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Aprenda a amar e venerar o Cânon Romano

Com a nova tradução brasileira do Missal, finalmente o Cânon Romano, ou Oração Eucarística I, pode ser apreciado em seu esplendor e integridade, pois está bem mais próximo de seu texto original latino, com todas as imagens e expressões que o tornam particularmente belo e majestoso.

Texto do episódio
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Com grande alegria celebramos a memória de Santo Ambrósio de Milão, um grande bispo e Doutor da Igreja, muito conhecido por sua ligação com Santo Agostinho. No entanto, é injusto pensarmos nele somente por ter sido a causa da conversão do santo de Hipona. Santo Ambrósio tem valor em si mesmo, como grande conhecedor das Sagradas Escrituras e defensor da ortodoxia da fé católica.

Nesta ocasião, não comentaremos a vida de Santo Ambrósio, mas o fato de que foi em seus escritos em que recebemos a notícia histórica, pela primeira vez, daquela que é a Oração Eucarística mais antiga da Igreja romana, o chamado Cânon Romano, que hoje também chamamos de Oração Eucarística I.

Os nossos paroquianos talvez tenham notado que, desde que começamos a adotar a nova tradução do Missal, aqui na Paróquia Cristo Rei estamos usando com mais frequência, e quase exclusivamente, esta Oração Eucarística. E o motivo disso é a qualidade desta nova tradução do Missal para o Brasil, que se tornou obrigatória a partir de domingo passado (03/12/2023). Esta tradução restituiu ao Brasil a integridade do Cânon Romano, que foi utilizado de forma mutilada durante quarenta anos, devido às graves deficiências do texto em português anterior.

O Cânon Romano é uma oração muito antiga e venerabilíssima. Para entendermos a sua importância, o Cânon Romano era tremendamente odiado pelos primeiros protestantes. Tanto Lutero quanto Calvino escreveram contra o Cânon Romano, que eles achavam um absurdo. Só pelo fato de esses hereges odiarem o Cânon Romano, isso já seria para nós uma grande e maravilhosa indicação de que nele há um enorme valor. Mas não é por isso que veneramos esse sagrado texto. Se alguém tem dúvidas da importância dessa Oração Eucarística, o próprio Concílio de Trento nos afirma com clareza que o Cânon é verdadeiramente uma coluna da fé católica, por estar todo baseado na fé dos Apóstolos, na doutrina dos Santos Padres e na tradição dos santos Doutores.

Poderíamos dedicar longas reflexões e meditações a respeito da grandeza do Cânon Romano. Poderíamos até mesmo fazer um retiro tendo essa Oração Eucarística como base, degustando as maravilhas que santificaram a Igreja durante os séculos. Por isso, recomendamos que todos procurem essa nova tradução e aprendam a apreciar, venerar, querer, honrar e amar o Cânon Romano.

Quando se reza o Cânon Romano, algumas pessoas ficam confusas porque  ele começa de uma forma distinta das outras Orações Eucarísticas, mais novas, que foram criadas durante a reforma litúrgica e que abandonaram a arquitetura tradicional do texto. Devemos nos recordar que as palavras do Cânon são aquelas que santificaram a Igreja durante séculos, usadas em latim por milhares e milhares de santos canonizados, tendo sido a única Oração Eucarística do rito romano durante séculos e séculos. Portanto, somente esse fato já alça essas palavras a um elevado patamar de grandeza.

Vamos apresentar alguns detalhes especiais desta nova tradução que nos restituiu a grandeza do Cânon Romano. Por exemplo, ele começa com a seguinte oração: “Pai de misericórdia, a quem sobem nossos louvores, suplicantes vos rogamos e pedimos”. Este “suplicantes” é maravilhoso. Porque na liturgia antiga, quando pronuncia essa palavra do Cânon Romano, o padre faz um gesto e se inclina, apoiado no altar, porque sabe que o que ele vai começar a fazer é tão sagrado, que ele não pode começar isso com suas próprias forças, mas deve iniciar apoiado em Cristo. Então, apoiado no altar, o padre diz: “Te igitur, clementissime Pater, per Iesum Christum, Filium tuum, Dominum nostrum”; “A vós, Pai clementíssimo, por Jesus Cristo…” Quer dizer, não fazemos isso sozinhos, mas apoiados em Cristo; “...suplicantes vos rogamos e pedimos, que aceiteis e abençoeis estes dons, estas oferendas, este sacrifício puro e santo.” Podemos perceber como a linguagem é elevada, é a linguagem de que devemos nos revestir para falar com Deus.

