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No Céu ou no Inferno, somos eternos!

Celebrar a glória de Nossa Senhora significa lembrar que somos eternos. A partir do momento em que fomos concebidos, não deixaremos de existir jamais, seja no Céu seja no Inferno. Por isso, desapeguemo-nos das coisas da terra! Se elas perecerão, e nós permaneceremos, é uma grande tolice prender-se a elas.

Texto do episódio
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Celebramos hoje com grande júbilo a Solenidade da Assunção aos céus da toda santa Mãe de Deus e nossa, o mais feliz de todos os dias da Virgem Maria.

Recorramos a um pouco de catecismo para esclarecer o que estamos celebrando, a fim de que esses mistérios iluminem a nossa vida.

Para tratar de um primeiro ponto, comecemos com uma pergunta retórica: você existe ou não? Se existe, então é eterno. Você nunca deixará de existir! Nós somos para sempre, porque a nossa alma é imortal. Nesse sentido, não há nada que consiga nos “matar”. A morte é a separação entre o corpo e a alma. Mas a nossa alma é eterna.

As crianças que são concebidas no ventre da mãe, ainda que morram sem batismo, não deixam de existir, pois a alma delas é eterna. Qual é o destino das crianças que morrem sem batismo? Isso já é assunto para outra aula. Basta-nos o que Jesus disse: “Deixai vir a mim as criancinhas” (cf. Lc 18,16; Mt 19,14; Mc 10,14). Qualquer outra especulação a esse respeito é objeto da Teologia, onde há diversas posições em discussão. O que nos interessa, neste momento, é esta verdade: somos eternos, e jamais deixaremos de existir.

Você já havia se dado conta da sua eternidade? Pare e medite por um momento sobre esta frase: “Eu sou para sempre”; e lembre-se de que seu destino é a eterna felicidade do Céu ou o eterno castigo do Inferno. Não há uma terceira alternativa!

Há também o Purgatório, mas recordemos que tal estado é uma situação transitória de purificação para aqueles que já têm como destino certo o Céu. É como sempre recordamos: o Purgatório só tem uma porta de saída, que é para o Céu. Todos que estão lá já estão salvos, mas devemos rezar pelo alívio de seus sofrimentos. Então voltemos agora a atenção para as coisas eternas: nós, e o nosso Céu ou o nosso Inferno.

Diante dessa verdade, existe apenas uma única atitude legítima para com esta vida efêmera e passageira: não podemos ficar hipnotizados por ela. Ficarmos absortos nesta vida transitória é uma tolice.

Isso significa que estou ensinando alguma forma de alienação, tentando convencer as pessoas de que não vale a pena lutar por um mundo melhor? Ora, é exatamente o contrário! Foi justamente porque a Igreja ensinou que existe um Céu e um Inferno eternos, que, ao longo da história, inúmeros fiéis, desprezando as felicidades passageiras desta vida, dedicaram-se ao bem do próximo e, assim, consequentemente, fizeram sociedades melhores.

Quem realmente faz desta vida um inferno são aqueles que depositam toda sua esperança nesta breve passagem aqui na terra. São aqueles que pensam: “Eu só tenho esta vida, eu só tenho esta felicidade, mas não estou sendo feliz. Preciso, então, encontrar o ‘culpado’ e matar esse desgraçado!” — e assim, em todas as épocas, foi feito muito mal em nome de “um mundo melhor”; não interessa se escolheram como “culpado” a família, a política, algum grupo social específico ou a sociedade como um todo. São justamente aqueles que acreditam que está nesta terra toda a felicidade possível que terminam transformando a sua própria vida e a dos outros num inferno.

No entanto, somos eternos! Existe uma felicidade eterna para nós, mas pode existir também uma condenação eterna. O Inferno não é temporário! Não é um “tempo que passa”. Quem morre em estado de inimizade com Deus, “morre eternamente”, no sentido de que sua alma seguirá existindo para sempre, mas sofrendo nesse estado de condenação eterna.

Agora, apresentemos o segundo ponto, o tema principal desta Solenidade: Nossa Senhora e Mãe, a Virgem Maria, Mãe de Deus, terminados os seus dias aqui na terra, foi levada para o Céu ressuscitada. Nossa Senhora está viva!

