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Texto do episódio
01

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 16,13-23)

Então Jesus lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Respondendo, Jesus lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”.

Jesus, então, ordenou aos discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Messias. Jesus começou a mostrar aos seus discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia.

Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo, dizendo: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!” Jesus, porém, voltou-se para Pedro, e disse: “Vai para longe, Satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!”

Com grande alegria celebramos hoje a Memória de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, o Padroeiro de todos os párocos, santo muito querido e modelo para nós que somos do clero diocesano. É fantástico que a Igreja escolha para Padroeiro dos párocos alguém que foi pároco numa vilinha desconhecida. No fundo, no fundo, a Igreja poderia ter colocado gente muito mais — digamos assim — “dinâmica”, no sentido de que fez grandes viagens missionárias, isso e aquilo, ou que foi conhecida por outras virtudes e portentos. São João Maria Vianney foi conhecido simplesmente como pároco de Ars, o homem que se sentava no confessionário e convertia as almas se oferecendo a Deus como sacerdote e vítima. É justamente aí que está o exemplo de São João Maria Vianney para nós padres.

Atualmente, existe uma doença que se alastra pelo clero (e digo isso batendo no meu próprio peito; não estou aqui acusando ninguém, estou falando de mim). Chama-se “pelagianismo prático”. O pelagianismo prático consiste em crermos mais no que “eu posso fazer” do que na operação da graça de Deus. Ou seja, é como se, no fundo, teoricamente nós disséssemos: “Jesus é o Salvador, e é a graça de Jesus que tudo salva”, mas, na prática, agíssemos como se fôssemos nós os salvadores. E assim nos perdemos num ativismo medonho. Por trás desse ativismo, existe a crença de que é mais importante “eu fazer” do que “eu rezar”.

São João Maria Vianney não tinha esta crença. Quando chegou a Ars, sabendo que não era ele o salvador daquelas almas, acordava às duas horas da manhã, ia celebrar Missa e ficava em oração até o meio-dia. Depois de dez horas de oração — dez horas depois! —, ele saía para realizar as atividade de seu ministério, e se oferecia a Deus, com penitências e sacrifícios. Um amigo seu escreveu-lhe reclamando e perguntando quais eram seus “segredos” pastorais: “Eu não consigo fazer na minha paróquia o que o sr., padre Vianney, fez em Ars! Essa transformação fantástica de um bando de pagãos em cristãos fervorosos! Qual é o milagre? O que você fez?”. Ele então escreveu de volta, dizendo: “O senhor diz que tentou tudo, mas até que o senhor não tenha tentado dormir no chão, flagelar-se, fazer jejum e penitências; até que o senhor não tenha colocado o joelho no chão, feito vigílias e rezado, suplicando a Deus a conversão e salvação do seu povo, não creia que o senhor fez tudo”. 

Eis aí o exemplo luminoso de Vianney, o de sabermos que nós sacerdotes, sim, somos, como Vianney, feitos para o confessionário e para o altar. Os dois atos mais importantes que um padre pode fazer é celebrar Missa e ouvir Confissão, porque esses dois são os sacramentos que levam, passo a passo, os fiéis para o caminho da santidade. Confessar e comungar, confessar e comungar, confessar e comungar com a maior frequência possível! Mas, ao mesmo tempo, não se trata somente de um ativismo, de uma atividade humana por si só. Trata-se também de cada padre se oferecer  como sacerdote e vítima, como fez Cristo na Cruz.

Sim, é necessária essa entrega. Se nós hoje, no século XXI, não temos — digamos assim — “fibra” para fazer as penitências de um Vianney (pois vivemos uma vida de comodidades), ao mesmo tempo podemos fazer alguma forma de penitência, e podemos realizá-la sabendo que nós, padres, podemos nos unir também a tantas mulheres e mães espirituais que se oferecem pelo nosso sacerdócio. Então, esse sacrifício em conjunto, oferecido a Deus, certamente será uma oferta agradável pela salvação do povo inteiro. Vianney diz como São Paulo: “Completo na minha carne o que falta aos padecimentos de Cristo”. Que ele seja nosso exemplo luminoso e, de lá do Céu, ensine a nós, sacerdotes, a fugir do pelagianismo prático.

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