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O banquete de núpcias ao qual somos chamados

Com a parábola do banquete nupcial, Jesus mostra que Deus não é alguém que vai nos “dar” a felicidade. Ele é a própria felicidade; e, portanto, unir-nos a Ele é a única forma de desfrutarmos da bem-aventurança. Eis o banquete de núpcias ao qual somos chamados.

Texto do episódio
52

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 22,1-14)

Naquele tempo, Jesus voltou a falar em parábolas aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, dizendo: “O Reino dos Céus é como a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho. E mandou os seus empregados para chamar os convidados para a festa, mas estes não quiseram ir. O rei mandou outros empregados, dizendo: ‘Dizei aos convidados: já preparei o banquete, os bois e os animais cevados já foram abatidos e tudo está pronto. Vinde para a festa!’

Mas os convidados não deram a menor atenção: um foi para o seu campo, outro para os seus negócios, outros agarraram os empregados, bateram neles e os mataram. O rei ficou indignado e mandou suas tropas para matar aqueles assassinos e incendiar a cidade deles. Em seguida, o rei disse aos empregados: ‘A festa de casamento está pronta, mas os convidados não foram dignos dela. Portanto, ide até as encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes’.

Então os empregados saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala da festa ficou cheia de convidados. Quando o rei entrou para ver os convidados, observou aí um homem que não estava usando traje de festa e perguntou-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje de festa?’ Mas o homem nada respondeu.

Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrai os pés e as mãos desse homem e jogai-o fora, na escuridão! Aí haverá choro e ranger de dentes’. Porque muitos são chamados, e poucos são escolhidos”.

Neste 28.º Domingo do Tempo Comum, a Igreja proclama o evangelho de São Mateus, capítulo 22, versículos de 1 a 14. Neste Evangelho, Jesus conta uma parábola que tenta explicar aos fariseus, sumos sacerdotes e anciãos do povo — aqueles que vão matá-lo; aqueles que, dentro em breve, irão condená-lo à morte — o que é o Reino dos Céus. Essa é a primeira coisa que temos de entender. Jesus faz uma última tentativa de amolecer esses corações empedernidos.

Estamos no capítulo 22 de São Mateus; é a última semana de Jesus na terra, e Ele sabe que será condenado à morte. É inevitável, por causa da dureza do coração dos chefes do povo judeu; mas não é inevitável, no sentido de que Ele ainda pode salvar alguns deles.

É interessante notar isso. Jesus está ainda na última tentativa de falar aos corações: “Eu vou morrer”. Ele já o previu três vezes: Ele irá a Jerusalém e será condenado à morte. O que Jesus está fazendo não é recurso “retórico” para ver se consegue escapar, como um advogado que tenta mudar o coração dos jurados para ver se escapa da Cruz. Pelo contrário, Ele sabe que será condenado, mas Ele quer a conversão de alguns desses chefes.

É interessante notar, por exemplo, naquele filme famoso do Mel Gibson, “Paixão de Cristo”, algumas cenas que nos esclarecem isso. Durante o julgamento no palácio de Caifás, chefes dos judeus se erguem no meio do julgamento e dizem: “Mas que julgamento é este, convocado no meio da noite? Essa assembleia aqui é ilegal. O que vocês estão fazendo?” São corações que se converteram, que creram, que tinham um princípio de justiça. Estavam vendo a injustiça, a crueldade e a dureza de coração de Caifás e de Anás.

Jesus não desiste de nós. Jesus quer falar aos nossos corações, sejamos nós quem sejamos. Não interessa se você faz parte do grupo que irá condená-lo à morte dentro em breve. Ele quer salvar você; Ele quer que você se separe do grupo desses pecadores.

O Evangelho começa dizendo: “Jesus voltou a falar em parábolas aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo”. E o que Ele tem a dizer? Depois de ter tentado várias vezes salvar essas almas, Ele diz: “O Reino dos Céus é como a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho”. Jesus está contando a história de uma festa de casamento. Novamente, uma história de amor. Já vimos, na semana passada, a história da vinha. Agora, são as núpcias do príncipe. 

O que Jesus está dizendo com toda a clareza é que Deus enviou seu Filho ao mundo para um casamento. É o casamento de Jesus com a humanidade redimida, ou seja, aqueles que aceitaram a Redenção conquistada por Ele na Cruz. Jesus quer se unir à sua Igreja, e todos nós somos convidados para este banquete nupcial. Ouvimos isso em todas as Missas: “Felizes os convidados para o banquete nupcial do Cordeiro. Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.