Podemos entender melhor essa verdade fazendo as devidas distinções: Santa Teresinha, por exemplo, também está no Céu; mas está morta, no sentido de que é somente a sua alma que está no Céu. O corpo de Santa Teresinha apodreceu no cemitério de Lisieux, e os seus ossos estão depositados numa urna na igreja da cidade. O corpo desta santa se foi, mas a sua alma está viva diante de Deus; pois as almas não morrem.

Somos eternos, mas o nosso corpo morre e apodrece. Este mundo também não é para sempre, e terá um fim no tempo determinado por Deus. Não sabemos quando isso se dará, e provavelmente estaremos mortos antes disso. Portanto, não nos preocupemos com o destino do mundo, mas com nossa própria alma. Convém mais nos preocuparmos com nossa própria morte, pois esta, sim, significará o nosso “fim do mundo” particular.

Mas quando vier realmente o Fim dos Tempos, todos nós iremos ressuscitar. Os bons ressuscitarão para a alegria eterna. Santa Teresinha, cuja alma já está no Céu, irá ressuscitar em corpo e alma — e com grande beleza! Uma vez que bela é a sua alma, belo será o seu corpo, e ela será resplandecente de glória no Céu.

Judas, porém, está no Inferno… O corpo dele apodreceu pendurado em alguma árvore nas proximidades de Jerusalém. Ninguém sabe onde é o túmulo do discípulo traidor, mas o corpo dele apodreceu. Judas, porém, é eterno e está no Inferno eternamente. No Fim dos Tempos, Judas também irá ressuscitar, mas o seu corpo será horroroso — deforme, medonho de se ver — como horrorosa é a sua alma. Na ressurreição, os corpos acompanharão a beleza ou a feiura das almas.

Isso nos traz uma breve reflexão, dirigida a todas as pessoas que vivem imersas no consumo de pornografia, admirando corpos que consideram belíssimos: se essas pobres almas que atuam em filmes pornográficos morrerem em pecado mortal, no dia do Juízo Final, elas terão corpos horrorosos. Você, que fica admirando mulheres lindas de almas más, irá vê-las transformadas em algo horrendo, como se fossem um demônio. Você, que fica admirando homens lindos no Instagram: se esses homens morrerem em pecado mortal, você verá esses homens deformados, como verdadeiros demônios, pavorosos de se ver.

Haverá, portanto, ressurreição dos mortos para todos, bons e maus. Mas nossa Mãe bendita já está no Céu — desde a sua Assunção — ressuscitada. Deus não quis esperar o último dia, o Fim dos Tempos, para a ressurreição de sua Mãe.

Nosso Senhor Jesus Cristo é o Filho eterno de Deus que, quando se fez homem, teve uma Mãe aqui na terra. Essa Mãe bem-aventurada, cheia de graça — “Ave, cheia de graça”, “Ave, cheia de formosura”, “Ave, tota pulchra es, Maria”, “Ó Maria, tu és toda inteira belíssima” —, essa alma bendita, terminados os seus dias aqui na terra, foi levada para o Céu, em corpo e alma. Deus antecipou a ressurreição de sua Mãe e, por isso, Nossa Senhora está no Céu, viva.

Santa Teresinha, Santo Antônio, São João Bosco, o santo Cura d’Ars, os santos Apóstolos e Mártires… Todos estão no Céu, mas estão mortos. Por enquanto, somente as suas almas estão na bem-aventurança eterna. Nossa Senhora, porém, está viva no Céu, porque está lá em corpo e alma, sua alma belíssima em um corpo resplandecente de glória e beleza. Se por acaso víssemos Nossa Senhora, Mãe de Deus, cairíamos de joelhos achando que é uma deusa, e somente a fé nos levaria a dizer: “Não, não é uma divindade. É ‘somente’ a Virgem Maria”. A beleza de Nossa Senhora no Céu é gloriosa e bendita para além de toda a medida, entre todas as criaturas. E ainda que ela seja somente uma criatura, é a toda santa Mãe de Deus.

