Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 9, 38-40)
Naquele tempo, João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue”.
Jesus disse: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor”.
No Evangelho de ontem, o Senhor tentara ensinar aos discípulos a humildade, exortando-os a buscar, não os primeiros, mas os últimos lugares: porque, se entre os governantes deste mundo há contendas e dissídios sobre o poder, na Igreja de Cristo, pelo contrário, deve primar o interesse por servir aos demais e ser o menor de todos. O Evangelho de hoje dá continuidade a esse mesmo episódio. Logo nos primeiros versículos, vemos que os discípulos, como de costume, nada entenderam do que lhes havia dito Jesus, e isto se depreende das palavras um tanto arrogantes do Apóstolo João: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós”, que nos julgamos os únicos detentores legítimos da graça, “o proibimos, porque ele não nos segue”. A Igreja pronunciou-se definitivamente contra esse erro, ao condenar a proposição jansenista que afirmava não ser concedida nenhuma graça fora dos limites visíveis da Igreja Católica (cf. DH 2429), como se a ação salvífica de Deus estivesse de algum modo limitada. É verdade, sim, que não há salvação fora da Igreja e que esta, enquanto sociedade perfeita, possui uma contextura visível e institucional, reconhecível neste mundo em meio de outras organizações humanas. Isso não implica, contudo, que seja absolutamente impossível que alguém, não incorporado à Igreja como membro visível, mas ordenado a ela “por certo desejo e voto inconsciente” (Pio XII, Mystici Corporis) animado pela caridade e pela fé sobrenatural, obtenha a salvação eterna, por graça e misericórdia de Deus. O problema é que, segundo as disposições do mesmo Deus, o único caminho seguro de salvação que nos foi revelado consiste em crer, receber o Batismo e incorporar-se à unidade, tanto espiritual como visível, da Igreja de Cristo, de maneira que os que se encontram fora dela, num estado em que não podem estar seguros da própria salvação, “carecem de tantas e tão grandes graças e auxílios celestes dos quais só na Igreja Católica podem fruir” (Pio XII, ibid.), que a sua salvação se torna muitíssimo difícil, para não dizer de todo improvável. Ora, os limites visíveis da Igreja, com seus ritos santificadores e suas práticas voltadas a incrementar o fervor da piedade, são uma segurança e garantia para nós, mas não uma limitação para a ação de Deus, e para dar-se conta disto basta pensar que nós mesmos não seríamos cristãos se antes — quando ainda não pertencíamos à contextura visível da Igreja e, provavelmente, professávamos uma falsa religião — não fôssemos alcançados pela graça divina e movidos a dar o nosso sim ao convite que a Igreja dirige a quantos erram longe do único redil de Jesus Cristo: “Acorram todos conosco à única Cabeça, na comunhão de uma caridade gloriosíssima” (Pio XII, ibid.). E se nós, quando ainda éramos pagãos, recebemos o dom maravilhoso de conhecer a verdade e acolher das mãos benévolas de Deus meios tão seguros e apropriados à nossa santificação e salvação, temos agora o dever de atrair para a comunhão da Igreja, com afeto e firmeza, todos os que infelizmente ainda carecem deste sacramento universal de salvação, sem o qual ninguém pode entrar no Reino celeste.
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