Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 14, 7-14)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes”. Disse Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!”
Jesus respondeu: “Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces Filipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai”? Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras.
Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditai, ao menos, por causa destas mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo, quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai, e o que pedirdes em meu nome, eu o realizarei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes algo em meu nome, eu o realizarei”.
O Evangelho que a Igreja proclama neste dia contém uma verdade que, apesar de ser a mais fundamental de toda a nossa santa religião, jaz esquecida, quando não é simplesmente negada, no coração de não poucos católicos: “Quem me viu, viu o Pai […], eu estou no Pai e o Pai está em mim”, porque “eu e o Pai somos um” (Jo 10, 13). Em diversas passagens da Escritura, Jesus se apresenta — é verdade — como enviado de Deus, encarregado de transmitir aos homens uma doutrina religiosa; Ele também se atribui, de forma mais do que clara, as características do Messias que o povo de Israel há séculos vinha esperando, segundo as promessas do Antigo Testamento. Mas, além destes testemunhos, Jesus lhes acrescenta outro, não menos importante, e ainda mais escandaloso para ouvidos judeus e uma verdadeira loucura para a vã filosofia dos gentios: Ele, além de mestre e profeta, além de Cristo e fundador de uma nova religião, é verdadeiramente o Filho de Deus, em sentido próprio e natural. E, sejam embora quase inumeráveis os lugares em que o Senhor afirma ser superior às maiores dignidades da terra (sejam reis ou sábios, profetas ou anjos), demonstra possuir um poder divino e se arroga atributos que só a Deus convêm, não falta hoje na Igreja quem se queira chamar com o alto nome de cristão ao mesmo tempo que rebaixa Cristo à condição de mero líder religioso, mais um entre muitos, ainda que se lhe queira outorgar um título de honra entre tantos Budas, Maomés e Confúcios. E por quê? A razão disto não é só a má formação oferecida nas catequeses nem o falso ecumenismo que, sob o nome de “diálogo”, encobre um inaceitável indiferentismo religioso; é também, e sobretudo, o horror às consequências práticas, vitais, profundas, que implica a fé nestas palavras: “Eu e o Pai somos um”. Porque, se cremos realmente que Jesus é o Filho de Deus, já não podemos viver como dantes; não temos escusa alguma para renunciar a fé que recebemos na Igreja; não podemos negociar com o mundo, vendo de que ponto do Evangelho podemos fazer caso omisso, porque não há palavra nele que, por dura que pareça, não seja divina: a proibição do divórcio e da fornicação, o dever de amar e rezar pelo inimigos, a necessidade de escutar e obedecer ao que diz a Igreja… Não é de estranhar, portanto, que a crise de fé que presenciamos hoje, e que se manifesta em tantas formas de desobediência ao que manda e ensina o Magistério eclesiástico, tenha suas raízes numa crise de fé na divindade de Nosso Senhor. E nós, se queremos contribuir para que a Igreja vença, como venceu tantas vezes em tempos passados, a crise atual, não temos melhor remédio do que testemunhar claramente, com coragem e clareza, em nossas vidas e por palavra, que não há salvação possível fora de Jesus Cristo, pois só Ele é o Caminho, enquanto Verbo encarnado, a Verdade, enquanto Verbo divino, e a Vida, enquanto Deus de Deus e Luz da Luz: “Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim”.
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