CNP
Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
Todos os direitos reservados a padrepauloricardo.org®

A prioridade de uma família

Se a prioridade de nossas famílias é o dinheiro, os bens materiais, as polêmicas da internet, a última moda, os conflitos políticos ou qualquer outra distração, algo muito grave acontecerá em nossos lares: nossos filhos serão órfãos de pais vivos.

Texto do episódio
00

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 2, 13-15.19-23)

Depois que os magos partiram, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: “Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise! Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”. José levantou-se de noite, pegou o menino e sua mãe, e partiu para o Egito. Ali ficou até à morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: “Do Egito chamei o meu Filho”. Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e lhe disse: “Levanta-te, pega o menino e sua mãe, e volta para a terra de Israel; pois aqueles que procuravam matar o menino já estão mortos”. José levantou-se, pegou o menino e sua mãe, entrou na terra de Israel. Mas, quando soube que Arquelau reinava na Judeia, no lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Por isso, depois de receber um aviso em sonho, José retirou-se para a região da Galileia, e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelos profetas: “Ele será chamado Nazareno”.

Neste domingo dedicado à Sagrada Família, a Igreja proclama o Evangelho de São Mateus, capítulo 2, versículos do 13 ao 15 e do 19 ao 23. Como católicos, cremos que a família é uma das coisas mais preciosas criadas por Deus, é uma espécie de síntese entre o mundo animal, biológico e o mundo espiritual. Sim, os animais se reproduzem, mas não são família, pois essa realidade implica uma dimensão espiritual, a alma, e o exercício da inteligência. As pessoas não conseguem mais enxergar isso, daí a destruição das famílias hoje em dia.

O primeiro passo para refletirmos a respeito da Sagrada Família é enxergar o básico: a realidade biológica. Isso porque infelizmente as nossas escolas e universidades ensinam aos nossos filhos que o ser humano é apenas um parente distante do macaco; como se fossemos só parte de uma longa cadeia evolutiva e, de modo geral, nós não nos diferenciássemos dos primatas. Ora, dizer isso é uma estupidez, porque a própria ciência mostra o contrário.

No livro “O Homem Eterno”, Chesterton fala que existem duas ideias horríveis que são a marca do mundo moderno: achar que o homem não é diferente dos animais e achar que Jesus é um homem qualquer. No ensaio, quando fala a respeito do homem, ele nos lembra que a primeira evidência arqueológica do “homem das cavernas” já mostrava o abismo que nos separa dos animais: pouco sabemos sobre os homens da pré-história, mas o que sabemos já é suficiente para afirmar que eles eram artistas. Sim, as cavernas dos tempos antigos estão cobertas por pinturas complexas e belíssimas retratando a vida. 

Geralmente, não pensamos nas coisas que nos diferenciam dos animais: por exemplo, eles não riem, não são capazes de dar uma boa gargalhada, pois isso é próprio do ser dotado de alma, de inteligência. Nós rimos porque conseguimos perceber o absurdo de uma coisa racionalmente inesperada; assim como ficamos vermelhos de vergonha quando surpreendidos em situação constrangedora. Os animais não são capazes desses feitos.

Sim, os animais também se reproduzem, mesmo assim eles não formam uma família propriamente, porque esta é uma realidade espiritual. Para ter família é preciso ser capaz de fazer aquela arte nas paredes das cavernas, de dar uma estrondosa gargalhada, de também ficar vermelho de vergonha. A família exige certos elementos espirituais que se alicerçam sobre uma base biológica. 

Uma marca característica dos nossos tempos é a tentativa absurda de criar novos arranjos, novos “tipos de família”: com dois pais ou duas mães; três pais e uma mãe; uma mãe e dois pais etc. Mas isso fere a própria base biológica da família: seres humanos pequenos precisam de seres humanos mais velhos para os alimentar, educar e proteger. Ora, essa realidade é refletida na própria Sagrada Família. 

E aqui está toda a grandeza da dimensão biológica da família. Jesus claramente tem um vínculo biológico com Maria — mas não com São José. Sim, Ele é Deus feito homem, mas Deus Pai quis que Jesus tivesse, assim como nós, um crescimento biológico; Jesus nasceu frágil, necessitando dos cuidados maternos. Não é porque Ele é Deus que já nasceu pronto para enfrentar a vida material. Jesus não pulou etapas. Se, desde o início, Nossa Senhora não estivesse ao lado do Menino Jesus, Ele teria morrido de fome; sim, Cristo é Deus, mas precisava que São José o protegesse quando, por exemplo, a Sagrada Família fugiu da fúria de Herodes. Com isso, vemos a beleza desse substrato biológico alinhado à missão espiritual da família. 

