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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 16,12-15)

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora. Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e até as coisas futuras vos anunciará. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que ele receberá e vos anunciará, é meu”.

No domingo passado, celebramos Pentecostes. Agora, celebramos a Santíssima Trindade. E qual o sentido de celebrarmos esta Solenidade? A primeira coisa é entendermos que Deus se revelou a nós e que essa Revelação aconteceu em Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é a Revelação de Deus! Está escrito no primeiro capítulo de São João, versículo 18: “Ninguém jamais viu a Deus”.

Então, quais são os dois caminhos que teríamos para conhecer Deus? Primeiro, você pode usar a inteligência humana: o caminho para conhecermos Deus é possível. O Concílio Vaticano I, na Constituição “Dei Filius”, diz que o homem, na sua razão, na sua inteligência, tem a capacidade de conhecer alguma coisa a respeito de Deus. Então, podemos, com a nossa inteligência, mesmo que às apalpadelas, conhecer alguma coisa de Deus.

Como assim? Imagine, por exemplo, que você nunca tivesse visto um elefante e encontra, no meio da savana, uma pegada enorme: “Nossa, olha a pata desse bicho, é um negócio grande”. E você analisa a profundidade da pata na terra: “Não somente é grande, é pesado”. 

Então, você soube alguma coisa do elefante. Deu para você identificar pelas pegadas que o bicho tem quatro patas, deu para você identificar pelas pegadas que ele é pesado e grande, mas não dá pra deduzir muito mais do que isso. Sem ver, você nunca vai imaginar um elefante “de verdade”.

Como você vai saber que ele tem orelhas grandes? Que ele tem tromba? Que ele é um paquiderme? Que ele tem uma calda meio estranha? Que ele tem presas grandes? Não! Você não vai saber disso. Na verdade, você conheceu o elefante através da sua inteligência, porém é mais o que você desconhece do que o que você conhece: assim é Deus.

A Igreja Católica crê, e não somente crê, nós sabemos, pela própria experiência filosófica, que nós somos capazes de conhecer algo a respeito de Deus, e que os homens de boa vontade no mundo inteiro — se tivessem boa vontade e inteligência —, chegariam a Ele a partir de certas conclusões, por exemplo, sobre a ordem do mundo no qual vivemos.

Ora, essa ordem, cujas leis os cientistas buscam conhecer, indica que alguma inteligência a estabeleceu. Então, não é muito difícil, a não ser que você tenha má vontade e seja desonesto intelectualmente, chegar à conclusão de que existe um ser inteligente e superior que, de alguma forma, organizou e fez este universo. Até aqui conseguimos chegar pela razão. E até aqui existe, podemos dizer, uma unidade humana.

Bento XVI, numa palestra em Regensburg, Ratisbona (que até teve uma certa repercussão mundial), disse que, se nós, cristãos, quisermos paz com as outras religiões — com os muçulmanos, com as várias religiões do planeta — nós podemos e devemos nos sentar à mesa da racionalidade e dialogar a respeito do racional, daquilo que é inteligente. Ou seja: — a sua inteligência, muçulmano; a sua inteligência, judeu; a sua inteligência, maçom; a sua inteligência, espírita; a sua inteligência, sei lá, agnóstico — nós, católicos, somos capazes de sentar à mesa com todos esses e chegar a certas conclusões.

E não precisa ter guerra, basta que tenha racionalidade. As pessoas colocaram na cabeça que a diferença entre as religiões causa a guerra. Colocaram essa loucura na cabeça desde o século XVII, na Guerra dos Trinta Anos, quando houve um conflito europeu, uma espécie de guerra mundial, que iniciou numa guerra entre católicos e protestantes. Então, quando depois passou a Guerra dos Trinta Anos que matou milhões de pessoas, a Europa chegou à seguinte conclusão: “Política é política, religião é um fato privado. Você tem sua religião, católico; você tem a sua religião, protestante; mas tenham em casa, na sacristia, escondida, mas não venham trazer a religião de vocês para a política. Porque isso vai dar guerra”.

