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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 6, 16-21)

Pela tarde, desceram seus discípulos à beira do mar. Entrando numa barca, dirigiram-se para a outra margem do mar, rumo a Cafarnaum. Já estava escuro e Jesus não tinha ido juntar-se a eles. Soprava um forte vento e o mar estava agitado. Já tinham remado uns cinco ou seis quilômetros, quando viram Jesus que se aproximava da barca, caminhando sobre o mar. Tiveram medo. Ele os tranquilizou: “Não temais! Sou eu”. Queriam recolhê-lo na barca, mas esta logo tocou a terra, no lugar para onde iam.

O Evangelho de ontem nos chamava a atenção para um fato de capital importância para compreendermos o sentido profundo das leituras que faremos ao longo dos próximos dias: Jesus continua o seu ministério público e, como destaca o evangelista S. João, está próxima a festa da Páscoa, instituída para comemorar a saída do povo hebreu da escravidão do Egito. Moisés, séculos antes do nascimento de Cristo, conduzira os israelitas pelo deserto em direção à terra prometida, depois de os ter feito atravessar a pé enxuto o Mar Vermelho, cujas águas foram separadas pelo sopro de Deus (cf. Ex 14, 24-31). Hoje, enquanto se aproxima a Páscoa judaica, Nosso Senhor caminha sobre as águas do mar da Galiléia, numa clara alusão à travessia milagrosa em que o povo eleito experimentou a sua passagem da escravidão para a liberdade. Lida dessa perspectiva, a travessia do Mar Vermelho nos remete intuitivamente à passagem que nós, novo Israel, experimentamos no nosso Batismo: da vida antiga, de pecado e servidão ao demônio, passamos a uma vida nova, de filhos de Deus e co-herdeiros da glória eterna.

De fato, através das águas batismais, vivificadas pelo poder do Espírito Santo, os membros da Igreja, uma vez libertados da escravidão da iniquidade, dirigimo-nos a passo firme e sob a guia de Cristo, novo Moisés, à terra prometida, onde repousa imarcescível a nossa herança. Ontem, ao multiplicar os pães e saciar a multidão, Jesus anunciou profeticamente a que preço Ele nos daria o viático de que precisamos para percorrer essa jornada rumo ao céu. Hoje, ao caminhar triunfante sobre o mar da Galiléia, símbolo da morte, Ele nos indica que é pelas águas dos Batismo que, regenerados, podemos ter acesso a esse alimento de vida eterna, que não é senão o seu Corpo, cheio de força, doçura e sabor e de todo suave deleite. A conexão entre essas três Páscoas — a dos judeus, mera figura; a de Cristo, realização e cumprimento da Lei; e a nossa, renascimento místico — nos impele a cantar as glórias do Senhor, que precipitou no mar os nossos inimigos (cf. Ex 15, 1-3), e a pedir-lhe que, pela regeneração do Batismo, conceda ao mundo inteiro ser contado entre os filhos de Abraão e partícipe da dignidade dos filhos do novo Israel [1].

Referências

  1. Cf. a oração correspondente à segunda leitura que, na liturgia antiga, se fazia depois do Elogio do círio na Vigília Pascal.
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