Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 17, 20-25)
Naquele tempo, os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Jesus respondeu: “O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: ‘Está aqui’ ou ‘Está ali’, porque o Reino de Deus está entre vós”. E Jesus disse aos discípulos: “Dias virão em que desejareis ver um só dia do Filho do Homem e não podereis ver. As pessoas vos dirão: ‘Ele está ali’ ou ‘Ele está aqui’. Não deveis ir, nem correr atrás. Pois, como o relâmpago brilha de um lado até ao outro do Céu, assim também será o Filho do Homem, no seu dia. Antes, porém, ele deverá sofrer muito e ser rejeitado por esta geração”.
No Evangelho de hoje, os fariseus perguntam para Jesus a respeito do Reino de Deus, e Ele responde: “O Reino de Deus está no meio de vós (ou ‘entre vós’)” (Lc 17, 21).
Essa é a nossa tradução litúrgica, que não está errada, por ser uma das traduções possíveis. Porém, ao pé da letra, o que nós encontramos no grego é: “Hē basileia tou Theou entos hymōn estin”, “O Reino de Deus está dentro de vós”.
É importante focarmos nesse aspecto da tradução literal para nos darmos conta de que Deus está conosco desde sempre. Para interpretarmos este Evangelho, vejamos a experiência de Santo Agostinho. Ele era um dedicado e estudioso orador e filósofo que, antes de se converter, buscava a Verdade de Deus nas belezas da criação, nas realidades que estão mundo afora e na filosofia. Contudo, ao se tornar católico de fato, com 32 anos de idade, ele descobriu que Deus estava dentro dele. É o que ele diz em suas famosas “Confissões”, livro X: “Sero te amavi, pulchritudo tam antiqua et tam nova. Et ecce intus eras et ego foris”, “Tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova. E eis que estavas dentro, e eu fora.”
Santo Agostinho percebeu que estava alienado, e precisava encontrar dentro de si o Senhor. Realmente, se quisermos encontrar o Reino de Deus, precisamos mergulhar dentro de nós, mas não pensando que se trata de um panteísmo — “Deus é tudo, e eu sou Deus também” —, e sim que Ele deseja ser nosso Amigo, o Divino Hóspede de nossa alma. Santo Agostinho expressa essa experiência da busca de Deus de forma muito clara quando diz: “Eis que dentro estavas, e eu fora, e ali te procurava, e sobre essas coisas belas que criaste eu, disforme, me lançava. Estavas comigo, e eu não estava contigo”.
Sim, embora pareça contraditório, Deus está conosco, mas nós muitas vezes não estamos com Ele. Muitas vezes sem saber, estamos buscando-o desorientadamente nos prazeres, no dinheiro, na fama e em tantas outras coisas externas. Por isso, o primeiro passo que devemos dar é mergulhar dentro de nós mesmos, por mais desagradável e miserável que seja o nosso coração. Mesmo que, por nossas falhas, não nos amemos, Deus está presente, amando-nos, perdoando-nos e querendo nos transformar em pessoas novas.
Vamos, pois, pedir cada vez mais a Deus pela fé, e corresponder ao seu amor infinito. Reconciliando-nos com o Divino Hóspede de nossa alma, encontraremos em nosso coração o Reino de Deus.




























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