Ao fazer isso, qual foi a consequência? A política, já faz 300 anos, trancou as religiões organizadas na sacristia, em casa, no fato privado. Tirou as religiões organizadas de praça pública, mas sem perceber ou, talvez, percebendo (não estou aqui para julgar as intenções de ninguém) deixou livre cidadania para o ateísmo, o materialismo, o agnosticismo e o indiferentismo religioso. Então, você não pode expressar nenhuma opinião religiosa no parlamento, no tribunal, na escola e na universidade; mas, se você for ateu, materialista, indiferentista religioso e agnóstico, você pode dizer o que quiser!

Ora, 300 anos depois, qual é o resultado disso? Nós temos uma sociedade materialista, ateia, agnóstica, indiferente religiosamente, porque decidiu-se calar um grupo e dar livre cidadania, aos indivíduos mais doidos que existem, os irracionalistas, segundo os quais “não há uma inteligência que ordenou o mundo”. O ateu acha que tudo o que existe é fruto do acaso. Por isso, poderíamos dizer que o povo que mais tem “fé” no planeta são os ateus, porque eles acreditam que eu sou capaz de jogar um baralho com 52 cartas para o alto e todas elas aterrissarem em cima da mesa em formato de torre, com uma carta equilibrada em cima da outra.

Vejamos que “fé” irracional esses sujeitos têm! No Big Bang, explodiu tudo e de repente saiu essa ordem que está aqui! Vida, árvores, pássaros, tudo nasceu do acaso, tudo foi vomitado pelo acaso. Uma pessoa dessas tem mais fé que eu.

Então, quem pode se expressar na nossa sociedade atual? Os “doidos”, os irracionais. Por quê? Porque eles têm fé no acaso, eles não creem numa inteligência que tudo organizou, eles não creem numa inteligência que põe limites morais, então é por isso que vemos, a cada dia que passa, mais opiniões doidas, desprovidas de sensatez.

Por exemplo, a opinião doida da dita “comunidade científica”, quer dizer, essa pseudo ciência que está sendo criada pela Fundação Ford já faz 30 anos, chamada “ideologia de gênero”. Qual é a opinião desse povo doido? Que homens não nascem sentindo atração por mulher, nem mulheres nascem sentindo atração por homem e que isso é uma construção social, fruto de uma imposição feita desde a escola.

O seu filhinho, que acha que é homem e que vai casar com mulher, na verdade, ele é o “oprimido pelo sistema escolar”, porque deveria ser livre para escolher e, no entanto — vejam a abominação das abominações — o filho do sexo masculino cresce na opressão de achar que vai ter que sentir atração sexual por alguém do sexo feminino, para fazer o ato de “procriar” — quando homem e mulher se unem, nascem crianças, e eles acham que isso é uma construção social! Sabe por quê? Porque se não tem uma inteligência criadora, a única inteligência que sobrou é a minha, limitada e idiota. Imaginem que piada terrível: achar que o meu “eu” é a inteligência organizadora do cosmos.

Essa atitude nasceu de um sujeito que é altamente considerado como autoridade filosófica, Kant. Quem é a inteligência organizadora do cosmo? Eu! Logo eu! Então, se eu sou a inteligência organizadora, se fui eu, se foi a minha inteligência que tudo fez, então a gente muda de ideia e de repente os meninos não nascem mais meninos e as meninas não nascem mais meninas. Tudo isso não passa de convenção social. Reduzem tudo à inteligência organizadora de professor tradicionalista, do padre católico medieval ou de preconceituosos, — “você acha que os meninos gostam de meninas, mas isso é uma construção social” — , porque não tem a inteligência do Deus Criador.