Infelizmente, vivemos numa sociedade que defende a ideia tresloucada de que os pais precisam trabalhar muito para entregar a educação dos filhos às escolas. Ou seja, os pais estão de fato entregando a alma dos filhos a terceiros, para que estes os eduquem; na prática, os pais estão entregando a salvação dos filhos para os funcionários do governo — mesmo que as crianças estudem em instituições particulares e confessionais, elas ainda assim estão submetidas às diretrizes do MEC, aos pedagogos revolucionários que são inimigos declarados da fé católica. Sim, os pais passam o dia trabalhando só para financiar esse sistema destruidor de almas. Ora, a coisa mais bela que uma família poderia fazer é educar os pequenos com as ideias corretas. Não importa se as crianças terão de ir para a escola ou serão instruídas no modelo homeschooling, o ponto é que só cumpriremos nossa missão de pais se dedicarmos tempo aos nossos filhos. 

E os pais católicos recebem uma verdadeira luz da Sagrada Família, pois José e Maria receberam Deus encarnado e, enquanto menino, Ele precisava ser acolhido nessa realidade biológico-espiritual que é a proteção, o cuidado da família. Sim, a Alma de Cristo tinha a visão beatífica, mas Deus Pai quis que o Menino Jesus aprendesse, por exemplo, a andar e a falar, balbuciando as primeiras palavras. Ele aprendeu tudo isso com aquelas pessoas com as quais conviveu na infância. Ora, se passamos o dia inteiro fora de casa, nossos filhos aprenderão a falar com a babá, a vovó, a tia da creche, com qualquer pessoa que esteja próximo a eles.

Percebendo isso, os revolucionários querem ter acesso aos pequenos o mais cedo possível, para justamente tirá-los do convívio com os pais na idade crítica dos primeiros anos. Daí o sistema de mercado fazer com que os pais trabalhem cada vez mais, só para pagar escolas cada vez mais caras, nas quais as crianças devem passar cada vez mais tempo. Antigamente, quando as crianças iam para a escola depois dos sete anos de idade, já era tarde demais para alterar o aprendizado do bem e do mal obtido da mãe — aliás, as pessoas se iludem ao achar que hoje, no mercado de trabalho, as mulheres são livres; a verdade é que elas se tornaram escravas do trabalho. 

Num texto publicado no livro “A superstição do divórcio e outros ensaios sobre a família, a mulher e a sociedade”, dos anos 1930, Chesterton analisa todo o contexto de promoção da mulher na cultura — a mulher aventureira, aviadora, exploradora etc. De forma muito perspicaz, ele lança a pergunta: “Antes as mulheres não eram capazes desses feitos e alguém duvidava disso?”. Para Chesterton as mulheres eram perfeitamente capazes dessas grandes realizações, mas antes elas não tinham tempo para cruzar os oceanos e escalar montanhas porque estavam ocupadas com algo mais importante: a educação dos filhos, o que a sociedade moderna e tirânica não pode aceitar. A mentalidade do mundo moderno jamais pode aceitar que as famílias continuem “pervertendo” as crianças com a fé católica.

Hoje, inclusive, há casos de casais católicos que, por serem “devotos demais”, são impedidos de adotar crianças pelos assistentes sociais. Mas nós que, além de sermos católicos também somos cidadãos, devemos mostrar à sociedade que cremos, sim, na família. Cremos que o ser humano precisa de educação, e a melhor mestra é a Igreja Católica. 

A verdade de Nosso Senhor Jesus Cristo está presente na sua Igreja. Daí ao longo dos séculos, a Igreja ter criado uma verdadeira rede de escolas, verdadeiros instrumentos da família para educar as crianças. Desgraçadamente, porém, as escolas se transformaram em instrumentos do Estado para a perversão dos pequenos. Hoje, se as famílias têm cada vez menos influência sobre as escolas, a Igreja tem menos ainda. 

Então, neste dia dedicado à Sagrada Família de Nazaré, o que significa afirmarmos que cremos na família? Significa que cremos que nossos filhos, trazidos à existência pela união natural entre homem e mulher, devem ser educados. Cremos que essa união foi elevada por Cristo à dignidade de sacramento, o Matrimônio, para que tivéssemos a graça de ensinar o caminho para o Céu aos nossos pequenos. Por isso, investir tempo para ensiná-los a trilhar esse caminho é o grande drama moderno, mas também é a maior missão das nossas vidas. Não temos aqui soluções práticas, porque cada um de nós deve criar tais soluções na realidade concreta das nossas famílias. Afinal, não basta só crer, precisamos demonstrar nossa fé. E para essa missão, não estamos sozinhos: temos a companhia da Família de Nazaré, que não só intercede por nós, mas nos dá a graça de levarmos nossos filhos para o Céu.

O que achou desse conteúdo?

Mais recentes
Mais antigos
Texto do episódio
Comentários dos alunos