Recentemente, o Papa Francisco dedicou a sua tradicional reflexão antes do Angelus à "fofoca" (chiacchiere, em italiano) [1]. Embora muitos a negligenciem como um "pecadinho", a doutrina moral da Igreja ensina que, objetivamente, se trata de um pecado grave – parvidade de matéria à parte.
A "fofoca", em termos técnicos, abrange dois pecados: o da maledicência e o da murmuração.
O primeiro, a maledicência, consiste em revelar os pecados e defeitos de outrem para ferir a sua fama. Pode até ser que o que se fala a respeito do próximo não seja inventado – o que seria uma calúnia –, mas, ainda assim, trata-se de um pecado grave. Ensina Santo Tomás de Aquino que "privar a outrem de sua reputação é muito grave, porque a reputação é o mais precioso entre os bens temporais e, com a sua falta, o homem se acha na impossibilidade de praticar muitos bens" [2]. Diz, ainda, o Catecismo da Igreja Católica que "a maledicência e a calúnia ferem as virtudes da justiça e da caridade" [3]. Por isso, ainda que as pessoas cometam erros e faltas, importa que os cubramos com um véu de caridade, assim como os filhos de Noé cobriram a nudez de seu pai, no Antigo Testamento (cf. Gn 9, 23).
É lícito, quando se tem uma grave razão, revelar as faltas de alguém. É o caso dos políticos, que se submetem à apreciação pública, quando o que fazem afeta o bem comum ou compromete o desempenho do cargo que exercem ou virão a exercer.
O segundo, a murmuração, consiste em revelar os pecados e defeitos de outrem para destruir uma amizade. Por esse fim, Santo Tomás ensina que a murmuração é muito pior que a maledicência, posto que a amizade é um bem muito maior que a boa fama: "Um amigo é o mais precioso entre os bens exteriores" [4]. Aqui, novamente, a menos que haja uma razão para salvar o próximo dos malefícios praticados por outrem, está a se falar de um pecado grave.
Portanto, seja para falar, seja para calar, é preciso conduzir-se pela caridade, "que é o vínculo da perfeição" (Cl 3, 14).
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