Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 2,36-40)
Naquele tempo, havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido.
Depois ficara viúva, e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do Templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações. Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.
No Evangelho de hoje, a profetisa Ana recebe Jesus no Templo. É este o mistério que nós estamos acostumados a contemplar quando rezamos o santo Rosário. Jesus é apresentado diante do Templo de Deus, e ali se realizam as profecias do Antigo Testamento. Mas, nestes dias, nós estamos lendo de forma discursiva a Primeira Carta de São João, em que o evangelista São João, ao nos escrever essa carta, coloca ali algumas balizas, alguns pontos importantes para a nossa vida espiritual.
No trecho que se medita hoje, São João nos recorda “que tudo o que há no mundo é a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida”. Essa é a tradução tradicional para esses três termos. O que isso quer nos ensinar? Você tem de entender o seguinte: tudo o que se move é movido por alguma coisa. Nós, se quisermos amar e vencer o pecado, como diz São João nesta carta; se nós quisermos ser fortes e vencer o maligno, precisamos ser movidos pelo Verbo da vida, pela palavra de Cristo.
Então, quando uma pessoa cultiva uma vida espiritual, com momentos de oração pessoal, ela consegue se encontrar com Jesus ressuscitado e, assim, ser movida pelo suave toque da graça de Deus, que a torna capaz de amar. Mas, se a pessoa não cultiva a vida interior, não quer saber de rezar e se recolher, ela de qualquer modo será movida por algo: ao invés de ser movida pela graça de Cristo, será movida pela concupiscência da carne.
E o que é concupiscência da carne? As pessoas acham que “carne” é o corpo. Não, é exatamente o contrário. “Carne” é a alma. Sim, é uma alma tão influenciada pelos prazeres do corpo, que se tornou “carnal”. Então, a Bíblia, quando fala de carne, não está se referindo ao “corpo”, mas à alma influenciada pelas paixões desordenadas do nosso corpo. Pois bem, essa é a concupiscência da carne, ou seja, a sua alma, ao invés de receber as luzes da graça, fica recebendo os impulsos das paixões desordenadas.
Mas não somente isso, há também a concupiscência dos olhos. Não são estes olhos físicos. Novamente estamos falando da alma, que é levada pelo impulso da curiosidade, do querer saber de tudo. Isso é uma desordem na própria alma da pessoa, que tem sede de conhecer a Palavra de Deus, e, ao invés de conhecer a Palavra de Deus e a verdade, fica curiosando, passando de página em página na internet, no Facebook, de um amigo para outro no WhatsApp. Em suma, a concupiscência dos olhos age quando a sua alma, que foi feita para conhecer a verdade, fica perdida em curiosidades e futilidades.
Já a soberba da vida é quando a sua alma quer tomar o lugar de Deus: “Sereis como deuses”, disse o demônio aos nossos primeiros pais.
Se você não é movido pelo Verbo encarnado e pela luz da graça; se você não quer ter vida interior e não quer rezar, saiba que você ainda assim será influenciado, mas pelas obras deste mundo: “porque tudo o que há no mundo”, diz São João, “é a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida”.
Então, se você não quer ser do mundo, corra para os braços de Cristo, Verbo encarnado. Ele, com a luz da graça, certamente irá iluminar você.
O que achou desse conteúdo?