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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 8,1-3)

Naquele tempo, Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus. Os doze iam com ele; e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e várias outras mulheres que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam.

O Evangelho de hoje nos fala das mulheres que seguiam Jesus e o ajudavam. Uma delas é Santa Maria Madalena, e o Evangelho, em breve nota, recorda que dela “tinham saído sete demônios”.

A tradição interpreta esses sete demônios como demônios ligados aos sete vícios capitais, o que nos dá ocasião de refletir a respeito dos vícios ou pecados capitais.

Na verdade, é um pouco difícil expressar o que é um pecado capital, porque as palavras “pecado” e “vício aqui” estão sendo empregadas de forma analógica. No fundo, trata-se de uma ferida ou desordem da natureza humana que, proveniente do pecado original, conduz ao pecado. São “tendências”.

Ora, essas tendências de desordem presentes na natureza humana se devem, como fundamento, à nossa natureza decaída, mas também à força dos ataques dos demônios.

Por isso, nós devemos sempre estar vigilantes espiritualmente. Por quê? Porque, apesar de possivelmente não estarmos cometendo pecados, há em nós, e ela pode ser facilmente identificada, uma tendência ao pecado, a qual pode ter três origens, chamadas de três inimigos da alma.

A tendência ao pecado pode vir do que chamamos de carne. Ou seja: os nossos pecados pessoais, assim como as próprias desordens do pecado original, fazem-nos ter uma tendência a certos pecados. Para dar um exemplo de pecado capital, é a tendência à ira, a tendência à tristeza, a tendência à preguiça, a tendência à avareza, a tendência aos pecados de luxúria, a tendência à gula, a tendência à vaidade e assim por diante.

Essas tendências, que todos temos, podem vir exatamente de nós mesmos, da desordem da nossa natureza. Mas elas também podem ser alimentadas pelo mundo. O mundo alimenta a avareza quando a cultura vive atrás de dinheiro; o mundo alimenta a luxúria quando toda a cultura é erotizada; o mundo alimenta a raiva e o ressentimento quando nos coloca em constantes lutas de interesses e assim por diante.

A terceira fonte dos pecados capitais, ou seja, das tendências ao pecado, podem ser também os demônios, ou seja, os inimigos da nossa alma, que vão instigando e alimentando quer as nossas tendências carnais quer a cultura do mundo.

Nosso Senhor Jesus Cristo, por sua misericórdia divina, teve compaixão de Santa Maria Madalena e expulsou dela sete demônios. Peçamos ao Cristo Senhor, pela intercessão de Santa Maria Madalena, que estejamos sempre vigilantes e atentos a essas tendências que estão em ação dentro de nós, quer venham da carne ou do mundo, quer sejam alimentadas pelos demônios, que são os inimigos da nossa alma.

Sempre vigilantes e constantes, sabendo que, quando lutamos por amor a Deus, estamos verdadeiramente participando das vitórias de Cristo, para que, com Ele no Céu, cantemos as suas misericórdias.

COMENTÁRIO

As piedosas discípulas de Cristo (Lc 8,1ss). — “Foi uso entre os judeus, nem se via com maus olhos, que, à antiga maneira gentílica, algumas mulheres, com seus próprios recursos, dessem comida e roupa aos preceptores” (S. Jerônimo, in Matth. 27,56), i.e. aos rabinos. Também Cristo se acomodou a esse costume, a fim de entregar-se mais livremente à pregação evangélica e para não ser onerosos àqueles a quem pregava. Por isso, entre os que o seguiam se contavam também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças, i.e. algumas que foram libertas de espíritos malignos e outras, de enfermidades corporais. Entre elas, as mais destacadas eram: a) Maria, chamada Madalena por referência à cidade de Magdala ou, talvez, Magedan, que, segundo alguns, estava às margens ocidentais do lago de Genesaré (hoje Medjedel); segundo outros, a leste do lago de Genesaré, na margem oriental do Jordão (hoje Ma‘ad); — da qual tinham saído sete demônios, o que se há de entender como possessão demoníaca de extraordinária violência, embora haja quem o interprete por referência aos muitos vícios que a oprimiam antes de se converter [1]. — b) Joana, mulher de Cuza, alto funcionário (πιτρόπου, i.e. prepósito da casa ou dos assuntos domésticos) de Herodes Antipas. — c) Susana, e várias outras mulheres que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam. O divino Redentor, com efeito, queria ensinar aos homens a pobreza evangélica não só por palavras, mas sobretudo com o próprio exemplo: Sendo rico, se fez pobre por vós (2Cor 8, 9).

N.B. Que a bem-aventurada Virgem estivesse por essa época na comitiva dos que seguiam a Cristo, os sinóticos nem o afirmam nem o negam e, entre as mulheres que permaneceram de pé junto da cruz, tampouco a mencionam, embora saibamos por meio de João que Maria esteve presente à crucificação. Seja como for, é ao menos verossímil que a Virgem bendita, amante da solidão e da oração, tenha permanecido em Nazaré, cooperando com a obra redentora mediante suas preces e o exemplo de suas virtudes [2].

Notas

  1. A opinião que afirma serem uma só e a mesma pessoa Maria Madalena, Maria, irmã de Lázaro, e a pecadora endemoniada da qual se fala aqui parece a mais provável, por não contrariar em nada texto evangélico, fundar-se solidamente numa antiquíssima tradição e não implicar qualquer dificuldade séria o bastante a pôr em dúvida essa tradição. Parece tratar-se, ademais, do sentir tácito da Igreja, que no antigo ofício de 22 jul., Festa de S. Maria Madalena Penitente, aludia à tríplice narração (da pecadora, da irmã de Lázaro e de Madalena) como se fosse a história de uma só e mesma pessoa. Leia-se a esse respeito, o artigo “Três Marias diferentes ou Santa Maria Madalena? ” (22 jul. 2021).
  2. O texto desta homilia é uma tradução levemente adaptada de H. Simón, Prælectiones Biblicæ. Novum Testamentum. 4.ª ed., iterum recognita a J. Prado. Marietti, 1930, vol. 1, p. 345s, n. 235.

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