Jesus nos convida a participar dessas núpcias. Mas, na verdade, não somos somente convidados, como na parábola; sim, somos convidados para o banquete, mas também somos, de forma misteriosa, a própria noiva. Por quê? Porque as núpcias são exatamente isso: a união de Jesus conosco.

Digo isso porque é importante notar qual é a proposta de salvação de Deus. Isso faz parte das várias conversões por que precisamos passar durante a vida.

Faça uma pesquisa na rua e pergunte a qualquer um em que consiste a felicidade do Céu:

— O que é o Céu para você? O que é a salvação? Você acredita em vida após a morte;

— Ah, eu acredito.

— Você acredita que existe, do outro lado, uma felicidade?

— Ah, eu acredito.

— Então, o que é a felicidade para você?

— Ah, é um lugar legal, onde todos ficarão bem e serão felizes.

Essa é, em suma, a ideia de “paraíso” que as pessoas tem, um sentido bastante redutivo da palavra. “Paraíso” quer dizer “o jardim das delícias”. Então, na mentalidade da maioria é o lugar onde todos estarão bem, sem morte, sem dor, sem sofrimento, em que só haverá felicidade, mas é uma felicidade “de mim comigo mesmo”.

O paraíso é isso também, mas está faltando uma coisa muito importante: é um casamento, um encontro, uma união entre Deus e a humanidade. Na pesquisa de rua, dificilmente alguém irá dizer que a felicidade do Céu é estar unido com Deus. A maior parte das pessoas não vê em Deus a sua felicidade, não vê que a felicidade é amar a Deus e estar unido a Ele como uma esposa ao seu esposo, em uma só realidade, em uma só carne, numa felicidade de intimidade de amor — o amado e a amada, o esposo e a esposa.

O problema é esse. Para nós, Deus não é a nossa felicidade. Na parábola, Jesus diz que o rei convidou as pessoas para o casamento do seu filho. Qual foi a reação das pessoas? Os convidados não deram a menor atenção: um foi para o campo; outro foi para os negócios; outros não somente foram ingratos e desprezaram o convite, mas foram agressivos, agarraram os empregados, bateram neles e os mataram. Não somente não viram que Deus é “o Amado”, senão que, pior ainda, viram em Deus um inimigo.

Que tragédia, que coisa medonha. Deus quer nos dar a salvação, e no entanto olhamos para Ele como um “desmancha-prazeres”, que não dá o que desejamos, não faz os nossos caprichos e não atende aos nossos pedidos.

Se fizermos um exame de consciência, veremos que é possível irmos à igreja pela razão errada. Obviamente, ir à igreja é coisa boa; mas a pergunta é: “Estamos indo ao lugar certo pela razão certa ou estamos indo ao lugar certo pela razão errada?” Estamos buscando a Deus porque Deus é a nossa felicidade e queremos nos unir a Ele como a mais amorosa das esposas se une ao esposo, ou estamos só usando a Deus? Não estamos tratando a Deus como um “gênio da lâmpada” que precisa obedecer às nossas ordens? É evidente que ninguém tem coragem de dizer isso de forma tão “rasgada”; mas, pensando bem, a ideia se reduz a isso.

As pessoas tratam a Deus como “a fonte da sua felicidade”. Para elas, Deus é uma espécie de geladeira: basta abrir e pegar aquilo que desejam; é como um supermercado, onde se encontra o que se busca para as próprias conveniências.

Deus não é isso! E é exatamente essa visão de Deus que leva muitas pessoas ao ateísmo e à descrença. Quem imagina que Deus é um ser poderoso a quem se fazem orações visando à realização de nossas vontades, não vai demorar muito tempo para se tornar ateu.

É assim que o demônio faz para as pessoas perderem a fé. Dessa forma, aprende-se a ser ateu. Mesmo que você seja católico e vá à Missa, precisa saber que existe um caminho para perder a fé. Primeiro, você precisa crer num deus falso. Quando você estiver totalmente devotado a esse deus, o diabo virá mostrar que esse deus não existe. Por quê? Porque ele nunca existiu de verdade, mas era apenas uma concepção distorcida. 

Você quer um deus que esteja a seu serviço, que faça as suas vontades, que faça os seus caprichos! Então, quando finalmente esse deus não faz a sua vontade, você o “mata”.

É exatamente isso que os fariseus estão fazendo. Os sumo sacerdotes, os anciãos do povo e os fariseus dedicaram a vida inteira a esperar o Messias, o Salvador que viria. E, quando o Salvador vem, não vem para fazer a vontade deles — Jesus não veio para servir aos fariseus e aos doutores da lei — e, por isso, eles quiseram matá-lo.

