Foi só depois de ter anunciado cinco gestações que parei de me desculpar por elas. Estou grávida agora de meu quinto filho. Antes, eu tremia quando alguém me perguntava “se a gravidez fora planejada”, ou tinha de enfatizar que a diferença de idade entre as crianças era de quase dois anos quando alguém, em choque, perguntava: “Qual a diferença de idade, um ano?”
Desta vez, não só parei de me desculpar, mas cheguei a ficar irritada com tudo isso. Por que é que a maioria das pessoas tem apenas coisas negativas a dizer? Somente uma minoria de católicos e outras pessoas de boa-vontade nos parabenizam e se alegram com a notícia. Quando contamos a uma vizinha que estávamos esperando um bebê, ela disse: “Bem, você é quem sabe o que é melhor para você”.
Não só parei de me desculpar como gostaria também que todas as mulheres do mundo parassem de se desculpar, especialmente as que estão nas filas das clínicas de aborto. Por que não posso ter um bebê? Tenho um casamento feliz, tenho gosto e interesse pela educação de crianças e, embora não tenhamos muito dinheiro, temos uma renda fixa. Sou jovem, saudável e não tenho condições ou doenças que ponham a gestação em risco. Se eu não posso ter outro bebê, quem é que pode? Não importa quais sejam suas condições: sejam elas ideais como as minhas ou desoladoras como as de uma mulher na clínica de aborto, nenhuma de nós precisa se desculpar.
Mas isso não é nada responsável! — Defina “responsável”. Eu acredito que é preciso muita responsabilidade e generosidade para assumir a tarefa de educar crianças. É claro que há pais negligentes que nunca assumiram essa tarefa. Mas aqueles que a assumem são muito mais responsáveis e generosos cinco anos depois do nascimento de seu primeiro bebê. As demandas que surgem com a criação dos filhos fazem os pais cultivarem uma grande variedade de virtudes e bons hábitos, como ter paciência, acordar cedo, gastar menos dinheiro, trabalhar mais arduamente em casa e ser um bom exemplo. Se você tem uma família numerosa, essas demandas são maiores sobre você e também sobre seus filhos. É uma oportunidade para todos crescerem em responsabilidade e generosidade. Ora, na sua vida profissional, as pessoas valorizam virtudes como a laboriosidade, a tenacidade e a resiliência, que ajudam a superar obstáculos e formar melhores trabalhadores. Então, por que não viver isso na vida familiar?
Mas seus filhos terão menos coisas… — Ah! você quis dizer “responsável” no sentido financeiro. Sim, não vou iludi-lo. Quanto mais crianças em casa, menos bens materiais e menos recursos financeiros para cada um. Se você fosse a rainha da Inglaterra, essa regra ainda se aplicaria. Para uma pessoa com uma visão de mundo materialista, na qual o dinheiro ou aquilo que ele pode comprar é igual à felicidade, uma família numerosa nunca faz sentido.
Outro bebê significa menos bens materiais para a família. Contudo, significa mais bens de todos os outros tipos. Mais humanidade: pois há mais uma pessoa. O valor dessa frase é incalculável. Mais um irmão ou irmã e tudo o que isso implica: amor para dar e receber, talentos para partilhar, crescimento para observar. Há mais bens espirituais. Há até mesmo mais oportunidades de crescer nas virtudes: mais oportunidades de partilhar, de ser abnegado, de aprender a brincar com outros e a trabalhar com outros.
Merece também a nossa atenção o fato de que, nos países do assim chamado Terceiro Mundo, faltem muitas vezes às famílias quer os meios fundamentais para a sobrevivência, como o alimento, o trabalho, a habitação, os medicamentos, quer as mais elementares liberdades. Nos países mais ricos, pelo contrário, o bem-estar excessivo e a mentalidade consumista, paradoxalmente unida a uma certa angústia e incerteza sobre o futuro, roubam aos esposos a generosidade e a coragem de suscitarem novas vidas humanas: assim a vida é muitas vezes entendida não como uma bênção, mas como um perigo de que é preciso defender-se (Familiaris Consortio, 6).
