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O Pentecostes de São Pedro

“Quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna”.

Texto do episódio
12

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 10, 28-31)

Naquele tempo, começou Pedro a dizer a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. Respondeu Jesus: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna. Muitos que agora são os primeiros serão os últimos. E muitos que agora são os últimos serão os primeiros”.

Retomamos a caminhada do tempo ordinário. Estamos na oitava semana do Tempo Comum, e o Evangelho de hoje é tirado de S. Marcos. Entusiasmado, Pedro olha para Jesus e diz: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”, e Jesus, olhando para a generosidade de Pedro, diz qual é caminho que devem trilhar os seus discípulos: “Quem deixa tudo recebe cem vezes mais durante essa vida, mais as perseguições e no mundo futuro, a vida eterna”. S. Pedro fez aqui sua doação a Jesus, isto é, sua primeira entrega. Deixando as redes, ele seguiu Jesus, mesmo sendo casado e, provavelmente, tendo filhos já crescidos. S. Pedro, de fato, deixou tudo, deixou generosamente. Não há por que duvidar das palavras dele. Aliás, na Última Ceia, Pedro chega a fazer um protesto de amor, dizendo: “Senhor, eu irei contigo até a prisão e até a morte”. No entanto, S. Pedro não fora ainda transformado pelo Espírito Santo. Aqui está a grande diferença. Uma coisa é dar um passo generoso inspirado por Deus, sim, mas ainda baseado nas próprias forças humanas, outra é dar um passo movido pelo Espírito Santo graças à transformação que Ele mesmo quer fazer em cada um de nós. Celebramos no domingo passado a solenidade de Pentecostes. Já antes disso, S. Pedro tinha deixado tudo por amor a Jesus, mas ainda não era capaz de viver esse amor até o martírio. Quando fez juras de amor a Cristo, Pedro estava sendo sincero, mas não estava sendo profundo. Porque a profundidade e a fortaleza, a força interior de amar a Cristo até o martírio, só vêm com o derramamento do Espírito Santo. Os católicos, ao contrário dos protestantes, cremos que, quando o Espírito Santo desce sobre nós, não vem apenas para realizar carismas, dar dons passageiros, fazer uma cura aqui, um milagre ali… Não, o Espírito Santo vem, antes de tudo, para nos transformar interiormente. O que Ele quer fazer de nós são pessoas novas, capazes de realizar atos heróicos de santidade e de amor dos quais antes não éramos capazes. O Pedro generoso, que deixou tudo por Jesus, antes de Pentecostes, estava fechado no Cenáculo, trancafiado por medo dos judeus; depois de Pentecostes, ele sai e começa a pregar às multidões! Ele não se detém. Quando os chefes dos judeus pedem-lhe que se cale, ele responde: “Convém antes obedecer a Deus que aos homens”. Em seguida, Pedro é levado para a prisão, onde é duramente açoitado, mas sai de lá alegre por ter sofrido pelo nome de Jesus. Eis a diferença de qualidade, de pessoa, antes e depois da ação do Espírito Santo. É o mesmo que nós vemos na transformação que Deus faz em seus santos. A transformação que vemos na vida de Pedro só é possível aos que já alcançaram aquilo que em teologia se chama Quinta Morada. Quem segue Jesus vai sendo transformado interiormente. A primeira transformação chama-se Primeira Morada, depois seguem os outros estágios: Segunda, Terceira, Quarta Moradas... Na Quinta, a alma recebe o Espírito Santo de tal maneira, que ela passa a ter forças não só interiores, mas até mesmo físicas para suportar os tormentos do martírio. A pessoa torna-se capaz de fazer coisas de que nós, por nós mesmos, não seríamos. O Evangelho de hoje quer-nos mostrar que Jesus aceita o dom generoso de Pedro: “Nós deixamos tudo e te seguimos”, mas prevê que, além disso, serão necessárias transformações interiores, até que Pedro seja capaz também de viver as perseguições. Disto, porém, Pedro ainda não é capaz. Diante das perseguições, ele irá negar Jesus três vezes. Embora tenha deixado tudo, Pedro não é ainda um santo da envergadura de um mártir. Ele o será no futuro, mas somente pela ação do Espírito Santo. O que Jesus quer nos ensinar neste Evangelho é que nós, se estamos nos entregando generosamente a Ele, devemos dar graças a Deus, mas saibamos: é só o início da caminhada. Sim, Deus quer a nossa entrega, mas quer nos transformar ainda em almas diferentes, de modo que o Espírito Santo aja em nós, fazendo-nos capazes de realizar atos semelhantes aos de Cristo e aos dos grandes santos. Que Deus nos conceda perseverança na vida de oração, na vida de penitência, na vida de conversão. Com entusiasmo, abracemos esse caminho! O Espírito Santo quer-nos transformar para que possamos dar passos de gigantes, como diz o Salmo na tradução da Vulgata: “Como um gigante”, Gigas ad currendam viam, como um herói valoroso no seu caminho de vitória!

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