Maria está no Céu ressuscitada, e este dia em que ela entrou no Céu em corpo e alma, é o seu dia mais feliz. Afinal, embora aqui na terra ela já tivesse o seu Filho, Jesus, ainda não tinha a visão face a face de Deus. Na Assunção, Nossa Senhora alcançou a sua felicidade perfeita e eterna; a sua felicidade gloriosa. Uma antiga tradição nos diz que, neste dia, a alegria do Céu é tão grande que Deus, por uma clemência, abranda até mesmo as penas do Inferno. Até mesmo os condenados eternos têm uma diminuição de seu castigo; tal é a felicidade de ver Nossa Senhora entrar no Céu.

É isso que nós estamos celebrando; e uma vez feita a lição de catecismo, vamos aplicar essa verdade à nossa vida. Nossa Senhora sobe aos céus e sobe desapegada deste mundo. Portanto, peçamos a ela para que leve também o nosso coração e nos ajude a desapegar-nos deste mundo.

Discorramos mais um pouco sobre o desapego a este mundo. O apego ao mundo, por si mesmo, não é um pecado, mas é a origem de todos os pecados. Todo aquele que peca, o faz porque está apegado a alguma criatura. Ora, uma vez que somos eternos, nosso destino eterno será o Céu ou o Inferno. Deste modo, aquele que sabe que tem à frente uma felicidade ou uma condenação eterna, mas permanece preocupado com tolices passageiras, está agindo de forma insana!

Façamos um exercício de imaginação. Você está atravessando o trilho de um desses trens-balas do Japão, que está se aproximando no horizonte a 270 km por hora. Mas, no momento em que você está com os pés em cima do trilho, o seu tênis branco novinho fica um pouco sujo de graxa; e isso o deixa preocupadíssimo! Então, para limpar aquele pouquinho de sujeira no seu calçado, você para no meio do trilho do trem. Pois bem, os santos são aqueles que nos exortam: “Saia daí! Desapegue-se disso! Esqueça esse tênis! O trem está chegando!”; mas você insiste: “Não! Meu tênis está sujo. Preciso limpá-lo…” Ora, o que você diria de uma pessoa que está mais preocupada com a graxa no tênis do que com a conservação de sua própria vida? Certamente diria que a pessoa é louca ou idiota. Como alguém pode estar mais preocupado com a integridade de seu tênis novo do que com o trem que está se aproximando em alta velocidade para lhe atropelar?

Há um Céu e um Inferno eternos esperando por todos nós. No entanto, o ser humano geralmente está mais preocupado com inúmeras coisas passageiras: perde o sono porque há uma dívida no cartório em seu nome; irrita-se pela ofensa que seu cônjuge lhe fez na noite anterior, motivo que já o faz pensar em divórcio; aborrece-se com o modo de agir de sua namorada, do patrão ou do vizinho; ofende-se e decide não ir mais à Missa porque o padre não foi simpático quando você o cumprimentou; remói a raiva que sente de seu pai que lhe bateu quando era criança; revolta-se porque um ladrão ou um político corrupto roubou seus bens; vicia-se no celular, sem o qual não consegue mais viver e, por isso, passa a se comportar como um zumbi.

Aliás, o que é um zumbi? É um morto-vivo. No exemplo acima, um “morto-vivo” vidrado na tela de um smartphone. Imagine qual seria a visão de um ser extraterrestre que descobrisse os seres humanos do planeta Terra no século XXI? Em seu “relatório”, certamente diria: os seres humanos são uma legião de criaturas dementes, que passam a vida olhando para uma tela, e não para o mundo real.

Todos sabem que os padres vão a muitos velórios. E confesso que em alguns tenho vontade de dizer àquelas pessoas que estão chorando e “se descabelando” aos pés do caixão: “Ei, você! Deixe disso, pare de chorar, olhe para o celular! Porque esta pessoa que agora está no caixão e que você amava estava ao seu lado o tempo inteiro, enquanto você preferia olhar para a tela do smartphone. Agora a vida dela aqui na terra passou. Está sentindo falta dela? Quem sabe se você der uma olhada no celular a saudade não passa…” Enfim, eis um comportamento que demonstra muito bem o que é o apego a este mundo: deixe essa estupidez de ficar o dia inteiro refém do celular! Você não vê que está ficando doente? A vida está aqui fora! As pessoas estão ao seu lado precisando de você!