Como dialogar com esse tipo de gente? Quer dizer, eles fecharam as religiões organizadas dentro de casa, nós somos menores de idade, não somos cidadãos, não podemos entrar no debate. Quem pode entrar no debate? Quem tem cidadania plena? Quem é adulto? Os doidões que acham que o mundo é fruto do acaso e que a única inteligência organizadora que existe é a minha.

Toda essa introdução foi para você entender que a inteligência humana consegue dizer alguma coisa a respeito de Deus. O problema é que a inteligência humana está muito pouco inteligente nos últimos tempos, sobretudo porque a soberba tomou conta do mundo atual. De qualquer modo, até aqui estamos em paz com as religiões, basta sentar e dialogar na racionalidade.

No entanto, este Deus do qual eu conheço muito pouco — como mostra a comparação do elefante — Ele se revelou! Como Ele se revelou? Imagine que você não viu o elefante face a face, mas ele se expressou de alguma forma, você viu uma silhueta, uma sombra ao longe, houve uma “revelação” do elefante. Você viu algo do elefante — essa Revelação de Deus a nós é Jesus Cristo!

Jesus é a manifestação de Deus. Deus se fez homem e nós ficamos sabendo alguma coisa sobre Ele. São João diz assim, vou repetir o versículo: “Ninguém jamais viu Deus. Mas o Filho Unigênito que é Deus, aquele que vive no seio do Pai, que vive na intimidade do Pai, aquele que está lá, Ele veio aqui e nos contou sobre Deus, Ele narrou oa feitos de Deus — ἐξηγήσατο (“ĕxēgésato”). Jesus é o exegeta de Deus Pai. Ele veio contar para nós como Deus é na eternidade.

E nós ficamos sabendo de algo que a inteligência humana não seria capaz de descobrir (somente se Ele o revelasse): nós ficamos sabendo que existe um Filho eterno, que Deus sempre foi Pai, e que o Filho sempre existiu — coisa totalmente absurda pra nós, porque, para nós, os pais são mais velhos do que os filhos: primeiro existe o pai, depois nasce o filho; mas em Deus não é assim.

Em Deus, o Filho é eterno e o Pai não é nem um segundo mais velho do que o Filho, existe uma geração eterna. Um Pai que se doa totalmente num ato de gerar um Filho totalmente, o tempo todo. E a palavra “o tempo todo” é bastante inadequada, porque na eternidade não existe tempo. Então, Jesus veio dizer que Deus é Pai eternamente, que Deus é Filho eternamente.

E nós descobrimos, com o Espírito Santo derramado em nossos corações em Pentecostes, que não estava completa a história: o Pai e o Filho tem um amor que também é eterno e esse amor é uma Pessoa, esse amor é o Espírito Santo. Pronto, foi revelado.

Qual a inteligência humana que seria capaz de deduzir isso? Ninguém. Aqui, o que os seres humanos “procuravam às apalpadelas”, como diz São Paulo no Areópago de Atenas, brilhou! Brilhou numa luz que ainda não é, claro, a luz intensa, facial, que nós teremos no céu quando nós enxergarmos Deus face a face, mas já é uma luz que ilumina enormemente, uma luz que é um farol, é a luz da fé

 Quando você crê em Jesus Cristo e você crê que Ele é o próprio Deus que se fez homem, significa que em Jesus, naquele ser humano nascido em Belém, encontra-se a plenitude da Revelação de Deus.

Eu posso olhar para Jesus e vou conhecendo a Deus na intimidade. Claro, é um ser humano igual a nós em tudo, mas Ele não é somente um ser humano, é uma pessoa divina. Existe uma pessoa divina intimamente unida àquele ser humano com uma unidade que não pode ser maior. Jesus nos revela Deus: Pai, Filho e Espírito Santo.

