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A recompensa dos justos

A caridade cristã não é um “investimento”, um cálculo de benefícios em função da recompensa que esperamos de Deus. É um sinal de gratidão, porque fomos amados por Aquele que sabe que nós, pobres e coxos, somos incapazes de retribuir-lhe tamanho dom.

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 14, 12-14)

Naquele tempo, dizia Jesus ao chefe dos fariseus que o tinha convidado: “Quando deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos nem teus irmãos nem teus parentes nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”.

O Evangelho de hoje apresenta-nos mais um trecho exclusivo de São Lucas. Estando em casa de um dos chefes dos fariseus por ocasião de um banquete, Jesus diz ao seu anfitrião: “Quando deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos nem teus irmãos nem teus parentes nem teus vizinhos ricos” (v. 12), ou seja, nenhum daqueles que, por obrigação ou cortesia, vão retribuir-te com outro banquete ou algum tipo de presente. Antes, “quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos” (v. 13), isto é, todos aqueles que não podem retribuir-te o favor nesta vida, pois a recompensa dos justos será dada no dia da ressurreição (v. 14). Lido um pouco à ligeira, poderíamos pensar que este Evangelho soa um tanto “interesseiro”: não devemos, por um lado, fazer boas obras com vistas a uma recompensa neste mundo, mas nada nos impediria, por outro, de fazê-las com os olhos na recompensa da vida futura. Isso, se não é errado de todo [1], não é contudo o essencial deste Evangelho. Se as lemos em seu contexto, em conexão com a leitura do último sábado, vemos que estas palavras de Cristo são um chamado à gratidão. Com efeito, nós já fomos convidados para um banquete ao qual não temos direito algum; somos nós aqueles “pobres, aleijados, coxos e cegos” que, sem poder compensar em estrita justiça a caridade divina, foram convidados para a festa dos santos no céu. Por isso, cabe-nos agora, como manifestação de agradecimento pelo amor com que fomos amados, imitar a generosíssima liberalidade de Deus, amando-o no irmão a quem podemos ver (cf. 1Jo 4, 20). Se Deus nos salvou do fogo eterno e nos concedeu um lugar à sua mesa, a nós que éramos inimigos seus e objetos de sua ira (cf. Rm 5, 10), por que não nos humilhamos, reconhecendo o quanto recebemos por pura graça, e expandimos o nosso coração para aqueles que foram chamados a ser comensais conosco no banquete eterno? Que possamos transbordar de gratidão a Deus, amando-o concretamente nos irmãos que Ele pôs ao nosso lado: “Então serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”.

Notas

  1. De fato, não deixam de ser justas e meritórias as boas obras realizadas em graça e com a intenção de ir para o céu. Ensina-o o Concílio de Trento, ao condenar no cânon 26 da 6.ª sessão: “Se alguém disser que os justos não devem, pelas boas obras feitas em Deus (cf. Jo 3, 21), aguardar e esperar de Deus a eterna recompensa por sua misericórdia e pelo mérito de Jesus Cristo, se, operando o bem e observando os divinos mandamentos, tiverem perseverado até ao fim (cf. Mt 10, 22; 24, 13): seja anátema” (DH 1576).
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