando. Na pior das hipóteses, ela corria o risco de ser apedrejada até a morte; na melhor delas, corria o risco de ver rompido seu noivado com São José. Humanamente falando, também não parecia conveniente que Jesus nascesse em um estábulo, em meio aos animais, na estrada. Não teria sido, naturalmente, o “plano de parto” que Maria e José tinham em mente. Tudo transcorreu, todavia, em conformidade com as Escrituras e de acordo com o “plano de parto” de Deus.
Sendo de ordem sobrenatural, a graça escapa à nossa experiência e só pode ser conhecida pela fé. Não podemos, portanto, nos basear em nossos sentimentos ou em nossas obras para daí deduzir que estamos justificados e salvos. No entanto, segundo a palavra do Senhor: “É pelos seus frutos que os reconhecereis” (Mt 7, 20), a consideração dos benefícios de Deus em nossa vida e na dos santos nos oferece uma garantia de que a graça está operando em nós e nos incita a uma fé sempre maior e a uma atitude de pobreza confiante (Catecismo da Igreja Católica, § 2005).
Mesmo que a sua gestação e parto se dêem de acordo com os seus planos e tudo transcorra bem, trata-se sempre de uma experiência dramática que “sacudirá” a sua vida, se você assim permitir. A graça de Deus também se destina a “sacudir” a sua vida, se você deixá-la entrar. Ela irá abalar você, desarmar você; colocará você em uma aventura inesperada. Mas também irá curar você e fazê-lo crescer.
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