Ao  ver Jesus rezando e falando com o Pai, descobrimos algo da relação eterna entre o Pai e o Filho. Ao ver o Pai manifestar o seu amor pelo Filho, descobrimos algo do Espírito Santo. E, então, olhando para Jesus descobrimos algo da Trindade e vemos que Deus é fantasticamente muito mais do que nós poderíamos sequer suspeitar. E aí nós dizemos com São Paulo: “Os olhos jamais contemplaram”. Nunca, nunca ninguém jamais contemplou, nós não podemos sequer imaginar o que Deus reservou para nós no céu.

No céu, nós vamos ver a geração do Filho, no céu nós vamos ver o amor do Espírito Santo entre o Pai e o Filho. No céu nós veremos tudo isso sob a glória de Jesus ressuscitado, através da humanidade dele; e será muito mais do que nós suspeitamos ou  imaginamos, será muito mais do que o nosso coração sequer poderia esperar.

E, por isso, com grande alegria, neste domingo, que nós celebramos a Santíssima Trindade, o mistério principal de nossa fé, aquilo que a inteligência humana nunca poderia alcançar, Jesus revelou: Deus é uma Trindade de amor; e uma vez que nós sabemos disso, pela fé, nós não podemos deixar de viver para este mistério de amor, o mistério de amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Deus é um Pai eterno que ama um Filho eterno com um amor eterno, que é a Pessoa do Espírito Santo. É uma forma catequética de expressar um mistério que é inalcançável. Mas, se pararmos para meditar sobre essa pequena fórmula catequética, a luz vai brilhar no nosso coração e começaremos a ver tudo numa luz tênue, fraca, oscilante, ainda nesta vida, um pouco daquilo que nos espera no céu.

É por isso que sem Jesus não há salvação. Porque se nós não acolhermos na fé Nosso Senhor Jesus Cristo, nós não entraremos nesse mistério de amor. Por isso que nós precisamos evangelizar, não somente ter diálogos racionais com as outras religiões.

Nós, cristãos, católicos, desde o início dialogamos, sim, racionalmente, como fizeram os padres apologistas dos primeiros séculos, mas, além disso, nós não somente queremos defender racionalmente o cristianismo, a nossa fé, as nossas convicções, nós queremos também mudar o coração das pessoas e queremos fazê-las cristãs.

Nós queremos evangelizar — e aqui outra tragédia e outro problema da sociedade laicista atual: eles ficam extremamente incomodados quando começamos a mudar o coração das pessoas e transformar a sociedade numa maioria cristã. Eles ficam apavorados! Incomodadíssimos, porque estão acostumados a dominar e ser a minoria que mantém a maioria acorrentada e silenciosa.

Mas nós, cristãos, não podemos nos calar. Essa minoria barulhenta de ateus, materialistas, agnósticos, indiferentistas religiosos, já nos dominou o suficiente. Nós não podemos esconder nem a racionalidade da fé nem a revelação que foi feita por Jesus Cristo. Nós precisamos comunicar — pois o próprio Deus é a Revelação e, portanto, é comunicação de amor, Deus quer comunicar-se conosco, colocar-nos em comunhão de amor com Ele e, para isso, precisamos receber a fé.

Que neste domingo da Santíssima Trindade renovemos a nossa fé neste mistério de amor, renovemos a nossa fé na certeza de que Deus Pai, Filho e Espírito Santo nos ilumina. E nós, iluminados por esse amor e por essa fé, lutemos para sermos plenamente cidadãos num mundo que, embora indiferente, dobra-se diante da Verdade de Deus alcançada pela razão, pela reflexão, pelo diálogo, preparando o trabalho lento dos missionários e pregadores para levar a conversão a todos, a fim de que este mundo seja também cada vez mais iluminado pela luz da fé e, através de inúmeros conversões, seja cada vez mais cristão.

Que a Trindade nos abençoe e, ao receber essa bênção, que um pouquinho desse mistério de amor eterno, entre o Pai e o Filho, na Pessoa do Espírito Santo, entre em nossas vidas e faça morada em nossas famílias.

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