Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 17, 5-10)
Naquele tempo, os apóstolos disseram ao Senhor: "Aumenta a nossa fé!"
O Senhor respondeu: "Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: 'Arranca-te daqui e planta-te no mar', e ela vos obedeceria.
Se algum de vós tem um empregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: 'Vem depressa para a mesa?'
Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: 'Prepara-me o jantar, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois disso tu poderás comer e beber?' Será que vai agradecer ao empregado, porque fez o que lhe havia mandado?
Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: 'Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer'".
É com uma humilhação que, no Evangelho deste domingo, Cristo responde ao pedido de seus discípulos, de aumentar neles a virtude da fé. "Se vós tivésseis fé, mesmo pequena", Ele diz, "poderíeis dizer a esta amoreira: 'Arranca-te daqui e planta-te no mar', e ela vos obedeceria". O modo subjuntivo dá a entender que aqueles homens, mesmo estando ao seu lado e tendo deixado tudo para segui-lO, têm uma fé ainda muito insignificante, menor até que um grão de mostarda — e Cristo não hesita em pôr-lhes, nua e crua, essa verdade diante dos olhos.
Embora pareça estranho à primeira vista, a frequência com que o Senhor lançava mão desse recurso autoriza-nos a falar da humilhação como um autêntico método evangélico. Foi assim que Ele procedeu, por exemplo, com Nicodemos, um dos chefes dos judeus (cf. Jo 3, 10); com a mulher da Samaria, à beira de um poço (cf. Jo 4, 17-18); e com o então Saulo de Tarso, a caminho de Damasco (cf. At 9, 3-9). Revelando-lhes, respectivamente, a sua ignorância, a sua fraqueza e a sua malícia, é evidente que Cristo não intendia prostrar e destruir as criaturas que Ele mesmo tinha formado. Sua pretensão, ao humilhar os que ama, é sempre a de iluminar a alma humana, a fim de que, enxergando a sua condição de miséria, os homens se lancem com confiança em seus braços.
Muito oportuna é, a esse propósito, a mensagem do Verbo à comunidade de Laodiceia, que fornece a chave de interpretação perfeita para as humilhações com que Deus macera e modela os seus filhos:
"Assim fala o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço a tua conduta. Não és frio, nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te de minha boca. Tu dizes: 'Sou rico e abastado e não careço de nada', em vez de reconhecer que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu! Dou-te um conselho: compra de mim ouro purificado no fogo, para ficares rico, e vestes brancas, para vestires e não aparecer a tua nudez vergonhosa; e compra também um colírio para curar os teus olhos, para que enxergues. Eu repreendo e educo os que amo. Esforça-te, pois, e converte-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo." (Ap 3, 14-20)
A escola da humildade pode ser dolorosa, mas é realmente um "colírio", para usar a expressão de São João, porque nos revela a verdade de nosso ser. Quem se acredita "rico e abastado" dificilmente fará a experiência da misericórdia de Deus, porque vive na ilusão da autossuficiência, de que não precisa dEle; ao Senhor que bate à porta do seu coração, fará sempre ouvidos moucos, ficando privado, durante a vida e após a morte, da sua presença.
Não esperemos que as provações desta vida terrena nos humilhem, portanto; apressemo-nos em praticar atos de humildade, em confessar que somos "servos inúteis" e que, do bem que possuímos, tudo nos veio da graça de Deus e nada, absolutamente, de nossos méritos. Com o coro dos Apóstolos, peçamos também ao Senhor que nos aumente a fé e que vivamos por ela (cf. Hab 2, 4), a fim de que a morte nos encontre prontos para O contemplarmos face a face.
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