CNP
Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
Todos os direitos reservados a padrepauloricardo.org®
Homilia Dominical
26 Nov 2015 - 27:10

O “princípio e fundamento” de nossa existência

Para quem já está caminhando na vida de fé, não basta fazer o certo. É preciso fazer as coisas certas também pelos motivos certos. Nesta breve pregação, Padre Paulo Ricardo ensina o "princípio e fundamento" de nossa existência. Para que estamos nesta terra? Qual o sentido da nossa vida, a razão pela qual existimos e trabalhamos?
00:00 / 00:00
Homilia Dominical - 26 Nov 2015 - 27:10

O “princípio e fundamento” de nossa existência

Para quem já está caminhando na vida de fé, não basta fazer o certo. É preciso fazer as coisas certas também pelos motivos certos. Nesta breve pregação, Padre Paulo Ricardo ensina o "princípio e fundamento" de nossa existência. Para que estamos nesta terra? Qual o sentido da nossa vida, a razão pela qual existimos e trabalhamos?
Texto do episódio

Texto do episódio

imprimir

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 

(Lc 21, 25-28.34-36)

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: "Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas. Os homens vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas. Então eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra. Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem".

O Evangelho deste domingo tem duas partes: a primeira (v. 25-28) fala do abalo deste mundo que passa; a segunda (v. 34-36), de como os homens devem preparar-se para a vinda de Cristo, não só no fim dos tempos, mas também no dia a dia.

No que pode ser considerado o núcleo do ensinamento dessa liturgia, Nosso Senhor adverte os Seus discípulos: "Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis (1) por causa da gula, da embriaguez (2) e das preocupações da vida" (v. 34).

A expressão grega βαρηθῶσιν, aqui traduzida como "insensíveis", está ligada mais propriamente à noção de peso, gravidade. Traz a ideia de um coração apegado à baixeza deste mundo terreno, inclinado às coisas desta vida – das quais, nessa passagem, Cristo cita duas, constituindo como que "dois estágios" de conversão: a primeira diz respeito aos prazeres da carne (κραιπάλῃ, no original); a segunda, às preocupações desta vida (μερίμναις βιωτικαῖς, no grego).

A "primeira conversão", por assim dizer, consiste em livrar-se dos pecados ligados aos sentidos. Qualquer pessoa íntegra e com o mínimo de virtudes humanas é capaz de perceber o mal em que se afundam as pessoas dependentes do álcool, viciadas em drogas ou obstinadas por sexo. Os seus maus hábitos as conduzem a uma condição pior que a dos próprios animais: estes, de fato, sendo só carne, estão satisfeitos vivendo de comer, beber e ter sexo; o ser humano, ao contrário, nunca se contenta simplesmente com prazeres carnais, porque a sua alma imortal tem sede de uma felicidade que só Deus pode preencher.

O primeiro passo de quem quer converter-se, portanto, é viver a virtude da temperança. Para isso serve a prática do jejum, vivamente recomendada neste tempo do Advento que se inicia.

Há, todavia, uma "segunda conversão", que consiste em ordenar os nossos esforços para o fim adequado. Não basta deixar as drogas, a bebida ou a prostituição, se não se entende a razão pela qual se deixa tudo isso. Não basta comportar-se bem, se se perde de vista a meta por que trabalhar. Ninguém se engane: a primeira etapa da conversão é muito importante, deixar os pecados mortais é essencial, mas não se pode ficar estacionado nisso, sob pena de que a moral cristã se transforme em um mero "moralismo" ou "código de etiqueta".

A analogia de Marta e Maria, contida no Evangelho de S. Lucas (10, 38-42), ajuda a ilustrar bem que são as "preocupações desta vida", de que devemos nos desprender. Ao cuidar da cozinha e dos afazeres da casa, Marta não está fazendo nada de ilícito, muito pelo contrário. Sua agitação, no entanto, denuncia a desordem em que se encontra a sua alma: mesmo fazendo coisas boas, ela acabou menosprezando "a melhor parte"; desligada da virtude da prudência, que ordena todas as coisas para o seu devido fim, a sua atitude tornou-se motivo de repreensão.

Daí a importância de fixar a meta, o "princípio e fundamento" de toda a nossa existência. O grande Santo Inácio de Loyola os definia assim:

"O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isto, salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para que o ajudem a conseguir o fim para que é criado. Donde se segue que o homem tanto há de usar delas quanto o ajudam para o seu fim, e tanto deve deixar-se delas, quanto disso o impedem." [1]

Que este tempo do Advento nos ajude em nossa "segunda conversão", a fim de que ordenemos todos os atos da nossa vida para o louvor, a reverência, o serviço de Deus e a salvação da nossa alma.

Referências

  1. Exercícios Espirituais, n. 23.
Material para Download
Texto do episódio
Material para download
Comentários dos alunos

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.