Mas você pode evitá-los! — A maior parte das pessoas de gerações anteriores diz algo como: “No meu tempo, não tínhamos como evitá-los. Agora, vocês têm”. De fato, agora, os anticoncepcionais estão mais difundidos e são muito mais acessíveis. Se o anticoncepcional falhar (e ele é, por si só, abortivo), há ainda outras opções, como a pílula do dia seguinte e o aborto. Uma importante questão moral: se algo é tecnicamente possível, isso significa necessariamente que seja bom? Eis um tema para outro artigo.
Mesmo que eu possa “evitá-los”, por que deveria fazê-lo? A alegria e a beleza de uma família numerosa se perde completamente.
Mas seus filhos terão menos atenção! — Pode parecer surpreendente, mas crianças gostam de brincar... com outras crianças, especialmente com irmãos e primos. É claro que é ótimo os pais darem aos filhos muito tempo de qualidade (não necessariamente bens materiais) e atenção exclusiva, e isso pode ser um desafio para uma família numerosa. Há, sim, desafios, mas há também benefícios, que são mais irmãos. Irmãos são companheiros de brincadeiras na infância e amigos para a vida toda, mesmo depois da morte dos pais.
Nossa geração adotou um tipo de paternidade mais desequilibrada, ultra-cuidadosa e “baseada em pesquisas”: a paternidade helicóptero. Pais pairam sobre seu pobre filho único ou sobre seus dois filhinhos, controlando e “educando” cada movimento. Isso é muito mais fácil de equilibrar numa família numerosa.
Mas é pesado demais para você! — Para nossa cultura hedonista e viciada em entretenimento também é duro entender que a verdadeira alegria só vem com o dom de si. O descanso verdadeiro só vem após o trabalho pesado. Eu costumo dizer às pessoas que tudo o que é bom exige trabalho pesado, e elas concordam. Aliás, se você acha mesmo que é assim “tão pesado” para mim, por que não me indica uma babá ou me ajuda com alguma coisa, em vez de me dar conselhos intrometidos?
O que é mentalidade contraceptiva? — É assim que nossa cultura vê os bebês, sejam eles planejados ou não, filhos de uma mulher casada e feliz ou de uma mulher solteira em uma clínica de aborto. Bebês representam um gasto financeiro, o que é uma ameaça em uma visão de mundo que iguala prazer e felicidade. Eu percebi que as pessoas só dão parabéns pela gestação quando é o primeiro bebê e você tem mais de trinta anos, já viajou, frequentou muitos restaurantes e “viveu a vida”. Elas também darão parabéns na gravidez do segundo, se as gestações forem espaçadas e você estiver pretendendo ter um bebê do outro sexo. Todos os outros casos serão criticados.
Bebês geralmente não são bem-vindos em nossa cultura. Famílias numerosas são desconcertantes. Quando leio como S. João Paulo II definiu a “mentalidade contraceptiva” na Familiaris Consortio, em 1981, eu entendo o porquê.
Por outro lado, contudo, não faltam sinais de degradação preocupante de alguns valores fundamentais: uma errada concepção teórica e prática da independência dos cônjuges entre si; as graves ambiguidades acerca da relação de autoridade entre pais e filhos; as dificuldades concretas, que a família muitas vezes experimenta na transmissão dos valores; o número crescente dos divórcios; a praga do aborto; o recurso cada vez mais frequente à esterilização; a instauração de uma verdadeira e própria mentalidade contraceptiva (Familiaris Consortio, 6).
Essa necessidade de se desculpar quando o corpo de uma mulher faz o que sua natureza o predispõe a fazer, ou seja, quando gera uma vida, tem a ver com a mentalidade contraceptiva. Não se trata apenas de os bebês já não serem mais bem-vindos. Vivemos um colapso generalizado da vida familiar, vivemos num mundo hostil ao estabelecimento e florescimento saudável da família.
As mudanças sociais e culturais de que Paulo VI falou em sua profética encíclica Humanae Vitae foram, de fato, expressivas e profundas. Nos últimos cem anos, em que a contracepção tornou-se mais comum e acessível, não houve apenas uma mera mudança técnica na regulação da fertilidade, mas uma tremenda mudança de paradigma quanto aos relacionamentos, ao amor, à família, ao casamento e, é claro, aos bebês.
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