Eles inverteram as coisas. Ao invés de servirem a Deus, queriam um deus a seu serviço. A felicidade, para eles, não estava em Deus; mas em ter suas vontades realizadas por Deus.

Então, faça um exame de consciência. Você serve ao Deus verdadeiro ou inventou um deuzinho falso, um “gênio da lâmpada” para fazer suas vontades?

Qual é o Deus verdadeiro? O Deus verdadeiro é Aquele que é a “minha felicidade”. Deus não é alguém que vai me “dar” a felicidade. Deus é a própria felicidade; portanto, unir-me a Ele é a felicidade de nossas vidas. Eis o banquete das núpcias, eis o banquete do casamento. 

No final do Evangelho, o rei passa pelo salão do banquete e encontra um sujeito que não está vestido com a veste nupcial, São Jerônimo comenta a passagem, dizendo: “Essa veste é a caridade”, é o amor para com Deus. É isso o que nos faz encontrar a felicidade. A união com Deus! Eis a mensagem do Evangelho deste domingo. 

Portanto, de forma prática, o que nós precisamos fazer é tirar os empecilhos a essa união. Nós precisamos mudar o nosso coração para que possamos nos unir a Ele. Não é possível que um coração pecador e egoísta como o nosso se una ao Deus de amor e de misericórdia infinita. Não haverá união se, antes, o nosso coração egoísta não mudar.

Temos de mudar. Precisamos pedir isso a Deus, suplicando a graça de sermos transformados. Por quê? Porque somente assim estaremos prontos para o casamento, com nossas vestes nupciais. 

Então, ao nos aproximarmos do banquete eucarístico, cada vez que formos à igreja para comungar, aproximemo-nos de Jesus tendo nele a nossa felicidade. Deixemos de lado a ideia tola de um deus que está ao nosso serviço. Esse não é o Deus verdadeiro, o Deus cristão; esse é o deus dos pagãos.

As religiões pagãs são assim. Você procura uma “entidade” que vai fazer a sua vontade. Para isso, você faz um sacrifício, uma oferenda, é um meio de “comprar” a entidade, que, quando satisfeita, faz o que se lhe pede. Qual é a lei da religião pagã? “Seja feita a minha vontade, assim na terra como no Céu”. Mas qual é a lei da religião cristã? “Seja feita a vossa vontade de amor, porque Vós me amais, Vós quereis unir-vos a mim, e a minha vontade é que está atrapalhando essa união”.

Por isso, a necessidade da conversão: “Senhor, tende compaixão de mim. Transformai meu coração porque, se vós não vierdes mudá-lo com a vossa graça, eu não serei capaz de me unir a Vós”. 

Corramos para Deus, pois Ele tem pressa. Uma das coisas que mais chama a atenção neste Evangelho é a urgência escatológica. Ninguém age como o rei do Evangelho de hoje, que manda primeiro preparar a mesa e, só quando está tudo pronto, ele vai chamar os convidados. 

Por que o Evangelho diz isso? Porque quer mostrar o grande desejo de Deus e sua urgência. Deus tem pressa! A comida já está pronta. Está tudo preparado para que você venha.

Jesus, na Missa deste domingo, como aliás em todas as Missas, diz, como disse aos discípulos, conforme o evangelho de São Lucas (22, 15): “Desejei ardentemente celebrar esta páscoa convosco”. Ou seja, é como se Ele dissesse a nós: “Desejei ardentemente celebrar essas núpcias convosco. Desejei ardentemente me unir a vós, unir o meu Coração ao vosso”. Mas o Coração de Jesus não precisa mudar. Somos nós que precisamos mudar, porque somos nós que não queremos nos unir a Ele. Queremos apenas que Jesus seja nosso servo e realize os nossos caprichos. 

Na verdade, Ele precisa ser o nosso Senhor, e nós precisamos fazer a sua vontade. Somente assim o nosso coração se unirá ao dele.

Mais uma vez, neste domingo, temos a grande oportunidade de nos unirmos a Ele para viver o cristianismo, não como uma religião pequeno-burguesa, na comodidade de quem vai à Missa aos domingos mas não quer ser perturbado. Vivamos a verdadeira fé, que se concretiza na mudança do nosso coração. Porque somente o Deus de amor é a nossa felicidade.

Deus não é alguém que está ao nosso serviço para fazer a nossa vontade. Ele é o Deus de amor que quer se unir a nós. Ele não é um provedor que vai me “dar” uma felicidade; Ele é a própria felicidade. Somente unidos a Ele nas núpcias do Cordeiro, encontraremos aquilo a que o nosso coração anseia.

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