O Cânon também nos diz que “in primis quam tibi offerimus”, ou, na nova tradução: “...oferecemos, antes de tudo, pela vossa Igreja Santa e Católica…”. A Missa é oferecida, em primeiro lugar, para que Deus conserve a Igreja, Corpo de Cristo, intacta. Como? “...concedei-lhe paz e proteção, unindo-a no seu corpo e governando-a por toda a terra”. Aqui nós temos a proteção dos ataques de fora e a paz na comunhão interna da Igreja na mesma fé. Na Santa Missa, pedimos então a Deus — “in primis”, em primeiro lugar — para que Ele governe a Igreja, pois Ele é o Pastor. Nós não podemos ficar como ovelhas dispersas, sem um pastor que nos conduza. Por isso, ao contrário das outras Orações Eucarísticas, que fazem esse pedido bem depois, no Cânon Romano pedimos logo no início pela Igreja, rezando também pelo Papa, pelos bispos e por “todos os que guardam a Fé Católica que receberam dos Apóstolos”. Nós rezamos para que Deus nos dê numerosos santos, católicos pastores, que guardem “a fé católica que receberam dos Apóstolos”.

Em seguida, o Cânon tem um primeiro momento de silêncio. É o “Memento dos vivos”, a oração que nós fazemos pelas pessoas vivas. Acabamos de rezar por aqueles que são os mais importantes, os chefes, o Papa e o bispo, e agora rezamos pelas pessoas por quem nós queremos rezar. Em silêncio, o padre para, e podemos rezar pelos vivos (não é ainda o momento da oração pelos mortos): “Lembrai-vos, ó Pai, dos vossos filhos e filhas, e de todos os que circundam este altar, dos quais conheceis a fé e a dedicação no vosso serviço”. Vejam, na sequência, como foi restituída a beleza da oração antiga: “...por eles, nós vos oferecemos e também eles vos oferecem este sacrifício de louvor…”; ou seja, por aqueles que estão circundando o altar, nós padres oferecemos o sacrifício da Missa, enquanto vocês, fiéis, oferecem o sacrifício da fé. São dois sacrifícios diferentes: “Orai, irmãos e irmãs, para o que o meu e o vosso sacrifício…”

Depois, vem aquela parte chamada “Communicantes” (“Em comunhão”), com a volta da expressão “em primeiro lugar”: “Em comunhão com toda a Igreja, celebramos, em primeiro lugar, a memória da Mãe de nosso Deus e Senhor Jesus Cristo, a gloriosa sempre Virgem Maria”. Aqui está uma linguagem que ficou mais solene e bela: “Em primeiro lugar” oferecemos o Santo Sacrifício pela Igreja que está aqui na terra e, depois, olhamos para o Céu e celebramos, em primeiro lugar, a Virgem Maria. Que maravilha!

Então pedimos a Deus: “Aceitai, ó Pai, com bondade, a oblação dos vossos servos…”, que são os padres, “...e de toda a vossa família”, que são os leigos; “dai-nos sempre a vossa paz, livrai-nos da condenação eterna e acolhei-nos entre os vossos eleitos”. A palavra, “eterna”, tinha sumido do Missal anterior. Ora, mas a condenação não é um tempinho, é realmente eterna! 

