Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 11, 47-54)
Naquele tempo, disse o Senhor: “Ai de vós, porque construís os túmulos dos profetas; no entanto, foram vossos pais que os mataram. Com isso, vós sois testemunhas e aprovais as obras de vossos pais, pois eles mataram os profetas e vós construís os túmulos. É por isso que a sabedoria de Deus afirmou: Eu lhes enviarei profetas e apóstolos, e eles matarão e perseguirão alguns deles, a fim de que se peçam contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo, desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o santuário. Sim, eu vos digo: serão pedidas contas disso a esta geração. Ai de vós, mestres da Lei, porque tomastes a chave da ciência. Vós mesmos não entrastes, e ainda impedistes os que queriam entrar”. Quando Jesus saiu daí, os mestres da Lei e os fariseus começaram a tratá-lo mal, e a provocá-lo sobre muitos pontos. Armavam ciladas, para pegá-lo de surpresa, por qualquer palavra que saísse de sua boca”.
Teresa d’Ávila, cuja memória festejamos hoje, tem a particularidade de ter sido não só uma grande santa, mas um dos primeiros Doutores a ensinar passo a passo como se chega à santidade e à vida mística. Embora sejam ricos de ensinamentos os seus vários escritos, um deles tem para nós especial importância, não tanto por dizer de modo expresso como as almas se santificam, mas por denunciar o principal impedimento que encontram elas para crescer em santidade: a tibieza. No Livro da Vida, com efeito, após narrar as tantas mercês que Deus lhe vinha fazendo, expõe a Madre Teresa a causa por que passou tanto tempo sem dar passos no amor, embora fosse boa religiosa, cumpridora de seus ofícios e livre de pecados mortais: “Comecei, de passatempo em passatempo, de vaidade em vaidade, de ocasião em ocasião, a meter-me tanto em mui grandes ocasiões e a andar a minha alma tão estragada em vaidades, que já tinha vergonha, em tão particular amizade como é tratar de oração, de me tornar a chegar a Deus. Ajudou a isto que, ao crescerem os pecados, me começou a faltar o gosto e regalo nas coisas de virtude” (7, 1). Refere-se a santa a certas amizades e conversas que a distraíam no mosteiro em que vivia, muito aberto às coisas do mundo, e ao gosto que nelas encontrava, a ponto de apegar-se a esses afetos intrusos que, se em si mesmos não eram graves, constituíam ao menos faltas veniais para uma carmelita, que por estado de vida deveria consagrar-se à solidão e à intimidade com Deus.
Veem-se, de fato, os principais efeitos do pecado venial no relato de S. Teresa: a) afeto desordenado aos bens temporais: “Comecei […] a meter-me tanto em mui grandes ocasiões”; b) ofuscamento do esplendor e beleza atuais da alma: “e a andar a minha alma tão estragada”; c) subtração de muitas graças, sobretudo das necessárias à vida de oração: “que já tinha vergonha […] de me tornar a chegar a Deus”; d) disposição ao pecado mortal, em razão dos efeitos anteriores: “Ajudou a isto que, ao crescerem os pecados”; e) e dificuldade no exercício da caridade e das demais virtudes: “me começou a faltar o gosto e regalo nas coisas de virtude” [1]. Foi essa a doença que impedia Teresa de tornar-se a grande santa em que Deus a queria transformar, e é esse mesmo verme, roedor da piedade, que ainda impede tantas almas boas de chegarem a ser perfeitas [2]. É esse saber-se chamado por Deus, mas seguir o mundo; ter contento nas coisas divinas, mas permanecer atado às do mundo; querer juntos contrários tão inimigos um do outro como a vida espiritual e os afetos terrenos — é esse, pois, o principal impedimento das almas que querem ser do Céu sendo reféns da Terra, que muito trabalham na oração por serem escravas de sensações, que não se podem encerrar dentro de si sem trazerem o fardo de mil vaidades (cf. 7, 17). Mas se Deus permitiu a Teresa passar tanto tempo nesse estado, foi para prevenir-nos contra ele de antemão, a fim de combatermos já, antes de que cresça, o verme que em Teresa, para ser mais experimentada Doutora, cresceu por anos: “Há mil bens que eu não ousaria dizer se não tivesse grande experiência do muito que isto importa” (7, 22).
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