Nós temos uma só missão neste mundo: amar a Deus e aos irmãos. É tão fácil de explicar o que é a vida cristã! Basta nos lembrarmos e nos concentrarmos nisso e cumprir a nossa missão. Há um Céu nos esperando pela eternidade. Esqueçamos o “tênis sujo”, porque o trem não vai frear. Nossa morte não será adiada nem por um segundo. O dia da nossa morte já está marcado; não sabemos quando será, mas Deus sabe.

A nossa morte virá, e com ela só pode haver dois resultados. Ou somos esmagados pelo trem, e vamos para o Inferno; ou nos salvamos de alguma forma, e vamos para o Céu. Enquanto isso, passamos os dias preocupados com o nosso “tênis branco”, e às vezes até brigamos com o trilho do trem, mas quando o chutamos o máximo que acontece é machucarmos o pé. É a vida passando, e o trem se aproximando, enquanto não estamos cumprindo a nossa única missão: amar a Deus nos irmãos. Mas para isso, precisamos nos desapegar de nossos projetos egoístas!

Há quem esteja convicto de que um dia, finalmente, amará a Deus quando acontecer “a conjunção de Marte com Júpiter na lua crescente, ou quando o equinócio estiver voltado para uma direção determinada…” É uma autoilusão! Para que você comece a amar a Deus, a vida não vai esperar as “condições ideais de temperatura e pressão” que, aliás, só existem na sua cabeça. A hora de desapegar-se e começar a amar é agora, não espere! Enquanto você está em cima do trilho lamentando-se do fato de ninguém se importar com a graxa no seu tênis, as pessoas que realmente o amam estão gritando: “Saia do trilho do trem! Rápido! Não seja insensato!”

Deus quer a nossa salvação eterna. Neste dia em que celebramos a Assunção da toda santa Mãe de Deus, peçamos a graça dela, ao subir aos céus, levar consigo o nosso coração, enfim, desapegado. Corações ao alto! Volte o seu olhar para o Céu e foque em sua missão nesta terra. A vida está passando, o trem está chegando rápido: largue para trás o tênis novo! Vá descalço! E se, para salvar a sua vida, for preciso, nem se importe com perder o pé.

Quando dizemos que alguém é apegado, isso pode parecer algo inofensivo. Pode-se ter apego a esta vida, ao próprio corpo, ao dinheiro, à saúde, à família, aos seus relacionamentos, à sua imagem pública, à sua carreira, ou aos seus afetos. Parece algo simples, mas sabemos que não é assim. É o apego que nos “prende ao chão, ao trilho do trem” e nos impede de subir ao Céu. Para cumprir a nossa missão de amar, precisamos nos desapegar.

Se você está vivo, ainda há tempo, não importa a sua idade. Lembre-se de São Dimas, o bom ladrão, que está no Céu, glorioso. Ele desapegou-se de sua vida e depositou toda a sua esperança em Jesus, que estava crucificado ao seu lado — “Lembra-te de mim quando entrares no teu Reino” (Lc 23,42).

Sendo assim, desapegue-se da vida sem sentido que você levou até agora, e “Sursum corda!” — Corações ao alto! Eis a mensagem da Assunção. Rezemos a Nossa Senhora:

“Ó Mãe santa e bendita, vós, que hoje subistes ao Céu, levai nossos corações, fazei com que nossos corações se desapeguem da terra e que possamos sonhar com o Céu, desejando-o intensamente; e, assim, possamos amar a Deus e servir aos irmãos. Ajudai-nos a esquecer os erros do passado através da Confissão, entregando-os à misericórdia do coração de Deus, e ensinando-nos a desapegar-nos das coisas terrenas.”

Vamos sem medo rumo ao Céu, eterno e maravilhoso, que está esperando por nós. “Corações ao alto! O nosso coração está em Deus”. Nós somos eternos e ressuscitaremos, corpo e alma, no último dia. Nossa Mãe já nos espera, ressuscitada no Céu, e feliz. Ela é plenamente feliz! Não há mancha alguma na felicidade da Virgem Maria, que deseja a nossa presença, que nos espera e prepara na morada eterna o nosso lugar. Que, do alto do Céu, ela nos dirija o seu caridoso olhar e verdadeiramente rapte o nosso coração, para que passemos os nossos dias aqui na terra amando a Deus e servindo aos irmãos.

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