E então, acontece o momento da consagração. Nele, nos foram restituídas as palavras santas que atravessaram os séculos, que dizem “Na Véspera de sua Paixão, Ele tomou o pão em suas santas e veneráveis mãos”. Agradecemos muitos aos nossos bispos por nos darem estas “santas e veneráveis” palavras, “...elevou os olhos ao Céu, a vós, ó Pai Todo-Poderoso, pronunciou a bênção de ação de graças, partiu o pão e o deu aos seus discípulos…”. Na hora da consagração do cálice, também retorna outra maravilhosa palavra: “Tomou este precioso cálice”. Um cálice que de elevado preço: o Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor. É o preço de amor que Jesus pagou por nós. “...esse precioso cálice em suas santas e veneráveis mãos”.

Outras coisas, que são típicas do rito romano, também voltaram. Há uma espécie de repetição de ideias, mas que na verdade não é propriamente uma repetição, mas um reforço. Por exemplo, quando se diz: “esse sacrifício puro, santo, imaculado, pão santo da vida eterna, cálice da perpétua salvação”. Recebemos de volta as palavras que falam de Abel como “justo”, de Abraão como “nosso patriarca” e de Melquisedeque, “sumo sacerdote”. Todas essas expressões haviam sido mutiladas no texto anterior, esvaziado por quarenta anos.

O padre inclina-se diante do altar quando novamente aparece outra vez a palavra “suplicantes”, súplica, súplices. “Que esta oferenda seja levada à vossa presença no altar do Céu pelas mãos do vosso santo anjo”. O original fala “no teu altar”, e não “no altar do Céu”; mas a tradução optou por deixar claro a que altar nos referimos. O “santo anjo” também tinha desaparecido, não estava na outra versão. “Para que todos nós, participando deste altar pela comunhão do santíssimo Corpo e Sangue do vosso Filho, sejamos repletos de todas as graças e bênçãos do Céu”, e o padre então faz o Sinal da Cruz.

Finalmente, vem o “Memento dos mortos”. Em outro momento de silêncio, o padre então reza pelas almas dos fiéis defuntos: “Lembrai-vos, ó Pai, dos nossos filhos e filhas que nos precederam com o sinal da fé e dormem o sono da paz”. O que é esse “sinal da fé”? É o Batismo. Silêncio. “A eles e a todos os que descansam em Cristo concedei o repouso, a luz e a paz”. E então, chegando ao final, num sinal de humildade, o padre bate no peito e diz: “Nobis quoque peccatoribus” (“Também nós, pecadores”).

A Oração Eucarística antiga era toda pronunciada quase que em silêncio, num volume audível praticamente apenas pelo sacerdote; mas, na hora dessa confissão de pecado, a Igreja pedia que o padre elevasse a voz, para que pelo menos o coroinha ouvisse: “Nobis quoque peccatoribus”. Quem é o pecador? É o padre! É o padre quem “não deveria estar lá”, mas está porque Deus é misericordioso. “E a todos nós, pecadores, que esperamos na vossa infinita misericórdia, concedei, não por nossos méritos, mas por vossa bondade, o convívio dos Apóstolos e mártires”, e aí segue a lista dos santos. E o Cânon se encerra com: “Por Cristo, nosso Senhor. Por Ele, não cessais de criar, santificar, vivificar, abençoar esses bens e distribuí-los entre nós” — cinco verbos!; e, finalmente, se conclui com: “Por Cristo, com Cristo…” Voltou também — graças a Deus — a linguagem hebraica, tão antiga e tão próxima dos Apóstolos, de concluir a oração, dizendo: “Por todos os séculos dos séculos. Amém”.

Aprendamos a apreciar o Cânon Romano. A primeira testemunha dessa tradição antiquíssima da Igreja foi Santo Ambrósio. No seu livro “De sacramentis”, ele cita longos trechos dessa Oração Eucarística. Estamos ainda no século IV, e Santo Ambrósio já está apresentando para os fiéis o Cânon Romano como uma tradição; ou seja, já era um texto antigo naquela época. Que esta oração que atravessa os séculos, oferecida “in primis” pela Igreja, salve o Corpo de Cristo, para que as portas do Inferno jamais prevaleçam.

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